BRASIL

2º turno testa tamanho da força da família de Eduardo Campos em PE

A eleição de 2014, que começou tranquila para o PSB em Pernambuco, terminará desafiante. A legenda conquistou no primeiro turno o governo do Estado com 68% dos votos válidos, impulsionada pelo eduardismo – a força política do ex-governador Eduardo Campos, anabolizada por sua morte num acidente aéreo em 13 de agosto.

O desafio, neste segundo turno, é mostrar que o legado de Campos pode influenciar a campanha presidencial e impulsionar Aécio Neves (PSDB), ao qual o partido se aliou com a bênção de Renata Campos, a viúva do ex-governador, e dos filhos do casal. Antes, o clã tinha se unido ao PT em cinco das seis eleições presidenciais já realizadas.

Para tanto, o eduardismo precisa ir além do peso na disputa estadual e conseguir se colocar como adversário do lulismo – a força política do ex-presidente Lula, também pernambucano. Algo incerto, avalia o cientista político Adriano Oliveira, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

"Não existe esse enfrentamento automático", diz Oliveira. "O que eu tenho dúvida é se o eleitor votará confundindo a estadualização [em que o eduardismo teve peso] com a presidencialização da disputa. Se ele votar confundindo, existe a possibilidade de Aécio ter um bom desempenho. Se não, Dilma terá uma excelente votação, porque o eleitor tirará Eduardo [Campos] do julgamento e avaliará apenas Luiz Inácio Lula da Silva."

Para uma fonte do PSB pernambucano – que pediu anonimato para evitar rusgas internas -, o fato de Pernambuco ter sido um dos dois únicos Estados em que Marina venceu no primeiro turno, com 48% dos votos, prova que o legado de Campos teve e continuará tendo influência na disputa presidencial.

"É claro que no segundo turno, não se pode esperar que todos os votos [de Marina] sejam transferidos [para Aécio]. Mas sem dúvida a campanha que o PSB está fazendo e a força do legado de Eduardo vão conferir a Aécio um percentual bem maior que os 5,9% [obtidos pelo tucano no 1º turno]", diz.

O pessebista admite que a força de Lula em Pernambuco deve dificultar a transferência dos votos de Marina para Aécio. O movimento não será automático, reconhece o secretário-geral do PSB em Recife, Adilson Gomes.

"A questão de transferir, o eleitor é que vai decidir. Não se pode garantir que o mesmo percentual que teve Marina vá para o Aécio. [Mas] todo o conjunto do partido está mobilizado."

Gomes também pondera que o lulismo já não é tão forte no Estado. Afinal, o PT não fez nenhum deputado federal por Pernambuco; o candidato do partido ao Senado, João Paulo, foi derrotado por Fernando Bezerra, do PSB; Armando Monteiro (PTB), que contou com o apoio petista na disputa pelo governo, terminou 37 pontos atrás de Paulo Câmara (PSB); e Dilma Rousseff teve 44%, o pior desempenho do PT desde 1998 no Estado.

"O presidente Lula é uma pessoa que os pernambucanos admiram, que ajudou muito o Estado. [Mas] ele fez campanha para o nosso adversário e ele perdeu", diz Gomes. "Hoje as urnas demonstram a força política hegemônica do PSB no Estado e da figura do nosso ex-presidente Eduardo Campos."

Vitória de Dilma deve levar a reaproximação com o PT

O partido, porém, está preparado para uma reaproximação com o PT caso Dilma vença – e, principalmente, vença com larga vantagem em Pernambuco.

"O PSB de Pernambuco tem expectativa de que Aécio ganhe a eleição inclusive com uma votação bem mais substancial em Pernambuco", diz a fonte do PSB, que pediu anonimato. "Por outro lado, se não for Aécio, o PSB vai dialogar coma presidente Dilma. O que houve foram divergências com a política e o modo de governar adotado a partir de 2010."

Em aceno ao ex-aliado, Dilma disse na última terça-feira (21) em Recife que não retaliará o Estado em razão do apoio do PSB a Aécio. O tucano, por sua vez, afirmou na quarta-feira (22) que o governo federal tem segurado repasses a Pernambuco, e se comprometeu a ajudar em obras locais.

A reaproximação com o PT será o caminho natural para o PSB e e para família Campos como forma de conter a desidratação do eduardismo, no caso de vitória de Dilma, avalia Oliveira, da UFPE.

"Se eles [PSB] souberem conduzir caso Dilma vença, não vejo esse baque tão forte, mas ele vai ocorrer. Se houver ninguém capaz de construir a relação, aí o tombo será mais forte", considera o pesquisador. "[A família Campos] vai buscar o diálogo. É uma questão de se manterem vivos."

 

(Do iG) 


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