CEARÁ

Após devastação, moradores fazem plantio de mudas no Bom Jardim

Diante dos sete hectares de mata nativa destruídos por um trator e em meio à areia revolvida, as 80 mudas espaçadas de ipês, jacarandás e jucás pareciam quase tímidas. Puxada por movimentos socioambientais da área do Grande Bom Jardim, na Regional V, a ação comunitária de plantio na tarde de ontem, no Parque Urbano da Lagoa da Viúva, era de resistência ao desmatamento empreendido numa tentativa de invasão para moradia nos dias 22 e 23 de junho.

 Cerca de 50 voluntários, crianças, adolescentes e adultos, empunhavam ferramentas e baldes de água da lagoa logo ali. No trecho próximo à rua A, em que antes havia mata fechada, eles remexiam a terra árida na peleja de trazer algum alento de vida.


“Isso aqui, pra gente do Bom Jardim, é como o Parque do Cocó pra Fortaleza, é o único patrimônio verde que nós temos. Ver isso assim é uma tristeza”, contou Francisca do Nascimento, membro da Comissão de Moradia e Meio Ambiente da Rede de Desenvolvimento Local Integrado Sustentável (Rede Dlis), um dos movimentos que puxaram a ação.

Parque

Decretado parque, com 39,8 hectares e duas lagoas, pela Prefeitura de Fortaleza em novembro de 2015, a área segue sem a cerca verde. A reivindicação poderia, para Rogério Costa, integrante do Centro de Defesa da Vida Herbert de Souza (CDVHS) e da Rede Dlis, ter coibido a ação predatória. “Não adianta criar um parque no papel, só com um decreto, sem fazer um trabalho continuado de educação ambiental, de identificação da fauna e da flora, de proteção com a cerca verde e com equipamentos para uso comunitário”, opinou.

A retirada de sabiás, carnaúbas, mororós, marmeleiros e jucás aconteceu por dois dias, feita com um trator. Após a derrubada da mata, houve ainda queimada. Com a casa com vista para a área devastada, a dona de casa, Maria José dos Santos, 40, ainda se emociona ao lembrar dos pássaros e das raposas em fuga. “É uma dor enorme ver os bichos tendo de fugir do lar, queimados, em busca de abrigo. Era como ver morrendo um pedaço de vida”, rememorou.

De acordo com Rogério, outras áreas próximas que não fazem parte do parque sofreram com a tentativa de fixação para moradia, e desde então eles denunciavam à Secretaria Municipal do Urbanismo e Meio Ambiente (Seuma) que o parque estava vulnerável. A denúncia foi protocolada no Ministério Público do Ceará (MPCE) e, segundo Rogério, haverá reunião hoje na 2ª Promotoria do Meio Ambiente e Planejamento Urbano.

O Povo Online


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