CEARÁ

Após o cerco a ‘laranjas’, empresas e sócios “sumiram”

Na casa da rua Padre Sá Leitão, no bairro João XXIII, nenhuma pintura ou placa sinalizava ali como depósito e fábrica de confecções. Costumava ter caminhões parados, geralmente à noite, que traziam rolos de tecidos. Agora sem atividade nenhuma, só os vizinhos é que sabem do histórico do lugar. A mesma vizinhança não imagina que a ex-fábrica deve R$ 22 milhões de impostos ao Estado. Por baixo, a Secretaria Estadual da Fazenda (Sefaz) estima que a discreta empresa tenha movimentado mais de R$ 125 milhões em mercadorias em 14 meses.


Em 15 empresas apontadas pela Sefaz num esquema de sonegação no setor têxtil (ver quadro). Encontrou imóveis desocupados, placas de fachadas desfeitas, tentou localizar sócios por endereços de registro na Junta Comercial, quem foi achado não retornou ao contato feito. Desde que o Setor de Inteligência da Sefaz desvendou a fraude, empresas e sócios “sumiram”. O esquema abastecia de mercadorias o comércio popular de confecções da rua José Avelino e do Beco da Poeira, por exemplo.


No papel são descritas como mini-indústrias, juntas movimentaram R$ 1,012 bilhão em pouco mais de um ano e devem R$ 100 milhões em impostos. A Sefaz diz que tinham no papel sócios laranjas, mas teriam sido criadas e bancadas por dois empresários de renome local, como O POVO informou ontem (http://bit.ly/1NuTrvo). São tidos como os mentores desse rombo fiscal milionário.


Ontem, no programa O POVO Economia, na rádio O POVO/CBN, o secretário Mauro Filho confirmou que há mais duas empresas identificadas. A fraude se valia de liminares judiciais para não pagar o imposto logo que a mercadoria entrasse no Ceará. Prometiam em juízo pagar quando revendessem o produto, mas não o faziam.


O inquérito policial reforçará judicialmente a investigação da Sefaz, que analisou o período de novembro de 2013 a janeiro de 2015. O relatório da Sefaz, com nomes e endereços, já foi repassado ao delegado Paulo Cid, responsável pelo caso na Polícia Civil.


Morada modesta

Mais humilde ainda que a fábrica fechada no João XXIII é a casa no Conjunto Tupinambá Frota, no bairro Antônio Bezerra. Consta na Junta Comercial do Ceará como sendo a residência de um dos sócios de uma fábrica têxtil que deve R$ 16 milhões em impostos e teve faturamento, estimado pela Sefaz, de R$ 110 milhões em 14 meses.

As cifras destoam da morada modesta. A outra sócia da mesma empresa é ex-mulher do “sócio”. Mora na rua de trás e a descrição do imóvel, informado no contrato de sociedade da empresa, é similar. Tão ou mais simples.


Numa casa de vila no Jardim Iracema, informada em registros fiscais como sendo a da sócia da empresa do bairro João XXIII que deve R$ 22 milhões, lá moram seus pais. Que disseram não saber como localizá-la. Prometeram avisar, não houve retorno. O “sócio” dela mora numa rua no Mucuripe. Também não foi localizado. Trabalha como caseiro e foi indiciado num inquérito por homicídio, alguns anos atrás em Maranguape.

 

Multimídia

Secretário da Fazenda, Mauro Filho, explica o trabalho de investigação da Sefaz. Acesse: www.opovo.com.br/videos

Saiba mais


A distância

No levantamento do setor de Inteligência da Sefaz, os agentes do Setor de Inteligência identificaram, com fotografias, os endereços das empresas de fachada e onde alguns dos sócios apontados como laranjas indicaram morar. Por procedimento interno, não mantiveram contato direto com os investigados.

Fiscais e PMs

A Sefaz admite que a investigação pode chegar a agentes públicos. Entre eles podem estar fiscais fazendários, que facilitariam o alerta sobre operações de última hora, e policiais militares, atuando como seguranças dos empresários apontados como chefes do esquema. Os PMs trabalhariam em hora de folga. No caso dos fiscais, sustentados por propinas.
 

O POVO


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