BRASIL

Armando Monteiro garante aposta em exportações e acordo Mercosul-Europa

Por Walter Santos

Armando de Queiroz Monteiro Neto tem uma vasta experiência econômica. Em janeiro assumiu o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior do governo da presidenta Dilma Rousseff (PT). Monteiro é um recifense advogado, administrador e ex-presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), eleito senador por Pernambuco até 2014, quando concorreu ao governo de Pernambuco e perdeu para Paulo Câmara, o candidato do ex-governador Eduardo Campos. No Ministério Armando Monteiro tem privilegiado um política de retomada das exportações com ampliação do saldo da balança comercial. Na entrevista concedida à NORDESTE, o ministro revela estratégias econômicas para ampliar mercados e apesar de concordar com a queda no comércio de commodities afirma que o aumento do dólar tem compensado perdas econômicas na exportação. 

Revista NORDESTE: Ministro, chegamos ao final do ano de 2015 considerado por muitos como um “ano perdido”. Qual sua avaliação sobre os negócios do Brasil neste ano?
Amando Monteiro
: Em meio às dificuldades enfrentadas no mercado doméstico, apostamos no comércio exterior. Até o fim de novembro, a balança comercial alcançou o expressivo superávit de US$ 13,44 bilhões, revertendo o déficit alcançado em igual período de 2014, US$ 4,348 bilhões. Ampliamos os acordos com os países da Bacia do Pacífico, avançamos na agenda de convergência regulatória com os Estados Unidos. Ainda na minha posse no MDIC, afirmei que a agenda de ajuste fiscal, essencial para o reequilíbrio macroeconômico do País, não poderia ter efeito paralisante. E o Brasil se movimentou para ampliar o comércio exterior, que deu importantíssima contribuição para o ajuste externo. Não há como negar que vivemos um ano de grandes dificuldades. Mas confio que, ao fim desse período de ajustes, o Brasil possa retomar uma agenda de crescimento, que passa pelos investimentos (em especial com o plano de logística que o governo já lançou), o comércio exterior e a adoção de reformas microeconômicas que melhorem o ambiente de negócios para as empresas.

NORDESTE: Sem dúvidas, o câmbio e a retração econômica nos grandes países afetaram nossas Commodities. O senhor poderia fazer uma análise desses dois aspectos em torno da realidade brasileira com números?
Monteiro:
A queda nos preços das commodities trouxe, sem dúvida, uma nova realidade. A desaceleração da economia em países compradores importantes, especialmente a China, ocasionou uma diminuição expressiva na demanda, o que colocou fim ao período de “boom” das commodities, do qual o Brasil se beneficiou na última década. Hoje, apesar do aumento dos volumes exportados de minério de ferro, petróleo e derivados e complexo soja, a receita gerada com a venda desses três importantes produtos teve queda acentuada no acumulado até outubro: respectivamente, -49,7%, -23,8% e 50,2%. Para ter uma ideia desse impacto, se considerarmos os preços de 2014 para as quantidades exportadas em 2015 apenas para esses produtos, teríamos uma receita adicional nas exportações de US$ 33 bilhões. Por outro lado, a taxa de câmbio que em um ano desvalorizou cerca de 50%, aumenta a rentabilidade em reais dos exportadores de commodities e compensa a queda dos preços.

NORDESTE: A nossa Balança Comercial, em síntese, tem sido afetada pela alta do dólar. Quem conseguiu ser menos afetado?
Monteiro:
O fim do longo período de apreciação cambial trouxe fôlego para as exportações brasileiras. Chegamos ao fim de novembro com um superávit de 13,4 bilhões de dólares. É importante realçar que no ano passado o resultado foi um déficit de quase 4 bilhões. Até o momento, tivemos um aumento de 9% das quantidades embarcadas. Esse aumento é quase o triplo do crescimento previsto pelo FMI para as exportações mundiais para o ano, que é de 3,1%. Temos, portanto, apesar da queda do preço das commodities, um superávit muito importante na balança comercial em 2015.

NORDESTE: Objetivamente, quais as políticas adotadas pelo Ministério para atenuar a adversidade conjuntural dos negócios brasileiros em 2015?
Monteiro:
Fazemos uma grande aposta nas exportações. Em um momento de dificuldades do mercado interno, a contratação de demanda externa é um caminho irrecusável para retomada do crescimento. Por isso, em junho já lançamos o Plano Nacional de Exportações, que trabalha para abrir novos mercados para produtos brasileiros e aumentar o número de empresas exportadoras. E devo realçar que já registramos avanços importantes. Com os Estados Unidos, nosso principal mercado para manufaturados, os entraves são basicamente as barreiras não-tarifárias. Por isso, trabalhamos em uma agenda de convergência regulatória e harmonização de normas técnicas, que irá beneficiar, no curto prazo, setores como têxtil, cerâmica, máquinas e equipamentos, luminárias e refrigeração. Já logramos a renovação ou assinatura de novos acordos automotivos com a Argentina, México, Colômbia e Uruguai e estamos descongelando os cronogramas de desgravação tarifária com os Países da Bacia do Pacífico, que irá ampliar o acesso a esses bens. Já registramos um aumento no número de automóveis exportados de cerca de 10% – especificamente para o México, por exemplo, esse incremento chegou a mais de 70%. Outros setores importantes, como têxtil e calçadista, também começam a perceber reação das vendas externas. E, depois de muito tempo congeladas, as negociações para o acordo Mercosul – União Europeia foram retomadas e esperamos, em breve, iniciar a troca de ofertas.

NORDESTE: O que o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio tem programado como política de incentivos à superação para 2016?
Monteiro:
Além do comércio exterior, que deve ser uma política permanente, esperamos que a estabilização da economia e o fim do período de ajustes possa dar a oportunidade de discutirmos uma nova política industrial. Já dialogamos com vários setores da indústria, acadêmicos e associações para colher subsídios e sugestões e estamos bem próximos de uma proposta. O governo já está examinando também a adoção de uma série de reformas de redução do impacto fiscal que proporcionem melhoria no ambiente de negócios para as empresas, com aperfeiçoamento de questões regulatórias e diminuição de burocracia e obrigações acessórias. Essa agenda é fundamental, e espero um avanço rápido na sua implementação.

NORDESTE: A Argentina acaba de eleger novo presidente de posição política diferente da presidenta Cristina Kirchner. Na sua opinião, o diálogo comercial vai piorar ou melhorar?
Monteiro:
As primeiras declarações do presidente eleito foram muito convergentes com as medidas que o Brasil já vem adotando em termos de comércio exterior e reforçaram a importância da parceria entre os nossos países. Ele apoiou de forma veemente o acordo Mercosul-União Europeia, ressaltou a importância da aproximação com os países da Bacia do Pacífico e reafirmou a parceria estratégica com o Brasil.

NORDESTE: Como andam as relações do Brasil com os países da América do Sul?
Monteiro:
O comércio regional tem e continuará tendo um peso essencial para o Brasil. Buscamos, em 2015, estreitar ainda mais as relações com os nossos vizinhos. Não apenas fortalecendo o Mercosul, mas buscando uma aproximação com os países da Bacia do Pacífico, como já mencionei.

NORDESTE: E os Estados Unidos, grande parceiro, como andam nas relações bilaterais de negócios?
Monteiro:
A primeira viagem que fiz logo ao assumir como ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, foi aos Estados Unidos, justamente por enxergar o caráter estratégico dessa relação, em especial nesse momento em que a economia norte-americana dá sinais consistentes de recuperação. Os Estados Unidos são, por exemplo, o principal destino das nossas vendas de produtos manufaturados e temos muito espaço para crescer esse comércio. A agenda de convergência regulatória e harmonização de normas técnicas, que eu citei anteriormente, já avançou bastante e logo começaremos a colher os frutos.

NORDESTE: Neste patamar, o que dizer e esperar da China, Rússia e Europa?
Monteiro:
China e Rússia são nossos parceiros nos BRICS, um grupo que este ano evoluiu para constituição de um banco de investimentos. Esperamos grande participação da China, por exemplo, em obras de infraestrutura no Brasil, como foi anunciado durante a visita do primeiro-ministro chinês ao nosso país. Com a Europa, trabalhamos muito para avançar as negociações de um acordo de livre comércio, nesse caso com o Mercosul. Fechamos uma oferta do bloco sul-americano e esperamos, em breve, iniciar a troca de ofertas.

NORDESTE: Como seu Ministério tem olhado e construído novidades para o Nordeste Brasileiro, os nove estados nordestinos?
Monteiro:
O Plano Nacional de Exportações tem como um dos seus principais objetivos ampliar e diversificar a origem das novas exportações. Nesse sentido, relançamos, em novas bases, o Plano Nacional de Cultura Exportadora (PNCE), o braço regional do PNE. Essa é uma iniciativa realizada em conjunto com os estados da Federação e com a colaboração de instituições privadas com o propósito de informar, capacitar e preparar as empresas para as exportações. Nesse sentido, a região Nordeste é prioritária, pois identificamos grandes potencialidades em cada um dos seus estados, que podem transformar as exportações como fonte de geração de emprego e renda. Os empresários participantes do programa contam com apoio para elaboração de diagnóstico de produtos e serviços, consultoria de inteligência comercial (que avalia em quais mercados aquele produto ou serviço tem potencial de venda), participam em missões comerciais e rodada de negócios com compradores estrangeiros. A nossa perspectiva é lançar em todos os estados nordestinos o comitê estadual que irá coordenar as ações previstas no PNCE.

NORDESTE: O senhor vai participar da sucessão de 2016? Como se posicionará em Recife, por exemplo?
Monteiro:
O nosso partido poderá lançar candidato em Recife, mas isso será discutido com os partidos que participam da frente de oposição. É possível, por exemplo, adotar uma estratégia de múltiplas candidaturas desses partidos da frente.
 


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