BRASIL

Colunista Delfim Neto faz avaliação de relatórios sobre economia brasileira

O professor emérito da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP) e ex-ministro da Fazenda, Agricultura e Planejamento, em sua coluna fixa na Revista NORDESTE, comentou sobre a recente avaliação dos Estados Unidos sobre a situação econômica brasileira. Confira abaixo a coluna na íntegra. 

O Banco Central dos Estados Unidos enviou ao Congresso americano, no dia 11 de fevereiro, o seu habitual relatório de início de ano sobre política monetária, o “Monetary Policy Report”, divulgado mundialmente. O documento incluiu um enigmático capítulo denominado “Estresse Financeiro e Vulnerabilidade nas Economias Emergentes”, onde foram relacionados 15 países (dentre eles o Brasil), tidos como os mais vulneráveis aos efeitos do programa americano de “enxugamento monetário” que o Federal Reserve iniciou no terceiro trimestre do ano passado.

O estudo não dá detalhes de como foi calculado o tal “índice de vulnerabilidade”, informando apenas que foi construído com base em seis indicadores, mas sem revelar a receita de como eles foram combinados num único indicador. Trata-se, na verdade, de uma mixórdia de documento, porque mistura os índices, não mostra como foram apurados ou construídos e, no final, a ponderação provavelmente é subjetiva. Sem esclarecer como o indicador final foi obtido, apenas aponta que o Brasil é o penúltimo da classe e depois compara tudo isso com o nível da desvalorização cambial. Nenhum país desenvolvido é relacionado.

Só sabemos que na montagem dos índices Taiwan tem nota 4, a Turquia tem nota 12,5 e o Brasil é listado como a segunda economia “mais fragilizada” dos emergentes, com nota 12… Não se dá nenhuma informação sobre a questão principal: a “Vulnerabilidade” existe em relação a que? À ameaça de um default? A uma crise no balanço em conta corrente? À perspectiva de uma tragédia fiscal? A uma “parada súbita” do movimento de capitais? E afinal, a flutuação cambial é um ajuste ou um pecado na política de câmbio flutuante? Se mudar a ponderação dos fatores ou a época que escolhe para a desvalorização cambial, o resultado será diferente. Os Estados Unidos, com uma dívida pública de 106% do PIB e sob a ameaça de um default – que conseguiu adiar pela diferença de um único voto no Congresso – estariam numa posição mais vulnerável que o Brasil, cuja relação Dívida Pública/PIB é menor que 60%.

Alguns emergentes são relacionados por causa de seus déficits em conta corrente, omitindo-se que nos desenvolvidos: a Grã Bretanha tem déficit de 3.8% do PIB; o Canadá, de 3,4%; os Estados Unidos de 2,7%, enquanto o déficit do Brasil é de 2,4%. As inconsistências do documento permitem uma conclusão quase inacreditável, em se tratando da responsabilidade do maior banco central do mundo: não foi feito um trabalho sério na construção dos tais índices de vulnerabilidade. Não há nada de “ciência” neste intrigante capítulo do Monetary Report enviado ao Congresso americano no dia da primeira apresentação de Janet Yellen como presidente do Federal Reserve. Só que, da mesma forma que as expectativas geradas pelas agências de “rating”, ele terá consequências. E elas são, geralmente, desagradáveis.

Foi correta por isso a atitude do presidente do nosso Banco Central, Alexandre Tombini, de reclamar a Yellen da irresponsabilidade do FED de dar palpites sobre o Brasil…
 


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