BRASIL

Com mega estrutura montada, João Pessoa realizou “melhor IGF de todos”

Por Paulo Dantas, Pedro Callado e Luan Matias

A cidade de João Pessoa, na Paraíba, recebeu de 09 a 13 de novembro o 10º Fórum de Governança da Internet (IGF), o evento acontece anualmente e foi realizado pela segunda vez no Brasil. Durante uma semana a cidade nordestina se tornou a capital mundial da internet. Pelo Centro de Convenções de João Pessoa circularam cerca de 6 mil pessoas, entre palestrantes, participantes, jornalistas, empresários, embaixadores, ativistas, curiosos, a Organização das Nações Unidas (ONU), o Comitê Gestor da Internet do Brasil (CGI), e o Governo do Estado da Paraíba. Foram mais de 3 mil participantes de 116 países. No total, 1.338 pessoas trabalharam no evento, entre funcionários e voluntários nacionais. Um total de 174 jornalistas e outros comunicadores cobriram o evento.

No Fórum estiveram estrelas como um dos criadores da internet, Vint Cerf, atual segundo homem da Google, e o vice-presidente da multinacional Cisco, Robert Pepper (confira entrevista nas páginas azuis). Também o secretário-geral assistente da ONU para o Desenvolvimento Econômico, Lenni Montiel.
A presidenta Dilma Rousseff (PT), foi representada pelo ministro das Comunicações, André Figueiredo (PDT), mas fez uma saudação virtual na abertura do evento.

“A internet só é possível em um cenário de respeito aos direitos humanos, a liberdade de expressão, a neutralidade na rede, a diversidade, a universalidade, a segurança, e a proteção da privacidade e dos dados de todos. É necessário o esforço conjugado de todos para que possamos avançar no desenvolvimento de uma sociedade de inclusão digital, esse é um compromisso de meu governo, que será implementado por meio do programa Banda Larga Para Todos”.
As discussões giraram em torno de políticas públicas “digitais” e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), parte da chamada Agenda 2030. Estiveram em pauta ainda o desafio de como conectar mais um bilhão de pessoas à internet nos próximos anos, tanto a questão prática desse desafio, com a mudança do IPv4 (endereços da internet), quanto questões econômicas e de democratização de acesso.

Outros temas também foram abordados, entre eles questões que envolvem a internet e o terrorismo, a segurança na rede de computadores, acossada com roubo de dados cadastrais e senhas, spams, vírus e malwars. E o que fazer com as contas da internet após o falecimento.

A questão do zero-rating – serviços gratuitos oferecidos por plataformas como Facebook e Google, e partes gratuitas de serviços como Netflix, Spotify, Dropbox gerou um fórum acalorado onde palestrantes e plateia ora se mostravam a favor, ora contra. A dúvida é quanto esses produtos são realmente gratuitos. Para o terceiro setor e para os jovens em geral, que lotaram as salas dos fóruns e a internet ao redor do globo para acompanhar o evento, o Fórum é uma janela aberta para trocar experiências e entender melhor o que está acontecendo com e na rede mundial. Ao final, a 10ª edição que marcaria o último IGF deixou a promessa que precisa continuar e já tem um país escolhido: o México. Mas a decisão só será anunciada pela ONU em dezembro.

 

Mega Estrutura

O IGF foi realizado no Centro de Convenções de João Pessoa e contou com uma mega estrutura para dar apoio aos participantes. As quatro redes de telefonia (Oi, Vivo, Tim e Claro) aportaram no local unidades móveis para facilitar conexões e ligações, enquanto o Governo do Estado disponibilizou 10 gigabits para acesso gratuito durante o evento.

No estacionamento do Centro de Convenções, a Google montou uma espécie de lounge com sofás, tvs, ar-condicionado, drinks e representantes do gigante da internet no local, como Patrick Ryan, do conselho de relações internacionais da Google, para atender aos visitantes. Na entrada do Centro de Convenções foram montadas barreiras onde os visitantes tinham que passar, assim como seus pertences, por raio-x e scanners.

O Fórum contou com 11 salas para reuniões. Uma grande para até mil pessoas e dez salas pequenas, que comportavam entre 50 e 200 pessoas. Um escritório para 20 pessoas da ONU, um pequeno hospital, com enfermaria e atendimento médico. Além disso, uma equipe do Samu ficou de prontidão na área externa do Centro todos os dias do evento. Ainda foi montada uma pequena gráfica com várias copiadoras.

O Fórum ainda contou com dois restaurantes, um de dois mil lugares e outro para 200 pessoas, dentro do Centro de Convenções. Foram entregues três mil refeições por dia. Nos dois coffee breaks servidos durante todos os dias do evento foram utilizados 1,5 toneladas de frutas e 600 quilos de café em pó.
No total 500 pessoas deram apoio ao evento, entre enfermeiras, bombeiros, policiais. Toda a equipe de segurança do governador foi disponibilizada para trabalhar disfarçada durante o Fórum. Cerca de 30 hotéis, além de serviços de transferes e táxis foram acionados.

Em termos de investimentos foram injetados no estado com o evento mais de R$ 20 milhões. No entanto o evento como um todo custou cerca de R$ 9 milhões contados aí investimentos feitos pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil e pela Organização das Nações Unidas. A estrutura foi elogiada por participantes, visitantes e pelo staff de playeres presentes.
 

Tradução simultânea em até oito idiomas

Um daqueles trabalhos de bastidores, fundamental para a plena realização de um evento global e que passa despercebido em meio aos participantes é o da tradução simultânea. Em cabines de transmissão montadas no fundo das salas, uma equipe de 23 pessoas traduziram as conferências realizadas no ambiente principal e na sala 10. A tradução foi feita em até oito idiomas – os seis oficiais da ONU (Inglês, espanhol, francês, chinês, russo e árabe), mais o português e o japonês, durante a participação de um ministro do país asiático. 

A cada dia, os participantes recebiam um fone de ouvido para acompanharem os debates realizados nos fóruns na língua que desejasse e devolviam o equipamento, ao final da dia, para a maratona seguinte. 

Os interpretes tinham suas traduções transmitidas para os participantes presentes no evento e também eram ouvidos pela internet, nas transmissões online para ouvintes fora do evento, do Brasil e do exterior. Assim, embora não houvesse pessoas no próprio evento ouvindo a tradução em chinês ou russo, havia gente de todo o mundo acompanhando pelo streaming. 

A coordenadora da equipe de tradutores, Patrízia Coppola, destacou a complexidade do trabalho desenvolvido em um evento deste porte. “Não recebemos nenhum material antecipado. Tudo é muito confidencial e não tem como passar nada antecipadamente. É um evento difícil. Não é só internet, são os meandros jurídicos. É difícil traduzir do português brasileiro para o inglês jurídico”, informa. 

 
Encerramento

"O IGF 2015 foi o melhor IGF de todos", declarou Vint Cerf, vice-presidente de evangelização do Google, durante o encerramento do Fórum em João Pessoa. A cerimônia teve a participação de Hartmut Glaser, Secretário Executivo do CGI.br, José Antonio Marcondes de Carvalho, embaixador do Ministério das Relações Exteriores, Ivan Koulov, das Nações Unidas, Ricardo Coutinho, governador da Paraíba, Chris Painter, do Governo dos Estados Unidos, Izumi Okutani, do Centro de Informação e Rede do Japão, Nadine Moawad, da Associação para Comunicação Progressiva e Programa de Direitos Sexuais, Jimson Olufuye, da Aliança de Informação & Tecnologias de Comunicação da Africa, e Kimberly Anastácio, jovem de 20 anos do programa Youth@IGF.

Promovido pelo CGI.br e a Internet Society (ISOC) com o objetivo de fortalecer a participação e o protagonismo dos jovens no debate sobre a governança da Internet, o Youth@IGF promoveu o encontro de 73 jovens de 18 a 25 anos da região da América Latina e Caribe em cursos online, trilhas de discussão e bolsas de participação para o IGF. "Queremos contribuir para que essa geração possa conversar sobre governança da Internet e romper barreiras. As lideranças não nascem prontas, estamos formando os líderes de amanhã", declarou Glaser, em vídeo sobre o Youth@IGF exibido no encerramento do evento. Ao final, Yolanda Martínez, do Governo do México, fez as últimas considerações sobre a receptividade do país para o próximo IGF, caso o mandato seja renovado durante reunião que acontecerá em dezembro.
 


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