BRASIL

Comissão da Verdade mostra detalhes de como funcionava tortura na ditadura

Investigações conduzidas pela Comissão Nacional da Verdade (CNV) já começam a traçar os modos de tortura executados contra militantes de esquerda durante o Regime Militar. Nesta semana, foi divulgado o primeiro laudo da Comissão com a comprovação material dos modos e técnicas de tortura utilizados pelos militares durante os anos de chumbo.

A CNV divulgou o laudo relacionado à morte do ex-integrante da Aliança Libertária Nacional (ALN) Arnaldo Cardoso Rocha. Arnaldo, por esse laudo, foi assassinado após ser espancado por agentes da repressão. Até então, a versão oficial era que Arnaldo havia sido morto em uma troca de tiros em 1973.

Nos laudos, a CNV afirma que Arnaldo foi vítima de uma técnica de tortura chamada “falanga”, na qual a vítima recebe vários golpes por “instrumentos contundentes” (possivelmente com canos, madeiras ou qualquer material que cause lesões no corpo) nas mãos ou pernas até perder a sensibilidade na área. A intenção dessa técnica é não dar qualquer oportunidade de reação da vítima.

Em vários depoimentos prestados à Comissão Nacional da Verdade neste ano, militantes de esquerda já afirmaram terem sido vítimas dessa técnica de tortura. Os depoimentos apontam que além de terem sofrido espancamentos, os ex-militantes também recebiam choques elétricos nos porões do Doi-Codi. Delegados e agentes do Doi-Codi, como o delegado Aparecido Calandra, conhecido nos porões da ditadura como Capitão Ubirajara, por exemplo, negam esse tipo de postura.

DOI-Codi: Delegado nega torturas e até que conhecia superior hierárquico

Segundo o perito da CNV, Celso Nenevê, as informações relacionadas ao laudo do ex-militante de esquerda dão indicativos de um procedimento padrão adotado pelos militares durante o Regime Militar. Os legistas acreditam que normalmente os militantes de esquerda ficavam amarrados de pé e espancados. Depois, eles eram colocados no chão e em seguida executados com vários tiros. Principalmente na clavícula e cabeça.

“Em outras investigações de mortes de militares de esquerda, antes mesmo da CNV, os laudos revelaram um comportamento semelhante. Mas agora temos condições de começar a estabelecer um padrão em todas as mortes”, afirmou Nenevê.

Segundo informações de integrantes da Comissão Nacional da Verdade ouvidos em caráter reservado pelo iG, as comprovações materiais dos atos de tortura cometidos por agentes da ditadura reforçam os depoimentos prestados pelas vítimas até o momento.

Tem chamado a atenção dos técnicos da CNV em laudos como o de Arnaldo Rocha a violência com que as vítimas eram torturadas. Na ossada de Arnaldo Rocha, por exemplo, apesar de passados 40 anos de sua morte, ainda encontrados resquícios de sangue. Isso, conforme os peritos, apenas confirma a violência com a qual ele foi torturado. Também tem surpreendido os legistas a simetria das lesões, tanto do lado direito, quanto do lado esquerdo do corpo.


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