BRASIL

Desmatamento e poluição: uso ilegal de madeira é destaque na NORDESTE

No São João, com tantas fogueiras acessas nas calçadas, tem muita gente que se incomoda com o cheiro da fumaça que paira no ar, além dos fogos de artifício que fazem barulho durante toda a noite. Mas o que a população vê em uma noite, acontece o ano inteiro. Madeira ilegal é usada como combustível em grandes fábricas e poluem o ar diariamente. Confira a matéria da Edição 116 da Revista NORDESTE e entende o que acontece:

Crime contra a Natureza

Venda de madeira ilegal no Nordeste coloca em risco bioma da Caatinga

Por Pedro Callado

O São João passou. É uma época de festejos e de celebrar tradições regionais, com muita música e dança. Em muitas cidades do Nordeste o São João é uma festa maior do que o Carnaval. Não é a toa que a cidade paraibana Campina Grande e a pernambucana Caruaru disputam todos anos para ver quem realiza o “Maior São João do Mundo”. Mas não são apenas festas promovidas pelos estados que acontecem nessa época. O povo faz a própria festa e respeita as tradições da data. Neste ano de 2016, assim como nos anos anteriores, milhares de famílias em toda a região Nordeste montaram e acenderam fogueiras em seus quintais ou calçadas. Mas nem todos gostam das festividades ou de algumas tradições. O número de fogueiras acessas em uma única noite acaba cobrindo a cidade com um véu de fumaça, fato que incomoda muita gente por diversas razões. Além do cheiro e da visibilidade, é fumaça pode ser prejudicial para pessoas com problemas respiratórios e também animais.

Outro ponto importante que é criticado por alguns é o fato da fumaça das fogueiras ser um forte poluente ambiental. Mas o buraco é mais embaixo, bem mais embaixo.
A Revista NORDESTE conversou com o analista ambiental do Ibama, Marco Vidal, para entender melhor quais são os danos causados ao meio ambiente pelos festejos juninos e o fato é que o que acontece no São João é dos males o menor. “O consumo é grande por uma noite e vem para área urbana. Fica mais evidente. Mas esse não é o maior problema, a gente consome lenha o ano inteiro, existe muita dependência da lenha e do carvão para matriz energética”, aponta. Em resumo, o que é consumido de lenha no São João não chega aos pés do que a indústria, seja agroindústria, mineração ou geração de energia elétrica, consome diariamente. A questão é que o São João traz a fumaça para a porta da nossa casa, e isso pode trazer um mal direto. Mas o uso de lenha nas indústrias, mesmo que longe das casas, causa um dano muito maior para a vida de todos.

Não é só a poluição causada pela fumaça. É a origem da madeira. Quando o pai da família sai em busca de um punhado de lenha para fazer uma fogueira, ele se preocupa de onde vem aquela madeira? Segundo Vidal, a madeira comercializada no São João, em sua maioria, não passa por fiscalização e provém de desmatamento ilegal. A mesma situação se repete em relação à madeira consumida na indústria. “Deveria ter fiscalização, em grande parte a madeira é ilegal, não há controle, não há fiscalização. Fizemos um levantamento em 2010 e de lá para cá praticamente não houve fiscalização. Parou, simplesmente parou, e essa lenha é tirada de qualquer lugar, especialmente da Caatinga, porque infelizmente ainda é legal desmatar a Caatinga. Na Mata Atlântica não é mais possível, mas ainda assim persiste o desmatamento da Mata Atlântica”.


 

E aí surge mais um problema. Vidal lembra que o desmatamento desmedido de uma região como a Caatinga pode trazer consequências desastrosas para a população do semiárido nordestino. A Caatinga é a principal vegetação do clima semiárido. “Talvez por ser uma região menos arborizada e semidesértica, os órgãos competentes pensam que não faz mal tirar algumas árvores, como se não fosse fazer falta. Mas já é fato comprovado, por diversos cientistas, que a destruição da vegetação de uma região pode gerar um processo de desertificação e aí, ao invés de um semiárido, teríamos uma aridez total, sem água e sem vida”.

Com a pouca fiscalização, tanto da venda de madeira em diversos estados, como no desmantamento desmedido em certas regiões, e a falta de novas medidas políticas que determinem um uso mais consciente da madeira, os riscos para um processo de desertificação são reais.

Vidal defende que o uso da madeira tem que ser responsável. “Eu acho que fundamental é o processo educativo, a gente tem que ter educação ambiental e tem que ter fiscalização. Mas deveria ter um esforço conjunto”. O analista sugere que os órgãoes de Saúde monitorem o aumento de doenças respiratórias e faça um levantamento relacionando com fumaça de fogueira e fogos, por exemplo. 

O Reveillon e o calor no Sudeste

Segundo cientistas norte-americanos, é possível que gases emitidos pelos fogos de reveillon em São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerias, tenham produzido uma zona de alta pressão e inversão térmica (catalisados pelas ilhas de calor dos grandes centros urbanos) suficientemente capaz de impedir o avanço das massas de ar do sul do Brasil e da zona de convergência intertropical para o Sudeste gerando esse calor atípico.

A cidade de Curitiba, capital do estado do Paraná, não promove eventos públicos na virada do ano. “Este tipo de evento depende de muito investimento, que hoje são revertidos para melhoria dos serviços aos cidadãos”, informou a Prefeitura da cidade.

 

 

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