BRASIL

Dilma e Levy: quem precisa de quem? Bastidores do superavit fiscal

Ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e a presidente da República, Dilma Rousseff: quem precisa de quem?

Que a presidente Dilma Rousseff não reza na cartilha do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, todo mundo sabe. Assim como todo mundo sabe que o ministro também não bebe na fonte dos teóricos esquerdistas da presidente.

O ministro fez-se PhD por um dos principais centros formadores de economistas liberais do mundo: a Universidade de Chicago. E a presidente, bem… Dilma quase morreu nas mãos de torturadores em defesa das teses socialistas, e continua achando que é preciso um Estado forte para dar freio ao chamado “espírito selvagem” dos capitalistas.

Grosso modo, liberais defendem com unhas e dentes os cortes de gastos do Estado. Neo-socialistas como Dilma, nem tanto.

A esquerda vê mesmo com bons olhos investimentos maciços do Estado, por exemplo, em infra-estrutura. Liberais preferem investimentos da iniciativa privada.

Esse preâmbulo todo é para explicar qual foi, de fato, o desentendimento entre Dilma e seu ministro da Fazenda na discussão sobre a diminuição da meta de superavit fiscal.

Levy nunca viu com bons olhos mexer na meta. Sempre viu essa discussão como uma estratégia da ala mais à esquerda do governo para não precisar cortar gastos do Estado.

Numa das últimas reuniões da Coordenação Política do Palácio do Planalto, deixou clara sua irritação quando o líder do governo no Senado, Delcídio Amaral (PT-MS), contou que o senador Romero Jucá (PMDB-RO) havia proposto emenda ao projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) dimuindo a 0,4% a meta de superavit primário para 2016.

“Esse assunto não está em pauta”, resmungou Levy.

Estava sim. Havia até desconfiança de que Jucá elaborara a proposta acertado com integrantes do governo. E o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, passou a defender publicamente a flexibilização da meta, pelo sistema de bandas. Levy estrilou também contra essa proposta.

O fato é que as pressões para diminuição da meta acabaram envolvendo a presidente Dilma na discussão com um argumento irrefutável: a arrecadação de impostos caiu drasticamente e as previsões para o futuro próximo não são de recuperação.

Ou se diminuía a meta de superavit ou se adotava a proposta de flexibilização Nelson Barbosa.

Ora, Levy não queria nem ouvir falar em flexibilização, depois de ter sido derrotado na última definição do corte do Orçamento da União, quando defendia algo em torno de R$ 70 bilhões a R$ 80 bilhões e, só por teimosia, Dilma mandou Barbosa anunciar R$ 69,9 bilhões. Lembra? levy nem compareceu àquela entrevista coletiva de anúncio do novo Orçamento.

Agora, lee adotou nova estratégia: Está bem, querem corte na meta de superavit? Então vamos na letra fria dos números. O corte terá que ser drástico, de 1,13% , precisaremos diminuir muito mais, para 0,15%.

Foi o ministro Levy quem propôs os 0,15%, por incrível que pareça. Mas ele estava na expectativa de que, com isso, se desistisse de falar e diminuição do superavit dentro do governo.

Que nada! Dilma aceitou.

Mas a presidente impôs uma condição que, esta sim, irrita um liberal como o ministro da Fazenda:

Superavit de 0,15%, mas com um corte mínimo nos gastos do governo que, segundo seu ministro da Casa-Civil, Aloizio Mercadante, já estão “no osso”.

Ou seja: Levy impôs o novo valor do superavit, e Dilma impôs que fosse com um corte mínimo nos gastos do governo (no final ficou em apenas cerca de R$ 8 bilhões).

Nenhum dos dois saiu plenamente satisfeito. E cada um acreditando, nos bastidores, que o outro não sobreviveria sem o primeiro.

Mas quem precisa mais de quem?

Se Levy deixa o governo, Dilma sofre um grande baque. No entanto, talvez haja outros liberais por aí dispostos a assumir imediatamente e acalmarem o mercado.

E quanto a Levy? Bem, também sofre um baque, voltando à sua vidinha simples na gestão de ativos do Bradesco, quando já teve sonhos de salvar a economia do país. Mas, cá para nós: a vidinha num banco não é tão simples assim…

IG

Blog do Tales


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