BRASIL

Dilma e Temer disputam “centrão indeciso”

A presidente Dilma Rousseff e o vice Michel Temer disputam o apoio de um grupo expressivo de deputados que ainda está hesitante entre apoiar ou não o impeachment da petista. Esse segmento é uma espécie de “centrão indeciso devido à conveniência de esperar que benefício obterá de um lado ou de outro”, diz um ministro.

A contabilidade dos favoráveis e contrários ao impeachment na Câmara varia de acordo com o grupo ouvido. Mas, diante do que aconteceu na semana passada, na qual o ex-presidente Lula entrou em campo para valer após o rompimento do PMDB com o governo, a situação é mais ou menos a seguinte: o Palácio do Planalto não teria os votos necessários a fim de impedir a aprovação no plenário da Câmara, mas tampouco a oposição possuiria o apoio necessário para viabilizar o impedimento.

Ainda há um grupo significativo de deputados que poderá decidir o jogo para um lado ou outro.

A situação da presidente, que era muito ruim, está ruim, digamos assim. Lula tem feito a diferença e conseguido estancar a perda de apoio.

As próximas duas semanas serão decisivas para Dilma barrar o impeachment ou para que seja viabilizado um governo Temer.

Nos dois cenários, Dilma e Temer deverão ter preocupação com o que farão no dia seguinte. Um ajuste da economia exigirá sacrifícios em qualquer hipótese. Esconder isso hoje equivale a mentir para a população.

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Fator Lula

O placar da votação do impedimento no plenário da Câmara será importante para influenciar esse dia seguinte. Se os votos pró-impeachment ficarem acima de 300 deputados, chegando perto dos 342, será uma óbvia sinalização de fragilidade política.

Se o Supremo Tribunal Federal confirmar que Lula poderá assumir a Casa Civil, ele teria de tomar as rédeas do governo começando por colocar na Fazenda alguém capaz de lidar com a decepção do mercado e dos empresários, que estão apostando no impeachment. Por exemplo: indicar o ex-presidente Henrique Meirelles para a Fazenda.

Mas isso se chocará com esse discurso mais à esquerda feito agora e com a barganha para alojar nos ministérios políticos ainda mais fisiológicos do que os atuais.

Os deputados e senadores dizem que a diferença entre Lula e Dilma é que dá para confiar em acordos fechados com ele. Mas, se Dilma ganhar fôlego, voltará a querer dar as cartas como fez tantas vezes cometendo tantos erros? Honrará os acordos de Lula?

É fato que a entrada de Lula em campo melhorou a situação de Dilma, mas há pedras no meio do caminho: os desdobramentos da Lava Jato e o agravamento da crise econômica.

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Até o fim

No caso de o impeachment ser aprovado na Câmara e o processo ser aberto no Senado, a presidente não pretende renunciar e exigirá ser julgada pelos senadores no prazo de até 180 dias. Essa atitude seria uma forma de gerar instabilidade para um eventual governo Temer, que seria interino até a decisão final do Senado.

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O ministério de Temer

No PMDB, o que se fala é que um governo Temer blindaria a área da economia e as pastas da Saúde, da Educação e das Relações Exteriores, por exemplo. Seria o grupo de “notáveis”, como se diz internamente nos bastidores peemedebistas.

Ocorreria uma redução do atual número de ministros, que são 32. Há sugestões para corte mais radical, com cerca de 20 ministros, e outro mais leve, em torno de 25.

Para a Fazenda, os nomes mais cotados são os dos ex-presidentes do Banco Central Armínio Fraga e Henrique Meirelles. O senador José Serra, do PSDB paulista, é lembrado para a Educação ou Saúde. Para a Saúde, também há a ideia de buscar alguém que tenha o perfil dos médicos Drauzio Varella ou David Uip, secretário da área em São Paulo. Para o Itamaraty, certamente um diplomata de carreira.

Os demais ministérios poderiam ser divididos entre os partidos dispostos a apoiar o governo. Seria provável que Temer dissesse publicamente que não buscará a reeleição, a fim de tentar dar mais força a um discurso de união nacional.

Mas haveria complicadores para o dia seguinte: como mostrar capacidade de estabilizar o país e rebater a imagem de chegada ao poder através de um golpe jurídico. Por isso, é importante que a saída da crise nas duas próximas semanas ocorra dentro do que prevê a Constituição.

Nesse sentido, a substância jurídica do parecer do relator da comissão de impeachment será fundamental. Também será importante ver a consistência da defesa que Dilma apresentará hoje à comissão da Câmara.

E, queira ou não, o Supremo Tribunal Federal será chamado a se manifestar sobre a aprovação de eventual impeachment. Os onze ministros do Supremo terão de dizer que a palavra final é do Senado ou terão de examinar o mérito do crime de responsabilidade apontado para justificar um eventual impeachment. No atual estágio da crise, o Supremo deverá essa resposta ao país.

Blog do Kennedy

IG 


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