BRASIL

Eduardo Cunha, delação premiada e chantagem. Combinações explosivas

A queda do Mafioso

Após oito meses de manobras, adiamentos e entraves interpostos por aliados de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o Conselho de Ética da Câmara aprovou no último dia 14 de junho o parecer do relator Marcos Rogério (DEM-RO) no processo que pede a cassação de Eduardo Cunha. A aprovação foi apertada: 11 votos a 9. O processo agora segue para plenário da Câmara dos Deputados – são necessários os votos da maioria simples, cerca de 257 dos 513 deputados, para a perda do mandato. A votação no plenário é aberta e opositores do peemedebista confiam na pressão da sociedade para cassar o mandato de Cunha.


O que está por vir é mais do que uma cassação. Eduardo Cunha já foi tido como um verdadeiro psicopata – pelo menos os deputados Luiz Couto (PT) e Jarbas Vasconcelos (PMDB) já fizeram essa afirmação. Lembrando, um psicopata é aquela pessoa que age de forma fria e calculista e é capaz de qualquer coisa para se salvar e conseguir o que deseja.


No entanto, o presidente interino, Michel Temer, já disse uma vez que tinha fé no seu escudeiro. "Eu tenho do Eduardo Cunha um auxílio extraordinário na Câmara Federal. Se você quiser dar uma tarefa das mais complicadas para o deputado, ele simplifica porque trabalha muito. E a fé é que mobiliza as pessoas. Então as tarefas difíceis eu entrego à fé do Eduardo Cunha". A declaração deixa Temer numa situação delicada.


Cunha afirmou ao Estadão (e depois negou ter dito), que se cair levará 150 deputados, um senador e um ministro próximo ao presidente. O deputado faz chantagem abertamente. Em novembro, quando foi aberto o processo de cassação no Conselho de ética por quebra de decoro, Cunha também afirmou: “se todos que têm processo forem para o Conselho de Ética por quebra de decoro, deveriam ter uns 150 lá, porque são uns 150 com processo”.

Cláudia Cruz e Danielle Ditz, esposa e filha de Eduardo Cunha


“A chantagem tem sido método habitual nas ações do deputado federal. Com chantagem ele e o PMDB arrancaram do governo Dilma emendas impositivas que custam R$ 10 bilhões ao ano. Com chantagem Cunha tentou arrancar três votos do PT para não ser levado ao Conselho de Ética. Não obteve, e no mesmo dia aceitou o pedido de impeachment de Dilma”. A lembraça é do comentarista Bob Fernandes, da TV Gazeta.


Vale lembrar também que poucas horas depois de ele ter sido eleito presidente da Câmara, Eduardo Cunha mandou recado. “Aborto e regulação econômica da mídia só serão votados passando por cima do meu cadáver”.


“Agora Cunha é réu e o destino de sua mulher e filha, Cláudia Cruz e Danielle Ditz, estão nas mãos do juiz Moro. O que não fará e dirá Eduardo Cunha, ainda mais nesses tempos que ainda antes que provas, delações e manchetes significam cada vez mais condenação prévia. É hora de reflexão para o PT e sua falida política de alianças. Hora de reflexão para a oposição que se aliou a Cunha, que posou para fotos históricas ao lado de Cunha e de obscuros movimentos financiados por seus próprios partidos. Reflexão para os que nas ruas anunciavam: ‘somos milhões de Cunhas’ e que seguem com suas panelas no armário em silêncio”, continua Fernandes.


Os aliados de Cunha podem ter o que temer, afinal o juiz Sergio Moro tornou sua mulher ré em uma ação sobre as contas na Suíça por lavagem de dinheiro, e a Justiça Federal bloqueou os bens do casal.


Cunha já garantiu que irá recorrer à Justiça Comum e a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara para tentar anular o processo do Conselho. A representação contra o peemedebista foi apresentada em outubro pela Rede e PSOL, que o acusam de ter mentido à CPI da Petrobras quando disse que não tinha contas no exterior – revelou-se depois que o parlamentar possuía milhões de dólares na Suíça. Pelo Código de Ética da Câmara, um deputado omitir informação relevante de seus pares pode justificar a perda de mandato. Cunha sustenta que os recursos são geridos por trusts e que é apenas beneficiário do dinheiro. "Os trusts criados são empresas de papel, de laranjas de luxo", explicou o relator antes da votação. "Nada afasta o deputado de se utilizar de engenharia financeira e dissimular recebimento de propina. Creio que a única sanção aplicável é a perda do mandado." O peemedebista ainda é réu no STF sob a acusação de receber valores referentes a um contrato de navios-sonda da Petrobras – mas essas informações ficaram de fora da análise do conselho por decisão do presidente interino da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA), que é próximo de Cunha.

Cerco a Cunha vai se fechando

No início de junho vazou a informação que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu ao Supremo a prisão de Cunha. A informação foi divulgada pelo jornal Folha de S.Paulo. A justificativa é que, mesmo afastado, o deputado continua agindo para atrapalhar os trabalhos do Conselho de Ética. Antes, o peemedebista já tinha sido suspenso da presidência da Câmara e do mandato por decisão do ministro Teori Zavascki, atendendo a um pedido de Janot – segundo o procurador-geral, o deputado usava o cargo para "constranger, intimidar parlamentares, réus, colaboradores, advogados e agentes públicos com o objetivo de embaraçar e retardar investigações" contra ele.


Não convém subestimar a força de Cunha na Câmara, mas é fato que ele começou a perder apoio interno na Casa nos últimos tempos. Vide os votos de Tia Eron, do PRB da Bahia, e de Wladimir Costa, do Solidariedade do Pará, ambos aliados de Cunha, mas decisivos na cassação do Conselho de Ética. A deterioração da situação política e jurídica do presidente afastado da Câmara levou às traições na Comissão. Outros aliados de Cunha já dizem que será difícil defendê-lo no plenário da Casa numa eventual votação de cassação de mandato. Já há dúvida se a renúncia à presidência da Câmara teria um efeito de salvá-lo neste momento tão desfavorável, servindo como moeda de troca para uma pena menor do que a perda do mandato.


A possibilidade de uma delação premiada começa a fazer sentido para alguém que vê, a cada dia, a sua força política se esvair e a sua situação jurídica se complicar. Diante do cenário de possíveis condenações a penas altas e para proteger a mulher e a filha, que também são investigadas, Cunha poderá examinar sim essa possibilidade. Isso teria efeito bombástico sobre a base de apoio do governo Temer e políticos do PMDB e de outros partidos que receberam favores de Cunha.

Análise de uma personalidade

A Revista NORDESTE replica análise feita por um grupo de médicos e assinado pelo médico Mareu Soares, que analisaram a personalidade de Eduardo Cunha. O texto foi publicado no Conversa Afiada.


“Cunha não é um sujeito “eticamente desqualificado”. Para tal, precisaria ser um sujeito normal, com plena consciência do que é ético e do que não é ético, para poder ser considerado antiético o seu ato. Cunha é, na realidade, um doente mental. O caso de Cunha é qualificado pelo Código Internacional de Doenças (CID 10) com o código F60-2, chamado de Transtorno de Personalidade Dissocial. E, o mais dramático, essa patologia não tem até hoje possibilidade de cura. É um transtorno da personalidade, uma psicopatia, também conhecida como Sociopatia. Popularizando, é o 171, ou o estelionatário. Um doente, de acordo com os conhecimentos psicológicos e psiquiátricos.


Essa doença tem várias características. Uma muito importante é a ausência de empatia, falta de interesse pelo bem-estar dos outros (pode excepcionalmente interessar-se por membros de sua família, e só), o que causa prejuízos aos que convivem com ele. Essas pessoas são interesseiras, egoístas e manipuladoras. Há um desvio entre o comportamento e as normas sociais estabelecidas. E esse comportamento não se modifica nem por situações adversas. Há baixa tolerância às frustrações. Tendência comum a culpar os outros ou fornecer racionalizações plausíveis para explicar condutas anormais. Há um egocentrismo patológico, incapacidade para a lealdade e para sentimentos de afeição ou amor. É extremamente comum a prática de calúnias, omissões ou distorções de fatos. As características dos sociopatas incluem o desprezo pelas obrigações sociais e leis. Suas emoções são superficiais, teatrais e falsas. O controle da impulsividade é muito baixo. São, porém, pessoas sedutoras, cínicas e manipuladoras. Mentem exageradamente, sem constrangimento ou vergonha. Ao narrar fatos costumam utilizar contextos fundamentados em acontecimentos reais, mas manipulados de acordo com seus interesses, que podem torná-lo convincente. Causam inúmeros transtornos a quem está ao seu redor. Seduzem seus parceiros para convencê-los a fazer algo em seu lugar, evitando assim prejuízos a si mesmos. Dessa forma os sociopatas dificilmente aprendem com punições ou modificam suas atitudes. Jamais sentem culpa. Fingem ter comportamentos éticos para se infiltrarem em grupos sociais ou religiosos, onde procuram esconder suas verdadeiras personalidades.


No fator da afetividade ressalta um narcisismo agressivo. Logo, não adianta absolutamente nada tentar convencer um sociopata de que ele está errado, ou que sua conduta é antiética. Ele tem certeza de que age corretamente. Para ele as suas ações são permitidas dentro da lógica que impera na sua personalidade.


De acordo com a teoria ortodoxa de Freud sobre a nossa vida mental, a mais aceita na psicologia e na psicanálise, falta a esses doentes a terceira parte da estrutura da personalidade, que Freud chamou de superego. Essa parte se desenvolve desde o início da vida, quando a criança assimila as regras de comportamento ensinadas pelos pais ou responsáveis mediante sistemas de recompensa ou punições, seguindo-se na vida social precoce e na vida escolar. Tanto o comportamento inaceitável quanto aquele aceitável (ego-ideal), para os pais, familiares e o grupo social, fica gravado. Formado o superego, é o próprio indivíduo que passa a administrar suas recompensas ou punições. O superego representa a moralidade. É o quarto gigante da alma, segundo Mira y Lopez. Freud descreveu-o como “o defensor da luta em busca da perfeição”.


A solução para casos de sociopatia é difícil. Todavia uma atitude fundamental é certa: jamais dar condição de mando a esse tipo de doente. Os estragos que são capazes de fazer são quase inimagináveis. Cunha chegou a uma posição ímpar, valendo-se de todas as características de sua patologia. Uma nação inteira poderá ser gravemente prejudicada no seu status democrático, tão arduamente conquistado e que é ainda débil e recente, pelas ações de Cunha, que podem ser previstas de acordo com o seu passado e presente.
 
Isso e muito mais você pode conferir na edição 115 da Revista Nordeste que pode ser conferida na íntegra gratuitamente.

 

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