POLÍTICA

Eduardo Cunha termina ano com “corda no pescoço”; Confira principais “jogadas”

Por Pedro Callado

A política brasileira teve um ano conturbado. A presidente Dilma Rousseff viu sua popularidade despencar e virou alvo de críticas para todos os lados. Mas quem fez barulho mesmo foi o Congresso Nacional, em especial o presidente da Câmara Federal, o deputado Eduardo Cunha do PMDB do Rio de Janeiro.

No ato de posse como presidente, em fevereiro, Cunha afirmou que não seria submisso ou opositor em sua gestão. “Ninguém vai ver eu me curvar a qualquer coisa que não seja a vontade da maioria dessa Casa”.


Ao longo do ano o presidente demonstrou que podia se curvar a vontades que não eram da Casa, mas sim a si próprio. Cunha também mostrou que certamente não foi submisso, já oposicionista, isto ele foi. Mesmo integrando um partido que é da base do Governo Federal (o vice-presidente é do PMDB), Cunha assumiu uma postura bastante crítica em relação ao Governo Dilma e assim conquistou a simpatia das bancadas de oposição, incluindo o senador mineiro, Aécio Neves (PSDB), que logo se animou com a possibilidade de um impeachment.


Durante sessões ordinárias, Cunha organizava a pauta de acordo com interesses próprios e evitava colocar matérias suas quando sabia que não teria votos suficientes. Inclusive chegou a reeditar matérias que já haviam sido derrubadas para que tivessem nova chance de serem aprovadas. Quando foi colocada em pauta a Reforma Política, o presidente nomeou uma comissão especial para organizar as proposituras, mas depois descartou o relatório elaborado pela comissão para submeter um que fosse do seu agrado. E assim Cunha foi levando, com conchavos e arranjos, jogando à seu favor, até que a batata ficou quente para o seu lado.


Observando o cenário político no início do ano, não dava para imaginar as tantas reviravoltas que estavam por vir. Há quem diga que o desenrolar dos fatos no Congresso brasileiro estão mais interessantes que seriado norte americano “House Of Cards”. Até o início de setembro, Cunha ainda se encontrava em uma posição privilegiada, com pedidos de impeachment na mão e pautando a sessão como bem entendia. Até aí o Governo parecia pisar em ovos. Mas eis que surge denúncia diretamente da Suíça envolvendo o deputado, e o jogo vira. No último trimestre Cunha foi denunciado por captação de propina pela Procuradoria Geral da República no Supremo Tribunal Federal, foi alvo de representação de colegas deputados que pedem no Conselho de Ética a sua cassação por quebra de decoro parlamentar, e por último viu a Polícia Federal entrar em suas inúmeras residências apreendendo o que via pela frente.


O pedido de impeachment contra a presidenta foi acatado e, provavelmente no ano que vem, será colocado em pauta. Mas isso se Eduardo Cunha continuar no cargo. Um outro presidente pode muito bem facilitar o fim do processo.


O ANO DE CUNHA

Fevereiro
– Eduardo Cunha é eleito presidente da Câmara dos Deputados.


Março
– Em depoimento na CPI da Petrobras, Cunha nega ter recebido propina e afirma que não tem contas na Suíça.
 

Abril
– Cunha adia pauta de conclusão da votação da Lei da Terceirização, a qual ele defende, porque percebeu que a proposta seria derrubada no plenário.

Maio
– Supremo Tribunal Federal autoriza busca no gabinete de Cunha para apreender documento que relaciona o parlamentar com recursos desviados da Petrobras.
– Cunha faz manobra e deputados aprovam construção de Shopping do Congresso, avaliado em mais de R$ 1 bilhão.

Junho
– Congresso começa a votar a “Reforma Política”. Cunha faz manobra para aprovar o financiamento privado em campanha, que em um primeiro momento foi derrubado.
– Reforma Política é encerrada sem grandes alterações.
– Proposta de reduzir a maioridade penal de 18 para 16 anos é colocada na pauta.

Julho
– Cunha anuncia o rompimento político com o Governo Dilma.
– Delação premiada na Lava-Jato aponta que Cunha teria sido responsável pela cobrança de 10 milhões de dólares de propinas referentes a dois contratos de US$ 1,2 bilhão, assinados pela Petrobras entre 2006 e 2007.
– Cunha dá celeridade a 12 pedidos de impeachment da presidente Dilma que estavam engavetados.

Agosto
– Procuradoria Geral da República apresenta ao STF denúncia contra Cunha por suposto envolvimento como receptor de propina no esquema de corrupção na Petrobras investigado pela Operação Lava Jato.

Setembro
– O Ministério Público da Suíça envia ao Brasil autos de investigação iniciada em abril que aponta que o deputado Eduardo Cunha e familiares possuem contas na Suíça.

Outubro
– Cópias do passaporte, da assinatura e de dados pessoais do presidente da Câmara, enviados pelas autoridades da Suíça, comprovam contas bancárias secretas, no valor de R$ 23,8 milhões, do deputado, da mulher e da filha dele no país europeu.
– Deputados do PSOL e da Rede entregaram ao Conselho de Ética da Câmara Federal representação contra Cunha na qual pede a cassação do mandato do peemedebista por quebra de decoro parlamentar.
– Pressionado, Cunha afirmou que não irá renunciar ao cargo de presidente da Câmara. "Aqueles que desejam a minha saída têm de esperar o fim do mandato para escolher outro".

Novembro
– Cunha rejeita inúmeros pedidos de impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff.
– Projeto de lei de autoria de Eduardo Cunha que dificulta a realização de aborto, mesmo em caso de estupro, é aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça.
– Cunha faz uso da sua posição de presidente inúmeras vezes para adiar e impedir os debates do Conselho de Ética que discute a sua cassação.
– Aécio Neves, do PSDB, adota discurso mais duro e afirma que provas contra Cunha são contundentes.

Dezembro
– Conselho de Ética vota e decide dar continuidade ao processo de cassação de Eduardo Cunha.
– Cunha acata pedido de impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff.
– Polícia Federal faz busca e apreensão em residências de Eduardo Cunha.
 


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