BRASIL

Estilo “homem-bomba” deve isolar Cunha ainda mais

Eduardo Cunha está adotando um estilo “homem-bomba” que tende a aumentar o seu isolamento na presidência da Câmara numa hora de enfraquecimento político. Ele foi acusado de ter recebido US$ 5 milhões de propina do delator Júlio Camargo, representante da Toyo Setal.

Indagado se aceitaria fazer uma acareação com Camargo, respondeu que sim. Mas emendou: a presidente Dilma Rousseff deveria fazer acareação com o doleiro Alberto Youssef e dois ministros dela, Aloizio Mercadante (Casa Civil) e Edinho Silva (Secretaria de Comunicação), também deveriam enfrentar de frente Ricardo Pessoa, presidente da UTC. Essa resposta só eleva a tensão com o governo nos bastidores.

O juiz federal Sérgio Moro não é imune a críticas. Pode errar. Mas, no caso da delação de Camargo, estava fazendo uma apuração sobre Fernando Baiano, acusado de ser operador do PMDB. O nome de Cunha surgiu. O magistrado tomou o depoimento e o encaminhou para a instância superior.

Moro disse que não poderia calar testemunhas. O juiz está certo. Além disso, atacar Sérgio Moro é comprar briga com a figura mais popular do Brasil hoje. É um erro de cálculo de Cunha. Melhor seria se preocupar em responder às acusações objetivamente do que se preocupar em apurar eventual erro formal.

A CPI do BNDES, que o peemedebista pretende instalar na Câmara na volta do recesso parlamentar, pode atingir grandes financiadores de campanha com os quais Cunha e outros deputados têm relações. Não parece que, assim, ele vá angariar apoio. Pelo contrário.

Numa conversa com o vice-presidente da República, Cunha disse que Michel Temer poderia virar alvo da Lava Jato por ação do governo. Temer rebateu que seria impossível. Mas a mensagem soou como ameaça. Outro erro político.

A personalidade guerreira de Cunha o ajudou a conquistar a presidência da Câmara, mas, por ironia do destino, essa característica pessoal poderá acelerar a eventual perda do cargo. Já há líderes de partidos aliados dizendo que não pretendem seguir a linha agressiva de Cunha na volta do recesso.

Isso sem contar uma eventual denúncia do Ministério Público contra o peemedebista. Informações de bastidor dão conta de que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, deverá apresentar em breve uma denúncia contra o presidente da Câmara. Isso aumentaria a pressão por sua saída do comando da Casa.

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Na Operação Castelo de Areia, a Camargo Correa foi investigada, mas não houve punição. A Castelo de Areia teve início em 2009, mas foi arquivada em 2011 no STJ (Superior Tribunal de Justiça) porque as provas teriam sido colhidas de fontes anônimas. Ficou um gosto amargo de impunidade.

A decisão do juiz Sérgio Moro de ontem, a primeira que condena executivos, tem forte simbolismo porque acaba com o amargor da Castelo de Areia. Mostra que é possível punir diretores de uma companhia tão poderosa. A Justiça atinge o andar de cima, para usar expressão do jornalista Elio Gaspari.

Advogados de defesa das empresas se queixam de desrespeito ao direito de defesa e do uso das prisões preventivas para tentar forçar delações premiadas, mas é fato que a Lava Jato tem descoberto coisas do arco da velha. O combate à corrupção está acontecendo de forma efetiva. E há possibilidade de recursos às instâncias superiores para quem se sentir injustiçado. Essas instâncias vão, inclusive, testar as consistências das provas.

Nessa condenação de executivos da Camargo Corrêa, ficou comprovada que a delação premiada compensa, porque os sentenciados que colaboraram obtiveram benefícios expressivos. É uma decisão que pode ter impacto sobre acusados das empresas Odebrecht e Andrade Gutierrez que estão presos em Curitiba. Executivos dessas companhias têm se recusado a fazer delação premiada.

Blog do Kennedy


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