BRASIL

EXCLUSIVO: ‘Governo manterá o foco na regionalização da mídia’, diz Edinho

O atual ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social (Secom) Edinho Silva é sociólogo e professor. Filiado ao Partido dos Trabalhadores, o ministro já foi vereador, deputado estadual e prefeito de Araraquara. Foi tesoureiro da campanha presidencial de Dilma Rousseff em 2014. Na função desde junho, o ministro tem enfrentando um verdadeiro furacão que vem sendo estabelecido no país, com manchetes quase diárias sobre uma crise econômica e política, inclusive com pedidos de impeachment da presidenta Dilma Rousseff (PT). Boa parte da crise, segundo setores do próprio PT, partem do que seria uma mídia comprometida com a oposição e com o desejo explícito de destruir as chances do PT se manter no poder com uma possível candidatura de Lula em 2018.


Na entrevista concedida com exclusividade à Revista NORDESTE, o ministro vai noutra vertente e nega que o país esteja vivendo uma crise política. Silva considera normal a expressão de posições divergentes, apesar de reconhecer que existem veículos da grande mídia, TVs, revistas e jornais, que optaram por uma posição de ataque, refletindo o que chama de posições hegemônicas da oposição. Entretanto, o ministro nega que essa mudança tenha se dado por conta de algum corte em verbas de publicidade federal feito a partir do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aos veículos tradicionais da mídia brasileira. Silva garante que a distribuição das verbas para publicidade do Governo Federal obedecem critérios técnicos, mas admite que esse formato tem sofrido mudanças ao longo dos anos, pela própria dinâmica dos novos tempos. O ministro também garante que não faz parte das prioridades do governo uma regulação da Imprensa no Brasil. O foco agora é agenda positiva, pós Ajuste econômico. Confiram!

Revista NORDESTE: O Brasil vive uma realidade em que existem dois cenários em evidência. Uma crise política exposta em setores do Congresso Nacional contra o governo e outra que é baseada na postura da mídia no trato dessa crise econômica e política. Quando o governo vai ter um diálogo com a mídia para evitar essa artificialização da crise?

Edinho Silva: Primeiro eu penso que do ponto de vista político nós não estamos vivendo uma crise. É natural num regime democrático, como o regime brasileiro, que é uma das maiores e mais robustas democracias do planeta, é natural que você tenha o contraditório e posições divergentes. É natural que você possa ter no cotidiano a expressão de pensamentos que tenham uma concepção diferente de país e de nação. Portanto, o governo vê com naturalidade que essas divergências possam se expressar. Claro que nós gostaríamos que muitas vezes aqueles que pensam diferentes colocassem em primeiro plano os interesses nacionais. Que pudessem fazer oposição, mas com maturidade. Que pudessem fazer oposição sem estar buscando a todo momento criar instabilidade. Nós gostaríamos, portanto, que a oposição fosse dura, de debate de ideias, que expressasse as divergências, mas que fosse uma oposição que entendesse a importância do país fortalecer a democracia, fortalecendo as suas relações instituições. Mas do ponto de vista econômico o Brasil… Em 2008 nós tivemos o início de uma crise internacional. Já naquela época nós dizíamos que para que a economia mundial retomasse o crescimento, retomasse uma dinâmica onde o mundo voltasse a crescer de forma homogênea, o Brasil tomou todas as medidas necessárias naquele período para que a nossa economia não fosse arrastada para o centro dessa crise. Nós fortalecemos as relações econômicas internas, estimulamos para que o Brasil tivesse uma capacidade de geração e distribuição de riquezas muito estruturado nas nossas relações econômicas internas. Portanto, o Brasil naquele momento investiu muito, irrigou o crédito e fortaleceu o sistema produtivo para que nós não fôssemos arrastados para o centro da crise. Neste momento que nós estamos iniciando hoje o mundo ainda não retomou o seu crescimento. Nós estamos vendo a dificuldade da economia americana de responder a crise. Nós estamos vendo a economia chinesa passando por dificuldades gravíssimas. Mesmo nos BRICS, certamente o Brasil tem um dos melhores posicionamentos dentro dos BRICS. Portanto, o Brasil por mais que mundo esteja passando por dificuldades e nós tenhamos que nesse momento fazermos ajustes para que possamos retomar o crescimento econômico. Mesmo assim, se nós compararmos a situação brasileira ela é muito mais favorável que muitos países, inclusive países que estão no mesmo estágio, do momento econômico que o Brasil. Evidente que é um momento de dificuldades, mas é um momento que o Brasil está tomando as medidas corretas, para que o país possa, num curto espaço de tempo, retomar o crescimento econômico como geração de emprego e distribuição de renda.

NORDESTE: Mas setores da mídia tem um posicionamento que às vezes coincide, ou aparenta, estar tomando o papel de partidos políticos da oposição. O senhor não identifica isso?
Silva
: Sim. Tem setores da mídia que acabam se deixando hegemonizar por posições político-partidárias. Isso não é bom. Isso é ruim. O ideal é que nós possamos ter a mídia analisando fatos, divulgando fatos. Abrindo espaço, inclusive, para as contradições de pensamento. Muitas vezes nós presenciamos matérias que são divulgadas onde não têm lastro em fatos e muitas vezes elas são unilaterais, porque não há o direito do debate de ideias. Portanto, não tem o pensamento, nem a posição divergente. Na mídia você não tem o outro lado, que é um dos princípios da Imprensa. A Imprensa democrática sempre tem o outro lado. Infelizmente, muitas vezes além das matérias não terem o lastro em fatos reais, elas não proporcionam o outro lado. Mas eu repito, no meu entender é um setor minoritário da Imprensa brasileira e nós acreditamos muito que vamos superar esse nível de embate interno que nós estamos vivenciando com muito diálogo e muita capacidade de fortalecer os nossos instrumentos democráticos.

NORDESTE: Desde o primeiro ano do governo Lula que o governo petista reclama desse tratamento desigual. Como os senhores tratam esses setores que continuam fazendo um posicionamento editorial que não é plural, como é o caso de alguns veículos como a Veja, fazendo uma oposição direta e sistemática ao governo?
Silva:
Encaramos com naturalidade. Claro que numa democracia, eu penso que você tem que lidar com todas as posições de imprensa, inclusive aquelas, como eu já disse, que se deixam hegemonizar por posições político-partidárias. O governo tem que lidar com naturalidade e cada vez mais acreditar que a melhor forma de retorno que possa existir é o senso crítico. É a capacidade das pessoas raciocinarem, refletirem, e intenderem o que é uma matéria séria, jornalística e o que é uma matéria que na verdade expressa uma posição político-partidária. Eu penso que o leitor, o ouvinte, as pessoas que se informam por meio da televisão e por meio da internet, cada vez mais elas vão aprimorando o senso crítico e vão certamente conseguindo fazer a diferença entre o que é notícia e o que é luta político-partidária.

NORDESTE: O senhor conversa com a Veja, a Rede Globo… Com os veículos que em determinado momento tomam posição contra o governo?
Silva:
Eu tenho conversado com todos, com os editores do Blogs, com editoria das grandes revistas, das revistas regionais, com os órgãos de Imprensa. Já reuni aqui todas as entidades representativas dos jornais regionais, dos jornais do interior como eles gostam de ser chamados. E também dialogo com a grande Imprensa. Com as revistas, TVs e rádios mais tradicionais. Eu penso que o papel do governo é estar aberto ao diálogo com todos os veículos de comunicação, sejam regionais ou de grande circulação.
 

Confiram o restante da entrevista exclusiva concedida a Walter Santos no link: REVISTA NORDESTE
 


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