BRASIL

Fazer trilhas na natureza é boa opção para fugir do estresse da vida urbana

Saindo dos campos de futebol e das quadras de treino, a Revista NORDESTE foi ao ar livre para mostrar um esporte sem placar e pódio. 

Na Natureza Selvagem

Tentando driblar o estresse da vida urbana, cresce a demanda de pessoas em busca de aventura na natureza como forma de lazer e saúde 

Por Jhonattan Rodrigues


"Acho difícil conservar a saúde e o equilíbrio de espírito sem passar no mínimo quatro horas por dia – e o normal é passar mais que isso – caminhando pelas matas, colinas e campos, completamente isento de quaisquer obrigações mundanas. […] Não consigo ficar em casa um único dia inteiro sequer que não me cause algum mal-estar” conta o escritor e poeta Henry David Thoreau em ensaio intitulado “Andar à pé”. Conhecido pelas suas visões políticas, Thoreau era um naturalista convicto. Nascido no sul dos Estados Unidos, ele tinha uma ligação vital com a natureza, como fica claro na passagem acima.

Thoreau morreu em 1862. De lá para cá as cidades aumentaram, vieram os automóveis, celulares e computadores, e junto aos benefícios trazidos pela modernidade, aumentaram doenças relacionadas ao estresse e sedentarismo. Por isso muitas pessoas estão em busca de retomar uma ligação com a natureza e voltando a fazer longas caminhadas pelas florestas, bosques e campos, assim como Thoreau. Pelo menos nos fins de semana.

Sílvio Porto e sua esposa, Hadassa, perceberam um déficit de atividades que levassem as pessoas a entrar em contato com a natureza na sua cidade, Campina Grande (PB). Eles, que já faziam há algum tempo incursões pelas matas, começaram a receber pedidos de pessoas à procura de guias. A partir daí surgiu os Irmãos em Trilhas, que há 13 anos dão às pessoas a oportunidade de um contato mais direto com a natureza. Ele conta que as pessoas que procuram o Irmãos em Trilhas são dos tipos mais diversos: biólogos e geógrafos que desejam observar seus elementos de estudo in loco; escolas e turmas que estão se formando e querem fazer uma confraternização diferente; e há ainda “pessoas de todos os tipos de profissão que trabalham a semana toda e chega o fim de semana não tem uma opção de lazer que não seja praia, que depois de um tempo a pessoa acaba se cansando, e shopping. Então a gente resolveu oferecer alguma coisa que tenha contato com a natureza e que também proporcionasse saúde social e mental”.

Nesse último tipo é que se enquadra Neuellington Silva, de 26 anos. Neuellington é gerente de uma empresa de construção civil e é original da cidade de Pocinhos (PB). Ele se mudou para a capital da Paraíba, João Pessoa, para trabalhar, e acabou sentindo falta, não apenas da natureza, mas também da companhia dos amigos. “Como meu dia a dia é muito corrido, acaba trazendo muito estresse. Depois que comecei a praticar trilhas, eu comecei a caminhar, conversar… A trilha me trouxe uma paz interior. E além da qualidade de estar perto da natureza, faz você ir com o tempo adquirindo um círculo de amigos” conta.
As caminhadas de longa distância pela natureza são chamadas de trekking, uma palavra de origem sul-africana, que significa “seguir um caminho”. Ela surgiu das incursões feitas por exploradores ingleses no continente africano. Igualmente aos desbravadores, os entusiastas do trekking – também chamado de hiking, em inglês – costumam caminhar dezenas de quilômetros, em percursos que duram por mais de um dia. Por isso, é comum levarem consigo certa quantidade de bagagem, com barracas, comida e por vezes utensílios para cozinhar. Os percursos são os mais variados, podendo ser em terreno montanhoso, litorâneo, em campos ou florestas, feito de forma solitária ou em companhia. A atividade pode ser feita tanto para chegar a um lugar específico, como uma cachoeira, uma clareira para a prática de camping, quanto para que o praticante possa por a prova seu vigor físico. No geral que faz trekking busca estar perto da natureza, observando as paisagens com calma, coisa difícil de acontecer quando se faz viagens de carro, ônibus ou avião. As caminhadas em meio às matas é que são chamadas “trilhas”, e podem ser bastante curtas, com poucos quilômetros. Mas, mesmo nos menores percursos, a figura de um guia se faz necessária, pelo menos para os iniciantes, para aproveitar a aventura com segurança.

Sílvio conta que conversa com os interessados em participar das incursões e reúne informações como problemas cardíacos, alergias e se a pessoa já é acostumada com o esporte. Os Irmãos em Trilhas oferecem pacotes com caminhadas de diversas intensidades, de três até dezoito quilômetros. Dependendo da experiência dos participantes, pode até ser mais. Como são trajetos de geralmente uma tarde, não é necessário muitos equipamentos, limitando-se à cordas em terrenos que Sílvio chama de ‘escalaminhada’, que são terrenos em ascensão, tênis de esporte e roupas leves.

Um trajeto muito procurado é a trilha da Cachoeira de Serra Grande, rota de dez quilômetros e meio entre o município de Areia e Alagoa Grande, na região do Brejo paraibano. Esse é um percurso moderado. “É um pouco conhecido, mas de lá pra cá já fizemos mais de oitenta trilhas. Pelo caminho vemos engenhos onde se fabrica rapadura e passamos pela floresta de mata atlântica de altitude. Somos muito procurados para fazer esse percurso e quem vai quer ir de novo”, revela Sílvio.

“Os que querem caminhar mais, a gente coloca em torno de 10 a 15 Km em um dia”, diz o guia. Mas, para os iniciantes, existem aquelas trilhas chamadas ‘contemplativas’ que são para as pessoas observarem a fauna, a flora e a paisagem. “Esses percursos a gente deixa em torno de 6 a 8 Km. São para pessoas que querem ter contato com a natureza, mas que não têm condicionamento físico para andar certa quantidade de quilômetros. Como geralmente fazemos no domingo, e as pessoas vão trabalhar na segunda, fazemos um trajeto mais light. Dá um cansaço, mas é revigorante, porque você passa o tempo com a natureza, respirando 100% ar puro e sempre em boa companhia.”

Onde praticar no Nordeste

O Nordeste é um lugar muito rico em belezas naturais. Basicamente, qualquer lugar natural é interessante para a prática do esporte, mas existem parques nacionais com milhares de hectares de beleza selvagem a ser explorada pelos visitantes. Destacam-se a Chapada da Diamantina (BA), com suas cavernas e cânions; a Serra da Capivara (PI), que possui trilhas pré-históricas, onde é possível ver pinturas rupestres ao longo do caminho; e os mundialmente famosos Lençóis Maranhenses (MA), cuja trilha mais procurada, a que leva à Lagoa Azul, possui 12 km de extensão passando pela restinga e mais 2 km por meios das imponentes dunas, que podem chegar até 40 m.

Enduro à Pé

Existe uma modalidade esportiva do trekking, chamado enduro à pé ou trekking de regularidade. Ele incorpora técnicas do rally motorizado, com a diferença que é feito à pé. A equipe participante deve percorrer um caminho pré-determinado pela organização, que também determina um tempo. Ao longo do caminho existem postos de controle por onde as equipes devem passar para marcar pontos. Quem se atrasar ou se adiantar, perde pontos. Portanto não é uma competição de velocidade ou resistência, mas de organização e orientação. Compõem as equipes ao menos um Navegador, que é responsável por orientar a equipe, utilizando uma bússola e uma planilha, um Contador de passos, que cuida das distâncias percorridas e um Calculista, que é responsável pelo tempo de deslocação da equipe. Vence aquele que alcançar a chegada com o tempo mais preciso.
 

 

 

Clique aqui e confira a Revista NORDESTE na íntegra

A revista está disponível para download para IOS e Andraoid, também gratuita

Google Play: https://goo.gl/2s38d3
IOS: https://goo.gl/WeP5eH


Os comentários a seguir são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.

Recomendamos pra você


Receba Notícias no WhatsApp