BRASIL

Guido Mantega: ‘PIB com alta de 3% em 2015’

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, acredita na melhora da economia internacional para impulsionar o crescimento do Brasil em 2015. Ele estima entre 2% e 2,5% o PIB do próximo ano: “É a taxa que dá para crescer enquanto persistir a crise internacional, foi também o que nós crescemos no ano passado”, assegura, sem esconder a esperança de que o país atinja 3%. “É possível, se os Estados Unidos e Europa estiverem se recuperando”. O ministro, que deixará a pasta no dia 1º de janeiro, mesmo em eventual reeleição da presidenta Dilma, garante que o governo não represou preços de produtos administrados e chama acusação de “equívoco” da oposição. “É a turma do tarifaço”, diz.

ODIA/BE: Como o sr. vê o desempenho da economia brasileira neste ano?

MANTEGA: O desempenho foi influenciado pelo cenário internacional. Desde que se iniciou a crise de 2008, os países estiveram no mesmo barco. Os Estados Unidos estão pouco melhores do que os outros. Temos a China desacelerando, queda no preço das commodities e, em função disso, todos têm falta de mercado para exportar. Há países que dependem da exportação. A Alemanha exporta menos. No segundo trimestre, vários países tiveram PIB negativo. A Alemanha terá o terceiro trimestre com PIB negativo. O desemprego continua elevado na União Europeia. A China, a cada trimestre, desce um degrau. No terceiro trimestre, 7,3% (de crescimento) anualizado. Neste terceiro trimestre, estamos recuperando o crescimento.

E quais são fatores que levam à recuperação?

O segundo semestre começou com inflação mais baixa. Voltaram os dias úteis, o pessoal trabalha mais, consumindo mais. Dados de julho, agosto e setembro mostram que há melhora. O crédito está melhorando. Trabalhamos com pouco crédito ao consumidor no primeiro semestre.

Houve trabalho de convencimento dos bancos, que estavam refratários?

Os bancos privados travaram o crédito. Eles foram atrás da orientação do Banco Central, que aumentou a Selic. Lembre-se que, no primeiro semestre, chegou a 11%. Restringiu a liquidez, e os bancos preferem aplicar, ganhar com título público,do que emprestar ao consumidor. Tivemos menos créditos. O que aconteceu? Baixada a inflação — em julho, a inflação chegou a zero —, o BC liberou compulsório para crédito. Flexibilizamos o consignado. A produção automobilística cresceu em julho, agosto e setembro. Houve aumento nas vendas de material de construção, dos supermercados, dos chamados indicadores antecedentes, do indicador Serasa, que mostra demanda por crédito.

Essa previsão do mercado de que a economia vai crescer 0,27%, 0,3% é pessimista?

Acho pessimista. Mas se ajusta, daqui a um mês poderá estar em outro patamar. O mais importante é que os nossos fundamentos são sólidos, que o mercado consumidor está intacto e crescendo. É isso que nos diferencia de outros países. Os Estados Unidos se recuperam, mas o comércio varejista caiu 0,3% em setembro. Aqui, o comércio varejista está mais fraco do que no passado, quando chegou a crescer 14%, em 2010. Era demais. E nós temos massa salarial intacta, que cresce. A diferença é que o Brasil manteve o emprego, que continua crescendo, e o aumento de salário todo ano. No mês de setembro, 130 mil novos empregos. No mês de agosto, acima de 100 mil empregos. As categorias têm 2%, 2,5% de aumento real a cada ano. Tem inflação? Tem. Mas o salário aumenta mais do que ela.

O senhor acha que a inflação vai fechar colada no teto ou pode passar?

Mesmo as projeções conservadoras falam que não vai passar o teto. Ficará entre 6,3%, 6,4%, porque tivemos pressões inflacionárias excepcionais. A meta de inflação estabelece que, se não tiver nenhum fator excepcional, a inflação deveria ser de 4,5%. Mas, se tiver choque de oferta, tem elasticidade e vai ser maior. Tivemos problemas este ano, como a seca, que elevou os produtos agrícolas. O preço de energia está subindo, e tivemos que deixar isso acontecer, porque o Tesouro não consegue arcar com essa relação. Bom, demos uma solução de mercado. Quando a gente dá solução de mercado, falam que o governo deveria ter assumido. Aí, quando o governo assume, falam que está sendo intervencionista. Então, não sei como agradar a todos, é impossível.

Fala-se muito da necessidade de se fazer novos ajustes no ano que vem e das tarifas, dos preços públicos.

É equívoco a oposição dizer que nós não reajustamos tarifas. Os preços de responsabilidade do governo foram reajustados. No IPCA, tem os livres e administrados. Neste ano, os preços administrados subiram mais de 4%. Normalmente, sobem menos do que o IPCA.Corrigimos uma parte dos remédios que tem o preço administrado pela Agência Nacional de Saúde, os dos planos de saúde. Na energia elétrica foi até anormal. Subiu 14%, 15%, em 12 meses. O preço do combustível tem como objetivo de médio prazo alcançar o valor praticado no Golfo do México. Acontece que, hoje, o combustível no Brasil está mais caro do que no Golfo do México.

Qual é a previsão de crescimento deste ano?

Estamos com 0,9%. É claro que nossa previsão muda a cada dois meses, para melhor ou para pior. No segundo semestre, por esses dados que vimos, a economia cresce 0,5% no terceiro trimestre, e no quarto trimestre, que já começou, podemos ter até mais. Estamos, daqui para a frente, com a economia crescendo em torno de 2%, 2,5%. É a taxa que dá para crescer enquanto persistir a crise internacional. Foi o que crescemos em 2013.

Mais que isso já correria o risco de desequilíbrio.

Mais do que isso é possível, havendo a recuperação da economia internacional. Com a recuperação, mesmo que lenta, o Brasil pode, no ano que vem, crescer 3%.

O sr. considera a presença do Estado fundamental?

Num momento de crise, o Estado precisa ter uma atuação maior. Isso nada mais é que a política keynesiana, nós não inventamos nada. Nós, aqui, temos um instrumento importante, que são os bancos estatais.

O sr. acha que teremos condições de reduzir a taxa de juros?

Teremos condições. Com superávit primário um pouco maior, com os preços das commodities não pressionadas, a questão da energia mais equacionada e, portanto, a pressão inflacionária menor, abre-se espaço para que o Banco Central normalize o crédito.

 

 

(Do Jornal O dia/iG)


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