BAHIA

Índio pataxó hãhãhãe denuncia invasão a terras demarcadas

O índio pataxó hãhãhãe, Tawary Titiah, da etnia Bainã, denunciou hoje (11) na Casa de Trocas, da organização não governamental (ONG) Engajamundo, que a área de mata pertencente à sua aldeia, localizada no sul da Bahia, no município de Pau Brasil, está sendo invadida há pelo menos duas semanas. O primeiro sinal foi dado por um agricultor familiar que ouviu barulho de motosserra na região e avisou a um grupo de jovens indígenas que fiscalizava o local. Ao chegar ao local, o grupo detectou o desmatamento.

“Nossa área é de 54,1 hectares e, para encontrar o local do desmatamento, andamos 16 quilômetros. Quando chegamos, vimos alguns homens derrubando árvores próximo à nascente do rio que nos abastece e dissemos que ali era área demarcada e que eles não poderiam fazer aquilo. Eles responderam que não éramos nada, éramos bichos e não éramos donos de nada”, disse.

Segundo Titiha, os homens já são conhecidos da tribo e, ao perceberem que estavam armados, os índios resolveram sair do local, com receio de que os invasores atirassem. “Eles chegaram a dar tiros, mas não nos acertaram. Comunicamos nosso cacique, que avisou à liderança e à Polícia Federal [PF]. A PF foi até lá, mas não encontrou os homens, só as árvores derrubadas”. O Ministério Público Federal também já foi comunicado.

Titiah acompanha a situação de longe porque pouco depois do ataque, embarcou para São Paulo para participar de um encontro nacional de jovens do Engajamundo, organização da qual participa. Entretanto, há dois dias, ele soube que, além da derrubada das árvores, invasores provocaram uma queimada na mata. “Eles fizeram isso para não deixar vestígios. No dia seguinte, uma boa parte da nossa floresta ainda estava sendo queimada. Eles fizeram algo bem planejado, porque, além de queimar para não deixar vestígio, fizeram perto da nascente do rio.”

O índio explicou que essa é uma das nascentes que abastecem a tribo e a única que vem direto da fonte. A queimada extensa prejudica o rio e suas áreas ribeirinhas. “Isso mexe bastante com nossa vida, porque não sabemos como será a recuperação da natureza, que precisa de bastante tempo para se recuperar. O impacto para a natureza é o desequilíbrio e para nós, povos indígenas, é como se estivessem nos enterrando porque dependemos muito do rio”.

De acordo com Titiah, vivem na aldeia cerca de 4,7 mil índios de diversas etnias. Á área é legalmente demarcada e pertence a eles desde 2013. “Eles deram um tempo quando fizemos a retomada porque a Polícia Federal estava na área. Há pelo menos seis meses, com a saída da Polícia Federal, eles recomeçaram a nos atacar”. Titiah ressaltou que os habitantes da aldeia dependem da mata e dos espaços reservados para agricultura, de onde extraem sua subsistência, que estão ameaçadas pelas invasões e extração ilegal de madeira. 

Agência Brasil


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