INTERNACIONAL

Nasa encerra missão Cassini com mergulho em Saturno

Foram 13 anos de descobertas no planeta mais charmoso do Sistema Solar, em uma das missões espaciais mais produtivas da história. O projeto conjunto da NASA e da ESA consiste em dois elementos principais: a sonda Huygens e o orbitador Cassini. Lançada em 1997, a missão Cassini-Huygens revolucionou o conhecimento sobre Saturno, suas 62 luas e oito grupos de anéis.

Depois de 7 anos de viagem interplanetária, a missão chegou ao seu destino. Assim, em 2004, Cassini e Huygens se separaram: enquato a primeira entrava na órbita do planeta gasoso, a segunda pousava na lua Titã, rochosa como a Terra e um verdadeiro oásis para a vida como não a conhecemos.

Com o fim do combustível da Cassini, a NASA optou por sacrificar a nave. Ela “se jogou” na atmosfera às 8:54 da manhã da sexta-feira, 15 de setembro de 2017.

Com isso, Cassini teve o destino grandioso que merece, cruzando os céus do nosso Senhor dos Aneis como um meteoro. Seus 12 instrumentos científicos se desintegraram — e se tornaram parte do planeta que tanto estudou.

Dados do último voo ajudarão a investigar a composição e a estrutura do planeta gasoso.
Segundo o jornal The New York Times, diversas pessoas se reuniram numa sala Instituto de Tecnologia da California (EUA) para acompanhar a “missão suicida”.

No momento da colisão e destruição da sonda, houve um silêncio no ambiente, seguido de aplausos e abraços, representando a celebração de toda a história e estudos de Cassini.

Projeto e início da missão
A ideia de mandar uma sonda para Saturno veio depois de dois anos do lançamento da Voyager, em 1982. Quinze anos depois, em 1997, a Cassini foi lançada do Cabo Canaveral, nos Estados Unidos.

LANÇAMENTO DO TITAN IV, RESPONSÁVEL POR LEVAR A CASSINI PARA O ESPAÇO (FOTO: NASA)

Antes de chegar ao planeta propriamente, a sonda passou duas vezes por Vênus e uma por Júpiter, onde teve alguns “empurrõezinhos” gravitacionais que a ajudaram a chegar em seu destino final.

Contudo, o percurso foi um pouco preocupante, já que entre 2001 e 2002 notou-se um “embaçamento” na câmera da sonda, que naquela época fotografava algumas estrelas da nossa galáxia. O problema foi resolvido tempos depois, quanto os cientistas conseguiram aquecer a câmera por alguns dias.

A Cassini-Huygens chegou ao sistema saturniano em 2004. Qquatro meses mais tarde, fez o primeiro sobrevôo de Titã. A sonda Huygens, por sua vez, só pousou na segunda maior lua do Sistema Solar mais tarde (por conta da densa atmosfera do satélite), transmitindo dados e fotos durante 90 minutos e revelando uma superfície rochosa, composta por neblina de metano.

Conheça as descobertas mais importantes:

Lagos em Titã
Em 22 de julho de 2006, Cassini encontrou evidências da presença de lagos na superfície de Titã. Foi a primeira vez em que uma descoberta do tipo foi feita em um corpo celeste fora da Terra.

Tempos depois os cientistas notaram que esses lagos são compostos de hidrocarbonetos (metano e etano) e proporcionam chuvas dessas substâncias que, como demoram para evaporar, formam rios e até oceanos.

TITÃ POSSUI LAGOS, MARES E RIOS FORMADOS POR HIDROCARBONETOS (FOTO: NASA)

Plumas de vapor e vulcões de água em Encélado
No segundo semestre de 2008, foi conduzido um sobrevôo em Encélado, a sexta maior lua de Saturno. Lá, foram notadas plumas de vapor e vulcões de água em sua superfície, o que, segundo o site da NASA, fez com que os cientistas mudassem a missão para poder observar melhor.

A importância da descoberta é que plumas e vulcões deste tipo são indícios de oceano subterrâneo, o que é essencial para a existência de vida como a conhecemos.

A rotação de Saturno é um mistério
Para descobrir quanto tempo dura um dia em Saturno, os cientistas emitiram ondas de rádio a partir da Cassini. Mas o resultado foi bem diferente do esperado. A variação nas ondas de rádio controladas pela rotação do planeta é diferente nos hemisférios norte e sul e também parecem mudar com as estações de Saturno, na qual o sul e o norte “trocam” taxas. Por esse motivo, a rotação do planeta ainda não é completamente conhecida.

Grandes furacões nos polos de Saturno
No fim de 2006, Cassini registrou imagens que provam a existência de furacões nos polos de Saturno, além de um jato de vapor hexagonal nos extremos do planeta (foto abaixo). Outra surpresa veio quando os especialistas perceberam que os furacões têm “olhos”, assim como os da Terra. Estima-se que a velocidade dos ventos chegue a 560 km/h e a extensão seja de 8 mil km.

AMBOS OS PÓLOS DE SATURNO TÊM FURACÕES PERMANENTES (FOTO: NASA)

2017: O Grand Finale
De abril à setembro de 2017, Cassini fez 22 mergulhos numa região pouco conhecida localizada entre o planeta e seus aneis. A região permanecia inexplorada até então, mas graças à sonda foi possível investigar — e fotografar — o espaço de 2,4 mil quilômetros.

Com o fim do combustível da nave, a sua “morte” é inevitável e por isso os cientistas optaram por fazer com que a Cassini cometesse suicídio, jogando-se na atmosfera de Saturno e se desintegrando no planeta gasoso.

A estratégia faz sentido uma vez que, se for deixada vagando pelo espaço, a nave pode colidir com alguma lua e contaminar os satélites com microorganismos terrestres.

IMAGEM DOS ANÉIS EM UM DOS “MERGULHOS” FINAIS DA SONDA (FOTO: NASA)

Segundo a Nasa, “sabe-se que alguns micróbios e esporos microbianos da Terra são capazes de sobreviver muitos anos em ambiente espacial — mesmo sem ar ou água, e proteção mínima contra a radiação”. Portanto, em 15 de setembro de 2017 a Cassini “se jogou” em Saturno.

Para isso, durante três dias, a nave se distanciou do planeta, e depois “mergulhou” em sua atmosfera — não sem antes enviar todos os dados remanescentes em tempo real para a Terra. Durente a entrada na atmosfera, Cassini entrou em combustão e misturou seus “pedacinhos” com os de Saturno.

Legado
Com o fim da missão Cassini, a NASA e outras agências espaciais pretendem criar um novo projeto inteiramente dedicado ao estudo da lua Titã, que se mostrou mais misteriosa do que se pensava.

Além disso, muitos estudos ainda serão feitos com os dados vindos da missão. São trabalhos como o da brasileira Rosaly Lopes, que entrou para o livro dos recordes por ser a pessoa que mais descobriu vulcões na lua de Io, em Saturno: um total de 71 estruturas ativas.

Em entrevista à GALILEU, antes do fim da missão, a cientista disse que o clima entre os colegas era de tristeza: “Tanta gente trabalha lá há tanto tempo… Eu, desde 2002, mas uma colega está desde 1989. Mesmo sendo de madrugada, acompanharemos juntos o mergulho final, inclusive com os familiares”.

Galileu


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