BRASIL

Pesquisa revela que matemática é um problema para estudantes

Não é difícil encontrar crianças (e até mesmo adultos) que dizem detestar matemática. Basta entrar em uma sala de aula de qualquer série do ensino médio e fundamental para confirmar a aversão da maioria dos alunos pela disciplina. A questão se resume à dificuldade em resolver cálculos e problemas.
Recentemente, a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgou o resultado do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa). Através dele, a instituição avalia a capacidade de milhares de estudantes dos cinco continentes com 15 anos de idade. O resultado brasileiro se mostrou aquém do esperado.

Dentre os 44 países avaliados, o Brasil ficou em 38º, com 428 pontos. Segundo o relatório, apenas 2% dos brasileiros conseguiram resolver problemas matemáticos mais complexos, bem abaixo da proporção dos estrangeiros, que chegou a 11%. Divididos por região, a média nordestina figurou em penúltimo lugar (393 pontos), perdendo apenas para o Norte (383). O pódio é dominado por asiáticos. Cingapura (562 pontos), Coreia do Sul (561) e Japão (552).

Mas, afinal, qual é a causa do desempenho baixo? O ensino da matemática é deficitário? Para buscar entender melhor estas questões, a Revista NORDESTE entrevistou o professor Jorge Lira, do Departamento de Matemática da UFC, vencedor do prêmio TWAS-ROLAC Young Scientists Prize – Mathematics de 2013 e pesquisador nas áreas de Geometria Diferencial e Análise Geométrica. “Esta é uma pergunta complexa e certamente não pode ser respondida apontando-se apenas um aspecto”, pondera.

Primeiramente, o professor reforça que a raiz do problema é a deficiência da formação de educadores. “Com honrosas e notáveis exceções, nosso professorado nos ensinos fundamental e médio é vítima e algoz de uma apresentação da Matemática muito aquém do seu real poder e fascínio. Isso não é culpa dos docentes, obviamente. O ponto crucial é que muitos atuam nas escolas sem licenciatura ou qualquer capacitação afim ao ensino. Quando são licenciados, o são em Pedagogia, como é o caso do ensino fundamental”, salienta o professor. 

Algumas faculdades de docência evitam que seus formandos cursem disciplinas de matemática, logo, a base deficitária não é corrigida. “O professor-pedagogo dispõe de uma miríade de técnicas educacionais muito inovadoras, mas sua formação em matemática data de seus tempos de estudante, quando certamente adquiriu uma visão cinzenta e estereotipada do assunto”, explica. 

Curiosamente, o Brasil é um dos líderes de pesquisa e inovação no campo. A União Internacional da Matemática aponta que o país ocupa a segunda posição, ao lado de Espanha, Suécia, Suíça e Coreia do Sul. “É importante lembrar que a pesquisa em Matemática começou de modo profissional no Brasil apenas nos anos 1950”, ressalta Jorge. O que falta, segundo o professor, é que ensino e pesquisa sejam aliados.

Nas licenciaturas, são ensinados diversos conteúdos avançados aos futuros professores, trazendo uma nova forma de ensinar matemática. Entretanto, ao chegarem às salas de aula dos ensinos fundamental e médio, pouco é aplicado. “É difícil serem explorados na prática os conceitos e métodos matemáticos, o que seria uma maravilha no ensino tecnológico, por exemplo”, explica. 

“Em resumo, entre o pedagogismo sem conteúdo matemático e a formação livresca das licenciaturas, é perpetuado um ensino de Matemática sem vida e insípido. Isto certamente gera o desinteresse de que somos testemunhas. O completo analfabetismo matemático de gerações contemporâneas de um mundo altamente tecnológico é derivado deste ensino da Matemática como uma espécie de língua morta”, enfatiza o estudioso.

(Leia a reporatagem completa na edição nº90 da Revista NORDESTE, à venda em todas as bancas)
 


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