MARANHÃO

Pesquisadores encontram recife no norte do Maranhão

Um imenso recife, com quase 10 mil quilômetros quadrados, foi encontrado recentemente na foz do Rio Amazonas. A descoberta, publicada na semana passada na revista “Science Advances”, é considerada surpreendente pela localização e pode mudar o entendimento científico sobre essas estruturas. Diferente dos típicos corais tropicais, o recife está numa região com pouca luminosidade, quase sem fotossíntese e oxigenação extremamente baixa.

Alojado em águas profundas, de até 120 metros de profundidade, o sistema todo é maior do que a região metropolitana de São Paulo. Tem cerca de 9,5 mil quilômetros quadrados, estendendo-se do norte do Maranhão até a Guiana Francesa.

Os cientistas seguiram pistas descritas em 1977 sobre a captura de peixes coloridos, típicos de recifes, na plataforma continental do Amazonas. A região do encontro das águas do rio com o Oceano Atlântico é considerada improvável para a presença de corais, pois a pluma altera a salinidade, o pH, a penetração de luz e sedimentação.

Os cientistas suspeitavam que poderia haver recifes ocultos na foz do Amazonas, por causa de algumas coletas pontuais, feitas anteriormente por pesquisadores americanos, e da alta produtividade da pesca regional de lagosta, pargo e outras espécies marinhas naturalmente associadas a ecossistemas recifais.
Ainda assim, quando puxaram as primeiras redes de coleta para cima, não acreditaram no que viram: uma enorme abundância de esponjas coloridas, corais e rodolitos – nódulos calcários construídos por algas coralináceas, também presentes em outros ecossistemas recifais do Nordeste.

“Nós encontramos um recife onde os livros dizem que não deveria existir um”, disse o coautor do estudo Fabiano Thompson, pesquisador da UFRJ, à “National Geographic”.

Por causa dessa escassez de luz, a paisagem dos recifes é dominada por esponjas e algas duras (coralináceas), em vez dos tradicionais corais – que dependem da fotossíntese para sobreviver.

Eles tinham em mãos um velho mapa, desenhado a mão, que tornou os modernos equipamentos de GPS ineficazes. Por isso, as buscas foram realizadas com sonares e a coleta de amostras confirmou a descoberta.

“Nós coletamos os animais mais coloridos e fantásticos que eu já vi uma expedição”, disse a líder do estudo Patricia Yager, da Universidade da Geórgia, nos EUA.

As análises ainda são preliminares, mas é provável que os micro-organismos que prosperam com os sedimentos da pluma do Amazonas podem fornecer a conexão entre o rio e o recife.

“O estudo não é apenas sobre o recife, mas sobre como a comunidade do recife muda enquanto você viaja ao Norte ao longo da plataforma, como resposta à quantidade de luz que a região recebe sazonalmente pelo movimento da pluma”, afirmou Patricia. “No extremo Sul, ele recebe mais exposição à luz, então muitos dos animais são mais típicos de recifes de corais e organismos que fazem a fotossíntese para se alimentar. Mas ao se mover para o Norte, isso se torna menos abundante, e acontece a transição dos corais para esponjas e outros construtores de recifes que parecem se alimentar dos sedimentos da pluma do rio”, completou.
Apesar de recém-descoberto, o recife já sofre com ameaças da ação humana. Cerca de 35 seções da plataforma continental na região foram adquiridas por companhias de petróleo, sendo que até 20 devem iniciar a exploração em breve em áreas próximas ao recife.

“Da acidificação e aquecimento dos oceanos aos planos para exploração de petróleo, todo o sistema está em risco do impacto humano”, alertou Patricia.

O Imparcial


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