CEARÁ

Prefeitura não entrega medicamentos e kit de lesão medular regularmente

Os pacientes com lesão medular afirmam que não recebem regularmente, da Prefeitura de Fortaleza, materiais para realizar procedimentos rotineiros de higiene, como cateterismo, e remédios necessários para o funcionamento da bexiga e do intestino. De acordo com os beneficiários, itens como sonda, xylocaína e a medicação baclofeno faltam constantemente.

Mantido pelo Município, o Kit de Lesão Medular é formado por itens que dependem da necessidade de cada paciente. Odair Mendonça, de 36 anos, vive com a lesão há 11 anos e realiza cateterismo vesical a cada quatro horas, durante o dia, e a cada seis horas, durante a noite. Odair é uma das pessoas à frente do Movimento Independente, que luta pelo benefício, e diz que a sonda, essencial para o procedimento, já ficou em falta por quatro meses.

"O programa nunca funcionou do jeito que tem que funcionar porque sempre faltam alguns itens. Quando o cidadão tem lesão medular, ele não consegue expelir tudo pela bexiga e é preciso passar a sonda", explica. "Se não usar a sonda, você desenvolve infecções urinária e renal".

O líder do Movimento Independente diz que, mesmo com a decisão, o programa continuou sem funcionar completamente. "A nossa luta é para as pessoas que estão em casa sem qualidade de vida, deprimidas. Lutamos por nós e também pelas pessoas que estão em casa sem poder lutar", conta.

"Eu estou numa cadeira de rodas por irresponsabilidade do Município. Sofri um acidente de trânsito, estava indo trabalhar quando me deparei com uma poça d'água. Era uma cratera", relata. "É um descaso, né? É uma das coisas que me deixa mais indignado".

Reabilitação

De acordo com o médico e liderança do setor de neuroreabilitação e lesão medular da Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação em Fortaleza, Miroval Leo Andrade Galvão, as pessoas precisam do kit de saúde porque não têm controle sobre a bexiga e o intestino. "Aumenta o risco de infecção urinária, pedras na bexiga e nos rins e pode culminar em insuficiência renal", explica.

"O uso repetido da mesma sonda também pode resultar em infecção, mas muitos pacientes não recebem o item corretamente", continua. "Segundo relatos dos pacientes, existe falta do recebimento tanto em relação aos materiais como de remédios e isso pode resultar em complicações clínicas. É uma queixa comumente levantada nas consultas".

A Rede Sarah atende, em Fortaleza, mais de 3 mil pacientes de lesão medular. Apenas metade, aproximadamente, é da Capital. Para ser atendido pelo hospital, é preciso realizar um cadastro de primeira consulta pelo site da Rede. O retorno para agendamento pode durar de um a dois meses.

O que diz a Prefeitura

A Secretaria Municipal da Saúde (SMS) afirma, por meio de nota, que os estoques do kit e dos medicamentos estão normalizados. "O Município é responsável por 100% dos custos do Kit Lesão Medular e para ter acesso ao kit, os usuários devem se cadastrar em sua Regional, levando os seguintes documentos: laudo médico, cartão do SUS e comprovante de endereço", explicou a assessoria de imprensa.

O Município informou que atende cerca de 1.400 portadores de lesão medular. Segundo o Movimento Independente, são 1.426 pessoas atendidas. A distribuição do kit ocorre em todos os postos de saúde de Fortaleza.

Lesão medular

O Trauma Raquimedular (TRM), também conhecido como lesão medular, pode levar a alterações motoras, sensitivas, autonômicas e psicoafetivas.

Qualquer dano à estrutura do canal medular (medula, cone medular e cauda equina) pode gerar paralisia ou alteração ou perda das sensibilidades, além de disfunção sexual e alteração dos reflexos superficiais e profundos.

De acordo com as Diretrizes de Atenção à Pessoa com Lesão Medular, publicado pelo Ministério da Saúde em 2013, o cuidado com os pacientes inclui ações que devem ser iniciadas no primeiro atendimento até a reintegração social. No Brasil, a incidência é de 6 a 8 mil novos casos por ano. 

O Povo Online


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