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Quadrinista paraibano assina desenhos da franquia Star Wars

Por Paulo Dantas

A nave dele cai num planeta e ele tem que lutar contra os rebeldes. Sozinho”, explica Mike Deodato sobre o episódio que está sendo escrito e onde é possível conhecer um pouco mais da personalidade do vilão Darth Vader, de Guerra nas Estrelas. O vilão terá uma aventura sem o aparato do seu exército à volta. “É a primeira vez que faço Guerra nas Estrelas. Isso está me lascando (de trabalho)”, conta, num misto de satisfação e cansaço. O desenhista paraibano garante que nunca foi muito fã do filme, mas admite que está gostando do roteiro e do trabalho. “Meu traço vai dar um tom mais aterrorizante”, adianta.

Mike Deodato e o desenhista Salvador Larroca assinarão os desenhos de “Star Wars: Vader Down”, HQ da editora Marvel com roteiros de Kieron Gillen e Jason Aaron. A edição será publicada em novembro. Além do trabalho feito sob encomenda, o paraibano divulga sua primeira incursão autoral.

Deodato acabou de lançar “Quadros”, com histórias curtas, sendo duas em formato pôster, entremeadas por comentários do autor. “Fizeram uma entrevista comigo falando de cada história, dá impressão que o cara está conversando comigo num bar, enquanto lê o livro. É o meu primeiro trabalho autoral em muitos anos”, frisa.

Após “Quadros”, Deodato está preparando “Morrer de Amor, Historias de Amor e Morte”, também autoral. “Estava planejando fazer para o final do ano, mas apareceu um monte de trabalho agora, vai ficar para o próximo”, avisa.

Outro projeto deve ser lançado em conjunto com o desenhista Mozart Couto: “Ranthar”. “É um personagem antigo que sumiu e apareceu agora milagrosamente”, comemora. Deodato garante ainda que deve lançar um outro SketchBook. O último trabalho desse tipo saiu pelo selo Criativo no final de 2014.


Grandes responsabilidades 

Mike Deodato Jr., nascido Deodato Taumaturgo Borges Filho, começou a carreira influenciado pelo pai, Deodato Borges, falecido em 2014. Mike conta que o pai lhe ensinou a desenhar e foi quem lhe apresentou primeiramente os trabalhos de mestres do quilate de Will Eisner e Burne Hogart. Borges era jornalista, radialista, roteirista, além de quadrinista, criador do personagem "Flama" em 1963. O personagem foi um dos primeiros a aparecer em revistas em quadrinhos publicadas na região. “Ele sempre me influenciou”. O desenhista explica que muito do que é hoje deve diretamente ao pai.

“Os ensinamentos foram marcantes. Tudo que eu sei hoje, conheci através do meu pai. Minha inspiração, o gosto dos quadrinhos. Ter me apresentado às obras dos grandes mestres. Ter me guiado. A maioria dos colegas tem que enfrentar a família, eu não precisei. Ele foi importantíssimo”, assevera. Em homenagem aos 30 anos da história produzida pelos dois, está sendo relançando o livro, “3000 Anos Depois”, produzido a quatro mãos. “É uma das obras mais conhecidas, publicada nos EUA, Alemanha, Portugal”.

Na época, um jovem introspectivo, Deodato lembra que fazia parte do estereotipo do nerd. “Eu era tímido, só ficava lendo gibi. Desenhando em casa. Não comia ninguém”, ri, lembrando o passado e ampliando a definição: “No meu tempo nerd era um cara de óculos, quatro olhos, magrelo, antissocial e colecionava quadrinho”, aponta, revelando um universo comum nas histórias de muitos super-heróis.

A partir dos 20 anos o então jovem Mike Deodato avançava no meio, já publicava em pequenas editoras no Brasil, em parceria com o pai. Com 30 anos começou a trabalhar nos EUA. “Em 94 comecei a fazer a Mulher Maravilha na DC Comics e daí não parei mais”, conta.

Desde 95 Deodato é exclusivo da Marvel. O trabalho acontece a partir de João Pessoa mesmo, via e-mail. Eles mandam o roteiro e o desenhista manda de volta o layout para aprovação.

Na Marvel, Deodato revela que praticamente já trabalhou todos os personagens, mas é mais conhecido pelos Vingadores. “Sou um dos que mais desenhou os Vingadores no mundo, em quantidade”, afirma.

Sobre o estilo, Deodato ressalta que ficou conhecido pelos super-heróis mais realistas, com desenhos dinâmicos. “São (traços) fotográficos, bem realistas, mas não estáticos. Tem um movimento que os super-heróis precisam. Já o estilo autoral, eu experimento um monte. É mais solto. 

Mais oportunidades

Para Mike Deodato o bom momento do mercado tem multiplicado a quantidade de eventos, publicações e editoras novas. “Está num momento muito bom, tanto criativamente como de vendas. A internet tem um papel importante nisso como divulgação. Plataformas Quikstart, Catarse. A possibilidade de publicar a própria revista sem passar por editora. Tudo isso mudou a cadeia de poder”, argumenta.

O desenhista lembra que hoje com essas novas plataformas os criadores colocam um projeto na internet e o público mesmo diz se deve ser publicado ou não. “Ainda tem os próprios filmes de super-heróis que estão trazendo de volta um público que as outras mídias roubaram dos quadrinhos. Hoje todo mundo conhece o “Homem de Ferro”, “Os Guardiões da Galáxia”. Antes só quem era nerd, quem lia gibi, conhecia. Ler quadrinho está voltando a ser popular no mundo”.

Apesar da boa fase e da maior aceitação dos nerds, não dá para ser milionário no ramo. Deodato lembra que os melhores anos dos quadrinhos, que davam muito dinheiro, foram os anos 90. “O mercado americano encolheu muito. Ainda dá para viver tranquilo. Cabe gente, apesar do mercado ser pequeno, basta a pessoa ter talento. Dá para viver”, assegura.
 


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