BRASIL

Quase 40% das crianças de favelas do Rio e do Recife já viram alguém atirando

Quase 40% das crianças que vivem em favelas no Rio de Janeiro e no Recife já viram um adulto usando uma arma de fogo. O dado, que mostra o cenário de violência em que crianças de comunidades estão inseridas, fazem parte da pesquisa “Infância e violência: cotidiano de crianças pequenas em favelas do Rio de Janeiro e Recife”, divulgado nesta semana pelo Centro de Análises Econômicas e Sociais (Caes) da PUC- RS.

A pesquisa, coordenada pelo professor Hermílio Santos, estudou o cotidiano de crianças pequenas de zero a oito anos em três comunidades do Recife (Santo Amaro, Chão de Estrela e Canal do Arruda), cinco favelas do Rio de Janeiro (Morro da Formiga, Morro dos Macacos, Parque Maré, Vila Cruzeiro e Minha Deusa) e em uma favela de Duque de Caxias (Mangueirinha).

As questões sobre armas na comunidade foram feitas a crianças de seis a oito anos. No Recife, das mais de 90 crianças ouvidas nessa faixa etária, 37% disseram ter visto alguém armado, sendo que 10% das crianças já viram um adulto atirar “muitas vezes”, 14% já viram “algumas (poucas) vezes” e 13% já viram “pelo menos uma vez”. No Rio de Janeiro, das quase 200 crianças que responderam ao questionário, 37% também disseram já ter visto a cena. Dessas, 18% das crianças entrevistadas afirmaram que a cena já foi vista “muitas vezes”.

Segundo Hermílio Santos, o dado mostra que a cena é comum nas comunidades já que as crianças, que ficam menos tempo na rua, presenciaram a situação em grande número. No Recife, por exemplo, Santos conta que praticamente todos os adultos entrevistados (97%) já ouviram tiros de armas de fogo, 89% já viram um policial apontando a arma, enquanto 71% já viu outras pessoas com armas.

Outro dado que chamou atenção foi que mais de 54% das crianças de favelas no Rio de Janeiro afirmaram já ter visto alguém sendo levado pela polícia nas ruas. Nas comunidades do Recife, o dado é ainda mais chocante: 82% dos pequenos já presenciaram a cena.

Tráfico de drogas

O tráfico de drogas também é um tipo de violência frequente nas favelas. Quase a metade das crianças entrevistadas (45%) nas comunidades do Rio já viu gente vendendo drogas na comunidade, sendo que um terço delas (32%) já viu “muitas vezes”, 10% já viu “algumas (poucas) vezes” e 3% já viu pelo menos uma vez.

No Recife, o número era menor. Apesar disso, mais de um terço (36%) das crianças entrevistadas afirmaram já ter visto. Para 19% dessas crianças, essa é uma cena que já foi vista por elas “muitas vezes”, 6% já viu “algumas (poucas) vezes” e para 11% essa cena já foi vista pelo menos uma vez.

Castigos, prática de bater e gritar

De acordo com Hermílio Santos, chamou atenção durante a pesquisa que crianças muito novas já começam a sofrer violência física dentro de casa. “No Recife, por exemplo, identificamos muitos casos de criança de um ano que já começam a sofrer muito. No Rio também vimos crianças de dois anos que são vítimas de violência”, afirma.

A afirmação de Santos aparece nos números: pelos relatos das próprias crianças, 75% delas já foram vítimas de agressão vítima por adultos, sendo que para 29% delas adultos já bateram “muitas vezes”. No Rio, o quadro é parecido: 71% disseram que adultos já bateram nelas, sendo que para 29% delas adultos já bateram “muitas vezes”.

Ainda segundo Santos, os dados mostraram que a mãe aparece como a principal agressora das crianças. A avó, principalmente no Recife, também aparece em alto número, pois muitas acabam criando a criança. O coordenador explica que, apesar de o pai aparecer menos na pesquisa isso não quer dizer que ele seja mais "pacífico".

"Às vezes pode existir uma corrente de violência, quando por exemplo, esse pai bate na mulher e essa mulher pode direcionar a violência para a criança".
 

iG


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