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Revista NORDESTE: 10 anos de bruxaria

Músico paraibano Júnior Cordeiro comemora seus 10 anos de carreira misturando rock e ritmos e mistérios nordestinos; a NORDESTE esteve no show realizado em João Pessoa e conversou com o artista

Por Jhonattan Rodrigues

Conhecido no meio musical pela alcunha de ‘bruxo do cariri velho’, o músico Júnior Cordeiro tem um estilo marcado pela mesclagem do forró, do baião e de ritmos nordestinos com o hard rock e o psicodélico. O paraibano está apresentando show comemorativo aos 10 anos sua carreira, intitulado 10mistificando. No show, realizado no Café Energiza, no dia 02 de fevereiro, em João Pessoa, o cantor apresentou um rock pesado e marcante, com duas guitarras, acompanhado do vocal vibrante de Cordeiro, cantando a plenos pulmões.

O público, composto de fãs cativados ao longo da década, teve a oportunidade de ver a banda tocando de pertinho o repertório de clássicos e do novo disco, “Sonhos, Sertão e Loucura”, lançado em 2016. O disco segue com as temáticas que são características da obra de Cordeiro, falando sobre o nordeste mítico e místico, as lendas, a magia, o messianismo. Também estão nele temas universais, como os sonhos, a loucura, o sobrenatural e trabalhos de Freud e Foucault. “Teve uma energia legal, bacana. Intimista. É uma coisa diferente para mim, porque eu sou acostumado com um público maior e eu me surpreendi pela proximidade do público comigo, com minha banda”, contou Cordeiro ao fim do show.
Confira a entrevista exclusiva com o cantor:

Revista NORDESTE: Tem alguma novidade nesses álbum em relação aos outros discos?
Júnior Cordeiro: No tocante à sonoridade, continua a mesma, que é um diálogo entre os gêneros tradicionais do nordeste e o rock n’ roll, sobretudo o rock psicodélico e o rock progressivo. O que tem de novo é uma temática um pouco mais distante do misticismo que eu abordo tanto, o nordeste mítico, as lendas, magia, feitiçaria, catolicismo rústico sertanejo. Tem isso também, mas não tanto quanto nos álbuns anteriores. Esse é mais acadêmico, mais voltado para o campo teórico. Porque eu abordo muito questões sobre onirismo, sobre sonhos, com citações à Foucault, sobre a história da loucura – o próprio título já diz ‘Sonhos, sertão e loucura’. Trata do evento da loucura, enquanto patologia mental e como isso atinge de uma forma geral a sociedade, como a loucura é recebida pelo público. É um tema que, vamos dizer assim, requer um pouco mais de observação.

NORDESTE: Como você começou a se interessar por isso?
Cordeiro:
Na verdade sempre tive uma predisposição muito grande para questão da loucura, dos devaneios e dos delírios, justamente por causa do nordeste mítico e místico, do messianismo, do sebastianismo, porque eu convivi com isso, eu sou de uma cidade antiga, colonial, São João do Cariri, que é muito cheia disso, de misticismo. e a loucura está intrinsecamente ligada a isso. A questão de gostar muito de psicodelia que é uma coisa que flerta muito com a extravagância, com a fuga da realidade… E a própria arte em si, os grandes artistas são realmente loucos, entre aspas. Então o universo da loucura me fascinou desde muito cedo, desde que eu comecei a compor e me enveredei por esse caminho.

NORDESTE: E quais são suas influências musicais, tanto na parte da música nordestina, quanto do rock?
Cordeiro
: Eu tenho uma influência notável do pessoal do Recife da década de 70. Da chamada psicodelia nordestina. Ave Sangria, Lula Côrtes, Marconi Notaro… esse pessoal bem ácido do Recife que já fazia isso, misturava os gêneros nordestinos com rock, hard rock, psicodelia e rock progressivo. O que tem de mais diferente na minha obra são os temas que eu abordo, que são bem distintos do que o pessoal faz. Porque eu trato de realismo fantástico. São temas mais relacionados a cultura popular, à memória coletiva.
 

NORDESTE: Você tem alguma memória de infância relacionada a isso?
Cordeiro:
Tudo que eu escrevo, acho que difiro um pouco dos outros compositores porque não falo como observador, falo de um experiência empírica mesmo, eu vivi com isso, com rezadeiras, benzedeiras, com lendas, ia para o mato, tinha medo de caipora, lobisomem, botija. Tudo que remete ao sobrenatural, ao realismo fantástico. Isso vive em mim, porque eu convivi e convivo com isso até hoje.

NORDESTE: O que você achou do show?
Cordeiro
: Muito bom, uma energia legal, bacana. Intimista. É uma coisa diferente para mim, porque eu sou acostumado com um público maior e eu me surpreendi pela proximidade do público comigo, com minha banda. Dificilmente a gente faz um show assim, muito pertinho de quem a gente conhece. É muito interessante isso, gostei muito. O meu histórico são shows de festivais, de 20 mil. Eu achei um barato, adorei, gostei demais. Justamente pelo intimismo, pela proximidade pelo público.

NORDESTE: Vão ter mais shows assim?
Cordeiro:
Esse é o primeiro da série. Agora a gente vai trabalhar editais e coisa e tal. Mas a cada mês em algum lugar do Brasil, vai haver esse show, que é o 10mistificando, que é comemorando 10 anos de carreira.

NORDESTE: Tem alguma novidade, trabalhando em algum projeto novo?
Cordeiro:
O meu DVD acústico, que vai ter um roupagem mais lírica. Esse show que você ouviu vai ter uma roupagem mais voz e violão. A gente está planejando uma roupagem mais trovadoresca para minha obra. Uma coisa mais voltada para a península ibérica, uma coisa mais voz e com violões, menos peso que essa levada rock n’ roll, que será o show de fato chamado 10mistificando.

NORDESTE: O desmistificando vai seguir essa linha mais acústica?
Cordeiro
: O que vai seguir a linha pesada é o “Sonhos, sertão e loucura”. Eu tenho quatro shows. Tem o “10mistificando”, que foi esse de hoje; o “Alma Nua”, que é o 10mistificando acústico; o “Sonhos, sertão e loucura”, que é o show com as guitarras e um show que é somente forró, abordando minha obra somente do lado do forró. Que eu misturo com clássicos da música nordestina, de Alcimar Monteiro, de Alceu.

NORDESTE: Não é cansativo?
Cordeiro:
Eu canso se eu não tiver nada que fazer. É a minha vida, eu vivo de compor, eu componho todos os dias e já tenho inclusive outro disco pronto, chamado “Homem da Multidão”, que é também é um disco mais problematizador, em cima da pós modernidade. Mas esse é um projeto para o futuro, para daqui a 3, 4 anos. Quero curtir muito o “Sonhos, sertão e loucura”, que é o que eu estou trabalhando.

NORDESTE: O disco novo já está completo?
Cordeiro:
Eu já fechei o caderno de composições. Tenho o disco inteiro pronto. Talvez eu até componha outro e coloque no lugar, mas a priori será esse disco. Vou trabalhar ainda umas ideias para ver o que a gente faz.
 


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