BRASIL

Revista NORDESTE: Maranhão aposta na exportação para crescer em 2017

Seguindo a série de matérias sobre economia dos Estados, a edição 119 trouxe detalhes a respeito da economia do maranhão, o estado sofre com a crise e enfrenta queda do Produto Interno Bruto, mas na exportação e no turismo para reverter essa realidade em 2017.

Maranhão – do Agronegócio à Exportação

O PIB maranhense sofre queda no primeiro trimestre devido a baixa nas safras de grãos, mas aposta forte na exportação de minérios, soja e boi em pé. Estado investe ainda em turismo na Rota das Emoções

Por Jhonattan Rodrigues

No Maranhão, a previsão é de queda de 3,2% do Produto Interno Bruto (PIB) até o fim de 2016. A queda se mantém no mesmo patamar da de 3,3% ocorrida no ano passado. A agropecuária é a grande vilã, responsável por 1,9% desta retração. Isso acontece devido a problemas climáticos causados pelo El Niño que prejudicaram a safra de grãos. Porém a projeção para 2017 é mais favorável, com uma recuperação esperada de 4,1% – caso haja melhoras climáticas.


Esse resultado reflete a importância da agropecuária para o Maranhão. “A economia maranhense historicamente se especializou na economia de bens primários, que tem uma base rural bastante pronunciada, ainda. Cerca de 30% da população está ocupada na agropecuária, sendo que quase a totalidade dessas pessoas estão na pequena produção familiar”, revela Felipe Holanda, economista e presidente do Instituto Maranhense de Estudos Socioeconômicos e Cartográficos (IMESC).


O peso rural é tão grande, que uma parcela expressiva do PIB provém de benefícios pagos a famílias e a trabalhadores do campo. “Aqui no Maranhão cerca de 2 bilhões de reais são pagos por ano a título de aposentadoria no segmento rural, o que gera um impacto muito grande e muito capilarizado. A partir do plano real, da estabilização, temos um movimento de expansão do crédito: crédito consignado, crédito imobiliário, que bateu em 2014 R$ 1 bilhão por ano, a concessão de novos créditos. Talvez o fator – e isso é uma leitura que existe sobre essas políticas sociais da fase Lula e pós Lula – a elevação do salário mínimo, teve grande impacto no estado, principalmente por causa da chamada aposentadoria rural e os benefícios de prestação continuada. Com o aumento do salário mínimo isso gerou uma renda bastante grande e o Bolsa Família também tinha um papel muito importante no Estado, porque ele cobre mais da metade das famílias. 55% das famílias maranhenses recebem o benefício. O que no caso do Maranhão é mais de 2% do PIB. O (impacto do) Bolsa Família no país é 0,4% do PIB”, conta Holanda.
 

Exportação de bovino e minério


Grande parte da economia maranhense vem de suas exportações. Ainda na época do Brasil colonial, o estado exportava cana-de-açúcar, algodão, arroz e produtos da pecuária, como carnes e couros. “Porém, por ser um estado distante da costa leste, o Maranhão se viu isolado. (O Brasil) sempre teve enormes desafios em transpor suas distâncias internas a partir da capital”, conta o economista. Para isso seria necessário “subir os cursos dos vários rios a exemplo do rio Itapecurú, do rio Mearim, do Grajaú, Pindaré, e o Maranhão acabou tendo um grau de articulação historicamente menor […] Ele teve alguns ciclos de grande dinamismo, digamos assim, mas muito breves, nos momentos em que apareciam janelas no mercado internacional, a exemplo das guerras de independência dos Estados Unidos, das Guerras Napoleônicas, que deslocaram a possibilidade dos Estados Unidos de fornecerem os gêneros coloniais (arroz, cana-de-açúcar) para a Europa, a exemplo da Guerra de Secessão norte-americana, de 1861 a 1865, e também na primeira e segunda guerra mundial, nas quais o Maranhão exportou uma base têxtil, algodão e alguns produtos manufaturados de algodão. Mas essa base exportadora teve pequenas capacidades de custo exatamente porque durava pouco tempo”, explica Holanda.

Mineração


A partir da década de 80 o Maranhão experimentou crescimento na área de mineração, com a implementação do Consórcio de Alumínio do Maranhão (Alumar), em 1984 e da Vale, em 1985. “Esse movimento, que começa com o segundo Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND), com a instalação do complexo Carajás, tem um desdobramento na primeira década deste século, a partir de 2004, 2005, com o forte crescimento da demanda chinesa por minério de ferro, que resignificou esse programa instalado. Com a valorização do minério de ferro, de alumínio, houve um forte crescimento dessa indústria”, conta o economista. Hoje a China é a principal beneficiária, representando 16% dos negócios externos do estado, dentre os quais o ferro é o mais procurado. Entretanto o insumo teve baixa de 50,3% nos preços em relação a 2015. Apesar disso avança ainda o projeto de implementação de uma usina siderúrgica na cidade de Bacabeiras, bancado pelo país asiático, que irá investir US$ 8 bilhões. Vale ressaltar que o ferro não é minerado no Maranhão, mas em Canaã dos Carajás, no Pará. De lá ele sobe pela Estrada de Ferro Carajás até o porto de Ponta de Madeiras, em São Luís.


Além do ferro, a alumina calcinada, produzida pela Alumar, é outro produto importante nas exportações do estado. Apesar da queda nos preços internacionais do alumínio, que fizeram o lucro despencar 22%, a quantidade de alumina exportada aumentou 6,1%, ou 105,4 mil toneladas desde o primeiro trimestre de 2015.


Entretanto, Felipe Holanda ressalta que a estrutura industrial maranhense é “pouquíssimo diferenciada”. “Alimentos e bebidas são os mais importante. Se forem pegos esse ramo, pegar o metalúrgico e a produção sucroalcooleira (cana-de-açúcar, álcool), esses três setores, tem-se cerca de 80% da produção industrial do estado. Então se vê que ela é pouco diversificada” e prossegue: “tem um movimento primário exportador, que vem a partir do complexo minero-exportador, que dá realmente o grande impulso para a atividade industrial” porém “esse projeto minero-exportador alavanca pouco em termos da estrutura industrial, porque a maior parte da produção é exportada com pouquíssima agregação de valor”.

Agropecuária em alta com soja, celulose e boi


Ao lado do setor metalúrgico, a agropecuária sustenta as exportações maranhenses, puxado pelo agronegócio. Vale ressaltar que a celulose e soja, junto ao ferro e alumina, representam 85,7% das exportações do estado. A pasta de celulose, segundo maior produto exportado pelo Maranhão, é produzida desde 2014 pela empresa Suzano, com base na cidade de Imperatriz. A celulose apresentou aumento na quantidade comercializada, porém baixa nos preços, caindo 5,0%.


Além disso, o Maranhão integra a região chamada Matopiba (que abrange os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, daí o nome), que é a grande promessa agrícola atualmente no Brasil – com destaque para a soja. “Tem uma base técnica importante que é o desenvolvimento de sementes pela Embrapa, adaptadas ao cerrado e você tem essa atividade que hoje, segundo dados de 2015, apontam o Maranhão com uma produção de 4 milhões de toneladas de grãos, sendo que mais de 2 milhões são de soja e 1,4 milhão de milho”. Entretanto, devido a problemas climáticos, a safra desses dois grãos sofreram retração drástica. O milho foi o mais prejudicado. Em 2015 foram 177,1 milhões de toneladas exportadas, arrecadando US$ 33,5 milhões. Em 2016 foram US$ 6,1 milhões arrecadados para 35,3 toneladas vendidas – baixas de 81% e 80%, respectivamente.


Os setores que apresentaram crescimento foram o de algodão (aumento de 12% no preço e 16,3 na quantidade) e notadamente o comércio bovino que apresentou 342,3% de aumento na quantidade e 164,2% no preço. “São 7,8 milhões de cabeças de gado bovino […] É o segundo maior rebanho bovino do nordeste, ficando atrás apenas da Bahia, que tem 10,8 milhões”, ressalta Holanda. Em 2016 o Maranhão começou a exportar o chamado boi em pé, bois vivos, com cargas para o Egito.

Portos de Itaqui, Ponta Madeira e Alumar

Para escoar todas essas cargas, o Maranhão conta com três grandes portos: Itaqui, Ponta da Madeira, pertencente à Vale, e o da Alumar. O Porto do Itaqui, é federal, concedido para o estado, alcançou o recorde de 20 bilhões de toneladas, no início do ano passado, destaque para a melhora na gestão, que levou a um aumento da lucratividade do porto, e a capacidade de recursos próprios para investir. No porto teve implantado o TEGRAM (Terminal de Grãos do Maranhão), um projeto estruturante que transformará o Itaqui no principal porto exportador de grãos das regiões Norte e Nordeste do Brasil. A operação de grãos está crescendo fortemente, a partir da inauguração feita presidente Dilma Rousseff no ano passado. São quatro unidades, cada uma com 125 mil toneladas estáticas administradas por consórcios privados que detém esse terminal e têm possibilitado um rápido crescimento nas exportações graneleiras do estado. “Tem vários berços ali, na região do Itaqui, tem operações de exportação de papéis celuloides, uma operação de importação de derivados de combustíveis, que em 2014 somaram US$ 6 bilhões”, explica Holanda. Segundo o economista, o porto Ponta de Madeira comporta 160 milhões de toneladas de ferro e já prepara para saltar para 230 milhões com a ampliação que foi feita a partir do píer 4 da Vale e a duplicação da Estrada de Ferro Carajás.


Esses portos são alimentados por uma rede de ferrovias que trazem o ferro, a soja, as carnes e a celulose que será exportada. “São 3 que servem ao estado: a ferrovia São Luís-Teresina, a Transnordestina; a ferrovia Estrada de Ferro Carajás; e a Norte-Sul que passa pelo estado até Açailândia. É um porto altamente estratégico, de águas profundas, o mais próximo que temos do Canal do Panamá e temos um importante ativo no que diz respeito ao adensamento das cadeias produtivas do estado.” Itaqui é reconhecido com um dos porto com maior amplitude de maré, chegando a profundidade de oito metros, ficando atrás apenas do porto de Ilha de Maracá.

Turismo se mantêm aquecido

Três polos turísticos estão consolidados e em processo de expansão no estado: São Luís, capital histórica, muito ligada à cultura e ao patrimônio histórico. A cidade teve, inclusive, tombada festas como bumba-meu-boi; o turismo no Lençóis Maranhenses, um parque de 1.500 km². Uma beleza única no mundo, com dunas e lagoas um dos principais destinos turísticos do Maranhão. Criado em 1981, o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses. As dunas – comuns nessa região do país – são formadas pela força dos ventos, que criam uma paisagem única e alteram constantemente sua aparência. Nesse ‘deserto’ é possível encontrar lagoas formadas pelo acúmulo de água das chuvas. A visita aos Lençóis está em rápida expansão, muito do turismo na área é feita pela cidade de Barreirinhas, uma das mais importantes dentro do parque. Há ainda a cidade de Paulino Neves que concentra em um só local atrativos naturais chamados pequenos Lençóis Maranhenses, rios, corredeiras e lagoas de água cristalina, assim como praias cercadas de dunas e ao mesmo tempo de vegetação nativa. 


Tudo isso perfazendo à Rota das Emoções, um roteiro que reúne Maranhão, Piauí e Ceará, indo até Jericoacoara, com experiências de tirar o fôlego do turista no seu exotismo e beleza.


O governo ainda está fazendo uma requalificação do aeroporto de Barreirinhas, para receber aviões de porte médio e possa permitir um fluxo maior de turistas para a região. “Esse é um segundo polo que está crescendo, com grande dinamismo nessa questão de pousadas e resorts, e de fato está se consolidando como um destino turístico, inclusive como um segmento de turismo mais sofisticado para resorts e esportes de aventura. O outro polo é a chamada Chapada das Mesas, cuja cidade mais importante é Carolina, onde tem cachoeiras, cavernas, na região sul do estado. Além de Carolina, Imperatriz e Balsas têm seus aeroportos em processo de expansão e recebendo um turismo cada vez maior”, conta Holanda.


Outra grande promessa, segundo o economista, é a região das reentrâncias maranhenses ou litoral ocidental onde fica a Ilha dos Lençóis, a Floresta dos Guarás. “A região é muito bonita e começa agora a se integrar mais, com alguns investimentos do governo do estado na parte rodoviária.”

Investimento em energias

O Maranhão vem investindo em alternativas energéticas como gás e eólica. “O estado tem, já reconhecida, a maior reserva onshore de gás do país, na Bacia do Parnaíba, onde ficam os municípios de Santo Antônio dos Lopes e Capinzal, onde hoje está instalada a Eneva, que extrai o gás e o transforma em energia elétrica e já produz 8,5 milhões de metros cúbicos por dia […] Na parte de energia eólica temos alguns grandes projetos como a Ômega Energia, que está montando um parque eólico nos lençóis maranhenses, em Paulino Neves e Barreirinhas, com investimento de 4 bilhões de reais e que deve ficar pronto em 2019”, conta o economista. 


Nos leilões de blocos de exploração, tanto na Bacia do Paranaíba, quanto na de Barreirinhas, offshore, o estado recebeu bons lances das empresas. “Esperamos para os próximos anos o incremento de descobertas e o aumento da produção de gás. E o grande desafio do ponto de vista estratégico do estado é a utilização de uma parte desse gás para a indústria de transformação, possibilitando, por exemplo, o adensamento da cadeia de siderurgia, petroquímica, produção de fertilizantes, principalmente para a cadeia do Matopiba, e outras como pisos e cerâmicas, agroalimentar, e mais uma série de aplicações possíveis para esse gás. E temos uma empresa de distribuição de gás, a Gasmar, que atua já no setor, e que desenvolveu um projeto para um gasoduto que é uma das apostas estratégicas mais importantes para poder diversificar a indústria de transformação maranhense”, informa.


Atualmente o Maranhão aposta não apenas no aumento de suas possibilidades energéticas, como também em uma possível auto-suficiência. Segundo Holanda, grande parte do que é produzido na área de alimentos é exportado. Agora o governo estadual tenta rever isso. “Se têm um desafio grande que estamos avançando bem, é com uma política chamada Sistema Estadual de Produção e Abastecimento (SEPAB), que vem apostando na substituição das importações agroalimentares interestaduais. O enorme potencial que o Maranhão tem para substituir essas exportações e montar uma base de produção não só para o mercado interno, como para o regional e para o exterior. Temos, portanto, dois grandes ativos que são muito importantes para essa estratégia de adensamento das cadeias produtivas: um deles é a matriz energética diferenciada com destaque para o gás e para a eólica e a outra é agroindústria, que também tem grande potencial, que não tinha sido ocupado, mas que agora estamos olhando com grande atenção para o segmento”, conclui.
 

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