BRASIL

Revista NORDESTE mostra descaso com mobilidade urbana nas cidades

A menos de três meses da Copa do Mundo, as cidades-sede nordestinas já estão com arenas prontas para receber os jogos, mas as obras de mobilidade urbana estão atrasadas. Entretanto, mais que alargamento de vias, construção de BRTs (ônibus rápidos de alta capacidade) e veículos sobre trilhos, o deslocamento para os pedestres deve ser levado em conta na hora de receber um evento desta magnitude.

Apesar disso, a situação não é muito diferente das demais capitais do país. Ao andar pelas ruas, é difícil transitar com tranquilidade, principalmente a pé. Buracos, calçamentos desnivelados, dificuldade de acesso ou mesmo calçadas ocupadas por comerciantes. Em Salvador, que receberá jogos importantes como Espanha x Holanda, a situação é ainda mais complicada devido à geografia da cidade, com muitas ladeiras, vales e elevações.

“Além dos problemas normais que encontramos em uma cidade grande, Salvador tem uma topografia diferenciada, com escadas ergonomicamente impossíveis de serem subidas e muitas delas esburacadas”, conta o professor Juan Pedro Moreno Delgado, do curso de Urbanismo da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

Morando há mais de 12 anos na cidade, Iuri Sacerdote conhece bem a realidade do pedestre na capital baiana. Como agente de pesquisa do IBGE, ele percorre diariamente todas as áreas da cidade, encontrando muitos problemas ao longo do caminho. “Andar na calçada, em linha reta, sem desviar de algum obstáculo, é um desafio. Carros, árvores, postes, vendedores, dividem-se um espaço pequeno com tudo isso. Sejam áreas nobres ou populares, o calçamento é muito desnivelado”, relata Iuri.

Diametralmente oposta à Salvador, Recife é extremamente plana. Contudo, a situação não é muito diferente. Diversas obras, com investimento de aproximadamente R$ 833,3 milhões, segundo o portal da Controladoria Geral da União, contemplam soluções para o trânsito, expandindo metrôs e implantando faixas exclusivas de ônibus. Apesar disso, andar pelas ruas ainda não é uma tarefa fácil para quem não é motorizado.

“Segundo dados do governo do estado, as obras também incluem a reconstrução das calçadas. Contudo, até o momento, os corredores não têm recebido intervenções nelas, não há previsão para instalação de vias seguras para ciclistas, tampouco melhoria na iluminação pública”, lamenta Rafael dos Santos Sales, coordenador de Práticas Empresariais e Políticas Públicas do Instituto Ethos.

O desenvolvedor de software Matheus Torres mora na Zona Sul da região metropolitana de Recife, em Jaboatão dos Guararapes, onde, segundo ele, as calçadas são um pouco mais preservadas que as do centro. “Ainda assim, não é difícil encontrar no meu bairro calçadas esburacadas ou com pilhas de lixo, que atrapalham a locomoção. No Centro, a situação se agrava com o excesso de ambulantes disputando espaço com pedestres para vender produtos. Falta bastante organização e investimento no conserto e preservação de calçadas, especialmente nos bairros centrais”, disse.

Em Fortaleza, existe desde 1981 uma lei que fiscaliza a situação das calçadas, o Código de Obras e Posturas (Lei 5530/1981). Entretanto, segundo a professora Nadja Dutra, do departamento de Engenharia dos Transportes da Universidade Federal do Ceará (UFC), este código não é exercido e nem mesmo as obras da Copa trouxeram alguma mudança. “Com a exceção de alguns pontos, a readequação desses passeios públicos não aconteceu. Os moradores lidam com as calçadas como se elas não fossem espaço público, mas sim uma extensão”, explica.

(Veja a matérica completa na Edição nº88 da Revista NORDESTE já disponível nas bancas de todo país)
 


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