BRASIL

Revista NORDESTE resgata memória da independência de Pernambuco em 1817

No ano de 1817, durante 75 dias, Pernambuco foi uma república independente do Brasil. A revolução contra o Império, que na época ainda era o português, é um ato celebrado hoje pelo povo pernambucano. Tanto é que o Estado está organizando uma comemoração para o aniversário de 200 anos da revolução.

Confira a matéria da 116º Edição da Revista Nordeste:

1817 e a Luta contra o Império

Festa deve comemorar 200 anos de declaração da independência de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará, inspirada pela Revolução Francesa

Por Jhonattan Rodrigues

Em 1817, Pernambuco viveria um dos momentos mais emblemáticos de sua história. Uma revolução, perpetrada pela população descontente com os abusos do império português, viria a tomar o poder e instaurar a república em Pernambuco.

Em comemoração aos 200 anos deste marco de liberdade, uma comissão, coordenada pelo secretário executivo da Casa Civil de Pernambuco, Marcelo Canuto, está preparando diversos projetos que relembrem e ressaltem a importância da Revolução Pernambucana. Na foto acima o governador do Estado, Paulo Câmara, recebe a comissão, formada pela Prefeitura do Recife, de Olinda, o Instituto Histórico Pernambucano, a Academia Pernambucana de Letras, a Assembleia Legislativa e o Ministério da Cultura, para tratar do tema.


Canuto conta que ao longo de 2016 serão promovidas diversas manifestações de valorização da data, nos mais variados âmbitos. A comissão chegou a elaboração de quinze ações, das quais se destacam: a promoção do debate do tema nas escolas, nas disciplinas de história e realização de concursos de redação para o ensino médio e de monografias, a nível acadêmico; a criação coletiva da Sinfonia do Bicentenário por maestros pernambucanos; elaboração de Edital Público para produção e encenação de peças teatrais sobre 1817; a Construção do Monumento do Bicentenário; e a restauração do prédio do Arquivo Público.

Além disso, ao longo das cidades de Recife e Olinda serão fixadas placas de azulejo nos locais de relevância para a Revolução de 1817 e será criado um Roteiro Educativo da Revolução, com visitas guiadas e distribuição de material informativo nos locais relevantes a exemplo do Arquivo Público e do Forte do Brum, sendo um roteiro para os estudantes e outro para turistas.

“Os ideais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade são marcos pelos quais até hoje a sociedade luta e tenta aperfeiçoar. Quando se para para pensar que mesmo após 200 anos esses ideais ainda são atuais, é que se vê a importância destes valores serem replicados e trabalhados nos dias de hoje”, conclui Canuto. Na época, grito de independência em Pernambuco se alastrou por Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará, mas revolta foi sufocada pelo Império. 

História

A chegada da família imperial portuguesa ao Brasil, em 1808, fugidos do avanço das tropas napoleônicas, marcou o início de uma época áurea para o Rio de Janeiro, local onde se instalaram. O Rio então deixaria de ser uma simples capitania colonial e alcançava a alçada de capital do império. Porém o crescimento veio a custo de altos impostos cobrados para manter a luxuosa corte portuguesa. Também não agradava à população os diversos lusitanos que agora aportavam no país e tomavam os cargos públicos dos brasileiros.

Pernambuco sofria com essas mudanças. Anteriormente, próspero produtor de cana-de-açúcar, a capitania agora tinha que enfrentar a concorrência holandesa. Como agravante, uma seca assolava o sertão, aumentando a pobreza, a fome e, consequentemente a insatisfação popular. Toda essa situação gerou uma revolta que envolveu as camadas mais populares, os militares, o clero católico e intelectuais, culminando na Revolução Pernambucana de 1817. Por 75 dias, a capitania de Pernambuco seria uma república dentro do Brasil Imperial.

Antecedentes

Somado à revolta gerada pelas exigências do império português, pairava àquela época, no mundo inteiro, os ares revolucionários, inflamados pela Independência dos Estados Unidos (1776) e pela Revolução Francesa (1789-1799). Textos de autores iluministas, pregando o fim absolutismo monárquico e do despotismo clerical, e que tiveram papel fundamental nas revoluções estadunidenses e francesa, corriam o mundo inteiro e não tardaram a chegar ao Brasil, trazidos por jovens que iam estudar em solo europeu.

Um destes estudantes foi Manuel Arruda Câmara, botânico que em 1798 fundou a sociedade secreta do Areópago, nos moldes da maçonaria. Funcionando estrategicamente na cidade pernambucana de Itambé, na divisa com a Paraíba, longe dos centros urbanos – e da atenção das autoridades – o Areópago foi criado por Câmara junto a outros idealistas que tinham o interesse de professar os princípios de Liberdade, Igualdade e Fraternidade da Revolução Francesa e germinar o pensamento anti-monarquista no seio nordestino.

Outra instituição onde também corria livremente e com força as ideias iluministas era o Seminário de Olinda, formada em 1800. Padres e alunos do seminário, em conjunto com integrantes do Aerópago e liderados pelos irmãos Luís Francisco de Paula Cavalcanti, José Francisco de Paula Cavalcanti e Francisco de Paula Cavalcanti, planejavam o que viria a ser conhecido como a Conspiração dos Suassunas – cujo nome provém do Engenho Suassuna, de propriedade dos irmãos. O grupo tinha ideia de implementar uma república em Pernambuco, sob a proteção de Napoleão Bonaparte. Em 1801, entretanto, a trama viria a ser desbaratada com a delação de um traidor ao governo. Os conspiradores foram perseguidos. 

A ideia de um Pernambuco livre das mãos portuguesas não morreu aí. No Engenho Suassuna o Areópago, desfeito em 1802, foi reaberto, com o nome de Academia Suassuna, e passaria os próximos 15 anos espalhando os ideais republicanos.

Arruda Câmara faleceria em Itamaracá, Pernambuco, aos 70 anos, sem ter a chance de presenciar a chama libertária que ele ajudou a acender se alastrar por Pernambuco.

A Revolta

Em 1817, ao saber dos planos de instaurar uma república em Pernambuco, o governador da capitania Caetano Pinto de Miranda Montenegro expediu ordem de prisão aos envolvidos. No entanto, os rebeldes, liderados por José de Barros Lima, conhecido como Leão Coroado, conseguiram rechaçar as forças oficiais e, no dia 6 de março, tomaram o controle de Recife.

Igualmente à Conspiração dos Suassunas, a revolta era encabeçada por membros de sociedades secretas, destacadamente os líderes maçônicos Domingos José Martins e Antônio Cruz. A revolução também ficou conhecida como Revolta dos Padres, pela participação importante de membros do clero, como João Ribeiro de Mello e Miguel Joaquim de Almeida Castro, chamado Padre Miguelinho, ambos professores do Seminário de Olinda e participantes da Academia Suassuna. Mais tarde viria a se juntar à revolução e desempenhar papel importante o Frei Joaquim do Amor Divino Rabelo, conhecido como Frei Caneca.

A república instaurada seguia os moldes da Revolução Francesa, garantindo liberdade de pensamento, crença e imprensa, extinguindo títulos de nobreza e separando o estado em Judiciário, Executivo e Legislativo. A escravidão, entretanto, não foi abolida. A revolta teve cunho profundamente nativista, contando com uma bandeira própria, confeccionada pelo Padre João Ribeiro – e que se tornaria a atual bandeira de Pernambuco, com a diferença de que a atual possui apenas uma estrela, enquanto a outra ostentava três, representando Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte, por estes dois últimos estados terem contribuído com a revolução. O patriotismo era tanto que nas missas e reuniões foi trocado o pão e o vinho pela aguardente e massa de mandioca, produtos da região.

A Revolução dos padres

Logo após a tomada de Recife, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará também proclamaram independência. Entretanto a adesão popular foi mínima nesses estados, tornando o governo muito fraco. José Inácio Ribeiro de Abreu e Lima, o Padre Roma, seguiu por mar a caminho da Bahia. Parando em Sergipe, conseguiu apoio de Antônio José Vitoriano Borges da Fonseca, comandante da comarca. Ao aportar na Bahia, não teve a mesma sorte: Marcos de Noronha e Brito, o Conde dos Arcos, a favor dos governistas, manda prendê-lo e Roma é fuzilado três dias depois, em 29 de março. A Bahia seria dali em diante ponto de apoio para as tropas governistas e o Conde dos Arcos um dos principais carrascos dos rebeldes. A partir da Bahia, as tropas oficiais avançaram por Sergipe, esmagando a resistência de Borges da Fonseca e avançando até Pernambuco. Simultaneamente, uma esquadra foi enviada por Dom João para bloquear os portos recifenses. A república pernambucana ainda tenta se defender, enviando homens para conter o avanço das tropas governistas, mas são derrotados. Ao perceber o enfraquecimento do governo de Pernambuco, pró-impealistas se juntam e conseguem debelar as recém formadas repúblicas do Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba. Cercados, sem apoio ou defesa, o governo de Pernambuco se rende em 20 de maio.

Os envolvidos no movimento foram perseguidos e presos, alguns foram executados, tendo seus corpos esquartejados e as partes expostas em locais públicos. Padre João Ribeiro cometeu suicídio. Alagoas, que até então era parte integrada à Pernambuco, pela cooperação com o Império, virou uma capitania independente.
Em 1821, Dom João concedeu anistia aos rebeldes e diversos prisioneiros foram libertos. Entre eles estava Frei Caneca, que prosseguiria com a luta revolucionária, atuando no jornal Typhis Pernambucano. Essas revoltas só acenderam ainda mais o orgulho patriótico e libertário pernambucano, que viria a ser palco de mais duas revoluções: a Confederação do Equador, cujo um dos líderes foi o próprio Frei Caneca e a Revolução Praieira.

Os planos para Napoleão 

Paralelo à revolução, Antônio Gonçalves da Cruz, o Cabugá, foi enviado aos Estados Unidos com 800 mil dólares para conseguir armamentos, auxílio diplomático estadunidense e recrutar veteranos da revolução francesa. Em troca, os soldados teriam a oportunidade de resgatar Napoleão, em exílio na ilha de Santa Helena, no meio do Atlântico, à altura de Pernambuco. O ex-imperador seria levado ao Brasil e então ao Estados Unidos.

Cabugá conseguiu contatar José Bonaparte, irmão de Napoleão e ex-imperador da Espanha, e recrutar diversos veteranos franceses, alguns inclusive de alta patente que, animados com a notícia do sucesso da revolução em Pernambuco, embarcaram em direção ao Brasil.

Entretanto, ao aportar no Rio Grande do Norte, em agosto, a revolução já havia malogrado e os planos de resgate de Napoleão afundariam de uma vez por todas. Porém, para estes o destino foi mais favorável: os franceses foram deportados e Cabugá continuou a viver nos EUA, se tornando cônsul-geral, nomeado por Dom Pedro I.

 

 

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