SERGIPE

Sem receber, médicos de Aracaju podem deflagrar greve geral

Representantes dos sindicatos dos profissionais da saúde se reuniram na tarde desta terça-feira, 19, na sede do Sindicato dos Médicos de Sergipe (Sindimed), com o intuito de discutir os atrasos dos salários dos profissionais da saúde do município de Aracaju. Os profissionais estão com os salários de dezembro e férias atrasados. Nos dias, 18 e 19, os médicos que trabalham nas unidades de saúde do município paralisaram suas atividades. Outras categorias, como enfermeiros, técnicos, auxiliares de enfermagem e agentes de saúde programaram paralisações para os dias 20 e 21 de janeiro.

Segundo Marcos Macêdo Santana, presidente do Sindicato dos Cirurgiões-Dentistas de Sergipe, o intuito da reunião foi unificar as ações das categorias de saúde. “Nós temos diversas categorias que estão paralisadas por conta do atraso dos salários. Historicamente, nunca se atrasou os salários destes profissionais na Prefeitura de Aracaju. Essa gestão está colocando os trabalhadores da Saúde numa situação desesperadora, com falta de recursos para sustentar suas famílias. Foi um atraso intempestivo e sem aviso. Janeiro é um mês em que temos muitas despesas como matricula escolar, IPTU, IPVA, passagem e tantos outros impostos. A falta de salários pegou todos os profissionais despreparados”, explicou.

Flávia Brasileiro, representante do Sindicato dos Enfermeiros, disse que a hora é de traçar estratégias para demonstrar o descaso da prefeitura municipal de Aracaju com os profissionais da saúde e com população que depende dos serviços. “O Sindicato veio participar deste momento junto com as demais categorias, já que estamos todos na mesma situação. Vivemos problemas crônicos nas condições de trabalho. E agora, nos deparamos com mais uma dificuldade que é a questão remuneratória. Temos profissionais que estão se sacrificando para manter as Unidades de Saúde no horário estendido. Muitos deles, fazendo hora extra e não recebendo remuneração alguma. Profissionais que trabalham ordinariamente e que cumprem com seu papel. As categorias estão sofrendo da mesma forma e estamos com o ônus de várias contas atrasadas e para piorar, fomos surpreendidos com o anúncio da Prefeitura em relação ao IPTU. Grande parte dos servidores da Prefeitura está correndo o risco de ser negativado pelo não pagamento do IPTU. É um absurdo”, indignou-se a sindicalista.

Daniela Almeida, representante do Sindicato dos Trabalhadores Fisioterapeutas de Aracaju, confidenciou que além do atraso nos salários, a categoria está indignada com a falta de concurso para a categoria. “Nós somos poucos, apenas vinte e cinco fisioterapeutas estatutárias no município de Aracaju. Apesar disso, existe um grande número de profissionais contratados, o que acarreta num grande problema para a categoria. No ultimo concurso que teve venceu e os profissionais aprovados não foram chamados. Ao invés de realizar outro concurso, a atual gestão preferiu realizar uma seleção e fazer contratos. Desta maneira, atrapalhou muito a nossa luta por melhores condições salariais, visto que muitos contratados têm medo de perseguição e rescisão desses contratados. As maiorias dos fisioterapeutas atuam no Centro de Especialidades, localizado no Siqueira Campos. A demanda de atendimento é muito grande para a quantidade de profissionais disponíveis. E agora, com os casos de microcefalia, a demanda aumentou mais ainda. A fila de espera pelo profissional é enorme. A população é quem fica penalizada. Precisamos de um concurso urgente”, alertou a Daniela Almeida.

Auditoria

Marcos Santana avisou que por unanimidade os representantes dos Sindicatos requisitaram uma auditoria nas contas da Prefeitura Municipal de Aracaju. “O orçamento da Prefeitura de Aracaju cresceu nesses últimos sete anos, 130%. Já as despesas com os profissionais obteve um crescimento de 48%. Então, queremos saber o porque dessa falta de recursos, considerando que Aracaju foi a única capital no Nordeste que não pagou os salários e teve problemas para pagar o décimo terceiro. Recebemos várias denuncias que a PMA está com muita gente contratada e cargos comissionados em excesso. Temos categoria que 2/3 do quantitativo é formada por contratados, o que é ilegal. Então, necessitamos de um Portal da Transparência que confira essas informações com precisão. Desta maneira, vamos solicitar um documento assinado por todos que os órgãos fiscalizadores, como Tribunal de Contas do Estado e da União, Ministério Público Federal e Estadual, para abertura de diligencias no sentido de auditar as contas e verificar quais são as causas das dificuldades do pagamento dos profissionais”, esclareceu.

Na opinião de Flávia Brasileiro, a justificativa para os atrasos não convence. “É sempre a mesma desculpa: a falta de receita, a crise. Tudo isso acaba não se sustentando porque estamos vendo atos da prefeitura que terminam de encontro à fala do prefeito. Temos a questão dos cargos comissionados que foram criados recentemente. Além disso, na área da Saúde, nós temos recursos advindos do Ministério da Saúde. Então, não é só o município que entra com esses valores. É preciso averiguar as contas”, cobrou.

Profissionais

Na unidade de atendimento da Saúde da Família do Conjunto Augusto Franco, dos três médicos escalados, apenas um apareceu. Uma médica, que não quis ser identificada por represália disse que a situação é muito difícil. “Estou com todas as contas atrasadas. Tirei minhas férias no mês de dezembro e não recebi salário nem o 1/3. Aguardo que chegue a minha letra para poder receber. Soube que ainda estão pagando a letra J, até chegar a minha que é M será uma eternidade”, reclamou.

Também receosa, a auxiliar de enfermagem que trabalha há dez anos na Unidade se indignou. “Estou sem receber salário e vale-transporte. Até para ir trabalhar está complicado. Estamos com o psicológico afetado, preocupado com as dívidas. Não temos condições de trabalhar desse jeito. A infraestrutura é péssima. Falta material para atender, o sistema de marcação de exames não funciona. Aqui falta tudo

Usuários

Do outro lado, para quem necessita de atendimento a situação é bastante complicada. É o caso da dona de casa Jeinaldes Santos, moradora da Farolandia que necessitou de atendimento de um ginecologista na Unidade de Saúde da Família do Conjunto Augusto Franco. “Faço todos os meses o pré-natal aqui, mas já soube que este mês está faltando ginecologista e serei atendida por uma enfermeira. O atendimento daqui é precário. Muita demora em atender e marcar os exames. Infelizmente, não tenho condições de pagar um médico particular”, disse.

Já o aposentado Amintas Rocha dos Reis, morador do Conjunto Augusto Franco reclamou da demora para realizar o exame ergométrico. “Faz seis meses que solicitei o exame. Já paguei outros exames particulares e ainda estou aguardando este. Sofro de diabetes e sou hipertenso. As vezes tenho que tirar de onde não tenho e pagar os exames particulares", reclamou.

Greve

Na ultima segunda -feira,18, a Prefeitura de Aracaju realizou uma reunião com todas as categorias e disse que até a quarta-feira, 20, o restante dos profissionais com salários atrasados serão pagos. Em nota, a Diretoria de Imprensa da Prefeitura informou que o pagamento das férias referente a dezembro de 2015, será pago no mês de janeiro. A gratificação de desempenho dos médicos calculada sobre reajuste dos vencimentos de 5% no mês de junho, também será paga em janeiro de 2016. E a folha de dezembro de 2015 será totalmente concluída no dia 20, com os pagamentos dos servidores da saúde, bem como estagiários e contratados de outras áreas. Uma nova reunião está programada para acontecer no dia 29, às 9h, na sede da prefeitura, entre representantes dos sindicatos da saúde e a equipe econômica da PMA, no qual a pauta é o calendário de pagamento dos servidores para os próximos meses.

Para a Flávia Brasileiro, as promessas do prefeito João Alves Filho ainda são motivo de desconfiança. “Vamos aguardar e conferir se realmente a Prefeitura cumprirá o que prometeu. Já temos uma sinalização de greve de todos os profissionais para 1º fevereiro, caso o salário de janeiro não seja pago até o fim do mês. Se isso acontecer, será um complicador muito grande para a sociedade. E o responsável será a gestão municipal de Aracaju”, declarou.


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