BRASIL

Setor energético é o calcanhar de Aquiles na reeleição de Dilma

Reeleição presidencial garantida no primeiro turno com 47% dos votos, cravou o Instituto Datafolha no último dia 22 sobre o favoritismo de Dilma Rousseff nas eleições deste ano. Ao iG, especialistas afirmam que à oposição caberá torcer pelos protestos contra a Copa do Mundo enquanto elege os pontos fracos da administração petista para apresentá-los quando a disputa chegar à televisão. Para alguns, o “calcanhar de Aquiles” da presidente é o fantasma do racionamento energético, de volta a rondar o Brasil 13 anos depois do apagão que virou assunto nas eleições de 2002, ano em que o PT venceu sua primeira campanha presidencial.

“Dilma é a rainha da energia no Brasil. Essa área é dela, as decisões são dela. Quem manda no Ministério [de Minas e Energia] não é o Edison Lobão, é ela”, afirma o cientista político da UnB (Universidade de Brasília) David Fleischer. “O PT não perdoou o apagão de 2002 e o José Serra (PSDB), candidato à sucessão de Fernando Henrique Cardoso, sofreu as consequências. Agora a situação é inversa e ainda haverá protestos contra a Copa do Mundo no meio do ano, um período de poucas chuvas.”

Dilma caiu nas graças do então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva assim que chamada para compor a equipe de transição que cuidaria do setor elétrico. Ex-secretária estadual de Energia no Rio Grande do Sul, ela tinha a experiência de que Lula precisava para responder à crise energética que durou de julho de 2001 a setembro de 2002 e ajudou a naufragar a eleição de Serra.

Leia também: Governo descarta racionamento após apagão que atingiu 6 milhões

Para o presidente da Associação dos Investidores em Autoprodução de Energia (Abiape), Mário Menel, Dilma será alvo na campanha “porque tomou muitas decisões sem ouvir o setor”. Ele menciona a redução de 20% na conta de luz regulamentada em setembro de 2012 pela Medida Provisória 579, que no ano passado se transformou em lei. “A responsabilidade também não se divide quando se faz tudo sozinho.”

Para garantir a redução da tarifa, o governo federal já injetou R$ 7,3 bilhões do Tesouro para compensar as perdas das companhias, mas as poucas chuvas obrigaram as empresas a acionar as usinas termelétricas, que geram energia até 700% mais cara, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). “Não tivemos permissão para repassar a diferença para a conta. O governo gerou artificialidades para manter os preços, deixando o setor perplexo”, diz Menel.

Ano passado: Apagão atinge todos os Estados do Nordeste

Fleischer aposta em trabalho duro para equipe de marketing eleitoral da presidente, que terá de explicar “a existência dos campos de geração já construídos, mas que continuam parados porque ainda estão sem linhas de transmissão”. Em 2012, 28 usinas passavam por esse problema, segundo o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE). Estudo do Instituto Acende Brasil aponta que 58% das usinas de geração, 69% das linhas de transmissão e 61% das subestações hoje em construção no País estão atrasadas.

“O setor elétrico coloca no olho do furacão quem estiver na presidência”, acredita Reginaldo Medeiros, presidente da Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia (Abraceel). “Dilma pode sofrer ainda mais porque este é o setor dela. O perigo é que as eleições politizem um debate que precisa ser técnico.”

Professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, Aldo Fornazieri concorda: “Se acontecer um problema, ninguém vai responsabilizar o ministro na campanha. Evidentemente que haverá efeito político em caso de racionamento, mas, além da presidente, vai sobrar para o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.”

Desde ontem (10), o governo do Estado cortou em cerca de 10% a captação de água do sistema Cantareira depois que seu armazenamento chegou a 16% da capacidade. A decisão foi tomada por indicação de órgãos reguladores que temem racionamento energético para 8,8 milhões de pessoas na Grande São Paulo.

Para o presidente da Abiape, o assunto é nacional e todos os olhares estarão voltados para a campanha presidencial. “A presidente introduziu decisões do setor sem discussão prévia e se isolou como responsável. Qualquer dificuldade será atribuída a esse conjunto pequeno de pessoas liderado por ela.” 


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