BRASIL

Spray contra o ‘Aedes’ não funcionou e vacina pode demorar, diz OMS

GENEBRA – Agentes de saúde pulverizando com sprays de inseticidas casas e bairros simbolizaram por décadas a luta contra o mosquito da Aedes aegypti, inclusive em campanhas do governo. Mas, para os cientistas da Organização Mundial da Saúde (OMS), o uso desses sprays não tem funcionado para frear a proliferação do vetor responsável pela dengue e pelo zika e a estratégia fracassou. Por outro lado, uma vacina contra o vírus não chegará ao mercado a tempo para lidar com o atual surto no Brasil e na América Latina.

Com essas conclusões alarmantes, a OMS fechou nesta quarta-feira, 9, três dias de trabalho com cientistas de todo o mundo sobre como dar uma resposta à crise. “Especialistas em controle de vetores têm declarado claramente que intervenções clássicas – como o spray de inseticidas – não tem tido qualquer impacto significativo na transmissão de dengue e o mesmo deve ocorrer com o zika”, disse a OMS em um comunicado emitido ao final de três dias de reuniões com os maiores especialistas na doença.

 

Militar do Exército cubano aplica fumacê para combater o 'Aedes' em Havana

Militar do Exército cubano aplica fumacê para combater o 'Aedes' em Havana Foto: Yamil Lage/AFP

 

“Isso é uma informação importante, pois precisamos investir em instrumentos que funcionam”, apontou Marie Paule Kieny, vice-diretora da OMS. Para ela, os inseticidas não pararam a dengue. “Precisamos avaliar se esse método tem real impacto e, no longo prazo, se deve ser continuado”, afirmou. 

Segundo a OMS, novos métodos precisam ser desenvolvidos. Entre os candidatos está a redução de mosquitos por meio do uso de bactérias que infectem a população dos insetos, conhecidas como Wolbachia. Outra metodologia examinada é a irradiação dos mosquitos. “Estratégias que tornam os mosquitos geneticamente inférteis podem ter mais chances de funcionar”, disse. “Na semana que vem, faremos uma nova reunião de emergência na OMS para examinar isso”.

Para a entidade, o fracasso do spray apenas escancara o fato de que novos produtos precisam ser elaborados com urgência. Hoje, 60 companhias tem se lançado em uma corrida por soluções para o  vírus zika. No total, 31 instrumentos de diagnósticos têm sido pesquisados, além de 18 vacinas diferentes, oito produtos de terapia e dez novos instrumentos de controle do vetor. 

Jorge Kalil, presidente do Instituto Butantã e que também participou das reuniões da OMS, admitiu que “o controle (do vetor) fracassou”. “Tudo o que foi feito aparentemente não funcionou. Talvez tenhamos de adotar outras estratégias”, disse.

 

 

 

Dicas para evitar o mosquito 'Aedes aegypti'

 

Para ele, o foco deve ser nas comunidades e na educação. “São bilhões e bilhões de insetos. Vai ser muito difícil. O vetor está bem estabelecido no Brasil”, alertou. Ele também admitiu que o Brasil não poderá mais lutar contra o mosquito apenas em momentos de pico do surto. “Teremos de ter uma luta continuada”, insistiu. “Não existe mais uma medida isolada”.

Vacina. Quanto a vacinas, os especialistas convocados pela OMS apontam que, ainda que seu desenvolvimento seja uma prioridade, ela não ficará pronta para atender ao atual surto. “É possível que vacinas venham tarde demais para o atual surto latino-americano”, admitiu também Marie. 

A meta inicial é a de criar um produto que tenha como prioridade imunizar as mulheres, por conta do impacto que o vírus pode ter em grávidas. “As mulheres devem ser nossas prioridades no desenvolvimento da vacina”, explicou Marie. “E, se o vírus continuar, então poderemos avaliar e implementar campanhas para imunizar crianças e outros grupos”, disse. 

Para ela, porém, é “impossível” dizer hoje quanto tempo se levará para ter uma vacina. “Estamos só começando”. 

Kalil estima que, na melhor das hipóteses, a primeira vacina chegaria ao mercado em três anos.  Para atingir isso, sua estratégia é a de partir de um vírus inativo. “Acho que é uma previsão otimista. Se começarmos agora, podemos ter testes clínicos em um ano e ver um produto em três anos. Será quase impossível fazer em menos tempo. Uma vacina pode levar 15 anos para sair”, disse. 

Para ele, os resultados das pesquisas para uma vacina podem vir “tarde demais” para lidar com o atual surto que o Brasil sofre. “Existe a possibilidade de o problema desaparecer em dois anos e por isso temos de agir muito rápido”, disse. Mas, ainda assim, tanto ele como a OMS avaliam que a busca pela vacina precisa acontecer para evitar futuros surtos. 

 


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