BRASIL

Youssef atrela acordo de delação a inclusão de entregador de propina

Braço direito de Alberto Youssef e apontado pelo Ministério Público Federal como o delivery da lavanderia que lavou o dinheiro desviado da Petrobras, Rafael Ângulo Lopes é o próximo personagem da Operação Lava Jato a entrar na delação premiada.

O compromisso de incluí-lo no programa consta em uma das cláusulas do Termo de Colaboração Premiada (TCP) e foi uma das condições impostas por Youssef para assinar o acordo homologado na quarta-feira pelo ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), relator do processo em que são citados dezenas de políticos como foro privilegiado.

Pela cláusula, os procuradores da República se comprometem a “iniciar as tratativas para a realização de acordo de colaboração premiada” com Lopes, a mais importante “mula” do esquema de distribuição de propina a políticos que se beneficiaram dos desvios na Petrobras.

Conhecido por Véio, 61 anos, Lopes é descrito em uma das denúncias do Ministério Público Federal como personagem que controlava o cofre do doleiro. Em sua sala, na sede da GFD – uma das lavanderias – em São Paulo, a Polícia Federal encontrou uma maleta com R$ 500 mil e mais de R$ 1,3 milhão guardados num cofre.

Como entregador de dinheiro, Lopes era o chefe do delivery e viajava de avião de carreira, jatinho particular ou carros de luxo blindados para fazer o dinheiro chegar a políticos na base eleitoral destes em várias capitais. Como tem cidadania espanhola e, por essa razão, fácil trânsito na Europa, a força tarefa suspeita que ele teria cumprido vários serviços bancários para o esquema no exterior.

Um dos focos da investigação é justamente localizar recursos desviados para paraísos fiscais, onde estaria a maior parte do dinheiro que passou por Youssef. O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, outro delator, confessou ser o dono de US$ 23 milhões localizados em bancos na Suíça, depositados, segundo ele, como propina pela Construtora Odebrecht, única empreiteira cujos executivos ainda não foram presos.

O doleiro e seu braço direito seriam, conforme apontam as investigações, peças importantes para quebrar os segredos que protegem as contas bancárias abertas no exterior em nome de representantes partidos políticos e demais envolvidos no esquema, inclusive beneficiando Costa.

No Brasil, a lavagem seguiu a mesma estratégia, mas ao largo do sistema bancário. “Estruturou-se um eficiente e rápido sistema de entrega a domicílio (…), em que os valores eram levados por portadores de confiança na residência do cliente”, escrevem os procuradores.

Segundo o MPF, o doleiro usava também os serviços do agente federal Jayme Alves de Oliveira Filho, o Careca, irmão do ex-ministro das Cidades, Mário Negromonte, Adarico Negromonte, e outro doleiro, Carlos Rocha, que fez acordo fora da delação premiada com a Justiça Federal no ano passado.

Lopes é um velho cliente da Polícia Federal. Ele aparece em duas outras operações famosas sobre crimes financeiros, a Curaçao e o mensalão, ao lado de Youssef e de políticos importantes. Um deles era o ex-deputado José Janene, ex-líder do PP paranaense, falecido em 2010, apontado em todas as investigações como o precursor do esquema ao emplacar a nomeação de Paulo Roberto Costa.

Costa e Youssef afirmam, em depoimento, que o dinheiro saía como porcentagem do superfaturamento de obras e abastecia os caixas do PT, PMDB e PP. Segundo levantamento da força tarefa, o montante desviado da estatal ultrapassa R$ 10 bilhões. O contrato de delação com Rafael Ângulo Lopes tem a finalidade de chegar ao elo político do esquema, apertando o torniquete das investigações em torno dos personagens que receberam o dinheiro. Nessa ponta, além de réu confesso, o entregador é testemunha ocular.

Embora muitos nomes ainda não tenham aparecido, a Justiça já tem indícios de que há muito a desvendar. No ofício em que informa o juiz Sergio Moro, da Justiça Federal do Paraná, sobre a homologação do contrato de delação de Alberto Youssef, o ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), assinala, por exemplo, que os depoimentos mantidos em sigilo já indicam “o envolvimento de várias autoridades detentoras de foro perante tribunais superiores, inclusive de parlamentares federais”.

Os procuradores da força tarefa escrevem no Termo de Colaboração Premiada (TCP) de Youssef que boa parte do dinheiro “destinada a agentes políticos” ainda não foi identificada. O eventual contrato com Lopes pode esclarecer o mistério, apontando os nomes de quem, entre 2009 e 2014, recebeu o dinheiro entregue a domicílio em várias regiões do País.

 

 

(Do iG)


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