Semana passada saiu uma matéria num jornal de grande circulação afirmando que 92% das pessoas que fazem a cirurgia bariátrica e metabólica voltam a ganhar peso.
A matéria afirmava que, baseado em um estudo da USP, até 92% das pessoas que fazem a cirurgia bariátrica – que é atualmente o melhor tratamento para obesidade e para a síndrome metabólica – voltam a ganhar peso.
Quem lê a matéria pode achar que a cirurgia não funciona já que parece que quase todas as pessoas voltam a ganhar peso.
ANÁLISE SOBRE INCIDÊNCIA
Eu sou cirurgiã bariátrica e me especializei principalmente no tratamento de pacientes que tiveram reganho depois da bariátrica.
Ou seja, conheço esse problema a fundo, e a divulgação dessa matéria é ótima para os meus negócios.
Mas não posso me calar diante da confusão que essa notícia pode causar.
A verdade é que um pequeno aumento de peso é esperado entre o 2 e 4 ano pós-operatório.
Esse aumento é, em média, de até 10% do menor peso.
Por exemplo: uma paciente minha que operou com 120kg, atingiu seu menor peso de 70kg após 2 anos da bariátrica, além de melhorar a resistência à insulina, o ronco, o refluxo, a dor no joelho e a auto-estima, pode ganhar 7kg nos dois anos seguintes, sem o retorno desses outros problemas.
É uma fase de reequilíbrio do corpo.
Esse aumento costuma ser lento e não é acompanhado de repercussões na saúde da pessoa que operou.
O reganho de peso que tem importância médica – que pode afetar negativamente a saúde – é aquele aumento maior que 20% do menor peso, ou que acontece muito rápido, ou que tem retorno das comorbidades (as doenças associadas à obesidade).
Esse reganho de peso que preocupa a gente, é bem menos comum.
Ele acontece em cerca de 2 a cada 10 pacientes operados, uma incidência pelo menos 4x menor que a recidiva que acontece no tratamento só com remédios.
A bariátrica ainda é – como tem sido nos últimos 30 anos – o tratamento com maior perda de peso, melhor controle das doenças metabólicas e menor reganho de peso a longo prazo.
Por isso, quem já fez a bariátrica ou ainda está pensando em fazer, não precisa ficar alarmado.
“Mas doutora, e o estudo a USP, está errado? Foi mentira?”
O estudo da USP ao qual a matéria se referia está sendo realizado em uma população bem específica: pessoas sem nenhum acompanhamento e com diagnóstico de compulsão alimentar.
Nesse grupo, como não podia ser diferente, ela encontrou um reganho muito alto.
O maior obstáculo ao tratamento adequado da obesidade é a falta de informação… ou pior, o excesso de informações confusas.
Qual a conclusão podemos tirar de tudo isso?
Transtornos alimentares, assim como a depressão e a ansiedade, podem agravar a obesidade.
A obesidade é uma doença complexa, multifatorial e progressiva, que diminui o tempo e a qualidade de vida.
Aquela velha máxima que fala que é só fechar a boca e fazer exercício é outro mito.
Ninguém precisa enfrentar essa doença sozinho.
Se você está sofrendo com a obesidade ou com o reganho, procure um especialista.
Helena Malnati
CRM-DF 15769
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