RIO GRANDE DO NORTE

1968: O ano de ouro do Alecrim Futebol Clube

Todo clube de futebol tem um ano que fica eternamente marcado na memória dos torcedores. Seja por alguma grande conquista, uma goleada em cima do adversário ou algum movimento extra-campo que foi importante em vários aspectos para a agremiação. Bem, em 1968, o Alecrim Futebol Clube, um dos mais tradicionais de Natal e do Rio Grande do Norte, teve tudo isso e mais um pouco. Aquele ano é lembrado por torcedores, dirigentes e amantes do futebol potiguar como um dos mais importantes da história do Alecrim e do esporte em solo norte-riograndense. O que tem de tão especial? É que foi justamente em 1968 que o Alecrim Futebol Clube conquistou o seu único título estadual invicto, o primeiro na história do campeonato potiguar desde que o esporte ganhou ares profissionais, em 1933.

No ano que parece não acabar, o clube disputou 10 partidas: venceu sete e empatou três, marcando 24 gols e sofrendo oito. Foi o quinto título de sua história. O jogo da conquista foi disputado no dia 10 de julho de 1968, contra o então Ferroviário: vitória por 2 a 0, com gols de Icário e Élson. O vice-presidente do Alecrim, Francisco Sousa, lembra ainda que o juiz anulou um gol alecrinense no final da partida, que seria mais um tento do artilheiro Icário.

A escalação é lembrada de cor pelos amantes do clube esmeraldino: Eliezer, Luizinho, Miro, Cândido e Anchieta, Valdomiro e Pedrinho, Zeze, Elson, Icário e Burunga. No banco de reservas ainda tinham o arqueiro Augusto, Genilson, Estorlando (Pistolão), Rui Falcão e Odisser, como lembra o torcedor e diretor de relações públicas do clube, Normando Bezerra. O atacante Icário, inclusive, foi o artilheiro da competição, com oito gols marcados.

Chico Fera: torcedor-símbolo quer ver o Alecrim na “A” em 2019

Chico Fera: torcedor-símbolo quer ver o Alecrim na “A” em 2019

“Além de ser campeão invicto, o Alecrim fez a primeira partida internacional de um time de Natal, contra o Rampla Juniors. Em 1968 recebeu o nome de Vingador, porque todos os times que vinham jogar com o ABC e América ganhavam, e quando o Alecrim chamava para jogar com eles ia lá e ganhava.”, relembra, à TRIBUNA DO NORTE, dizendo ainda que a sede social do clube foi inaugurada naquele ano e que a compra do ônibus do Alecrim também foi feita em 1968, o que marcou o primeiro time potiguar a ter o seu próprio veículo.

A equipe era comandada pelo natalense Pedro Teixeira, popularmente conhecido como Pedrinho Quarenta. Normando Bezerra, um dos amantes do clube Alviverde, lembrou ainda que os governadores do Rio Grande do Norte na época –  Monsenhor Walfredo Gurgel e seu vice, Clóvis Mota – eram “torcedores fervorosos do Alecrim”.

Naquele ano, o campeonato foi disputado por seis equipes: Alecrim FC, ABC, América, Ferroviário, Atlético, Riachuelo. O ABC ficou em segundo lugar e o América em terceiro. O clube Alvirrubro, inclusive, teve seus planos de bicampeonato frustrados pelo Alecrim.

Cândido jogou com Garrincha e lembra com carinho de 68

Cândido jogou com Garrincha e lembra com carinho de 68

“Aquele título do Alecrim foi importante em todos os sentidos. O América foi campeão em 67 e em 68 seria o bicampeão, mas o Alecrim evitou. E o mesmo América evitou o bicampeonato do Alecrim, que seria em 69. Eles deram o troco”, relembra o pesquisador potiguar Ribamar Cavalcante.

Garrincha
Antes mesmo de disputar o campeonato estadual, o Alecrim viveu um dos momentos mais importantes não só na sua história, mas também para a memória do futebol norte-riograndense. É que o clube esmeraldino teve a honra de receber ninguém menos do que Mané Garrincha, bicampeão mundial com a Seleção Brasileira, que vestiu a camisa 7 do Alecrim e jogou uma partida pelo time natalense, contra o Sport-PE. Vitória dos pernambucanos por 1 a 0.

“Tratava-se de Garrincha, campeão do mundo. Quem não queria ver Garrincha? E tivemos o prazer de vê-lo no JL. Tinha muita gente lá”, conta o pesquisador do futebol potiguar, Ribamar Cavalcante. A partida aconteceu no dia 04 de fevereiro de 1968 e teve os ingressos esgotados no Estádio Juvenal Lamartine, contando  com a  presença de pouco mais de 6.000 torcedores, conforme consta no site do clube.

Garrincha no JL: craque viria ao RN em outras duas ocasiões

Garrincha no JL: craque viria ao RN em outras duas ocasiões

A partida fazia parte de uma série de jogos que Garrincha vinha fazendo pelo Nordeste, quando o “Anjo das Pernas Tortas” já estava perto de encerrar a carreira. Além do Alecrim, ele chegou a jogar em outras duas ocasiões no Rio Grande do Norte: uma com a camisa do Flamengo, contra o ABC, em 1969, e em outra pela Seleção de Currais Novos, num amistoso contra o Centenário de Parelhas, no Seridó potiguar, em 1973.

O zagueiro José Nazareno de Oliveira, conhecido como Cândido, camisa 4 do Alecrim na época, hoje com 73 anos, conta que jogar ao lado de Garrincha foi um dos momentos mais marcantes de sua carreira.

“Eu era um jogador jovem, tinha chegado no Alecrim em 1966 e fiquei até 1970. Nesse momento aí, estar ao lado de um cara daquele foi algo muito emocionante. Era um cara muito simples. Ficamos com aquele orgulho de ter um campeão do mundo jogando ali com a gente”, recorda o beque.

Também em 1968, o Alecrim foi ainda um dos responsáveis por disputar uma das primeiras partidas contra clubes de outro país em solo potiguar. A equipe Alviverde encarou o Rampla Juniors, do Uruguai, que fazia uma excursão pelo Brasil. Até então invicto em território nacional, os uruguaios bateram de frente com o clube natalense e logo sucumbiram: 1 a 0 para o Alecrim, com gol de Rui, aos 44 do segundo tempo, no Estádio Juvenal Lamartine.

Reestruturação
Cinquenta anos depois do título histórico, o Alecrim passa por um dos momentos mais delicados de sua trajetória centenária. Pela primeira vez o clube verde irá disputar a segunda divisão do campeonato potiguar, tendo que ser campeão para voltar ao alto escalão do futebol norte-riograndense.

Normando guarda camisa 7 que Garrincha vestiu pelo Alecrim

Normando guarda camisa 7 que Garrincha vestiu pelo Alecrim

“Esse ano está muito difícil. É quase do tamanho da Série A, com seis times. A segundona só tem uma brecha: ou é campeão ou não é”, conta o atual presidente , Ubirajara Holanda.  Mesmo com toda vontade dos dirigentes e da torcida de voltar aos holofotes do futebol potiguar, a cúpula alviverde sabe que a missão não é fácil. Neste ano, a segunda divisão terá seis equipes e apenas o campeão ascende de divisão. Aliado a isso, o clube passa por sérias dificuldades financeiras e aposta no atual elenco do sub-19 como uma força motriz para voltar a respirar no futebol. De acordo com Holanda, a ideia é aproveitar de dez a 15 jogadores do sub-19.

“A gente reclama do comércio do Alecrim não se envolver com o clube. O comércio aqui é o maior do estado, um dos maiores do Brasil. Porque quando fala no clube, fala no bairro do Alecrim, é o nome do clube. É um marketing grande. Aquilo vai mostrar, vai atrair clientes, mas falta essa conscientização”, lamenta Francisco Silva, vice-presidente. “A gente subindo eu espero que as coisas melhorem”, projeta.

E é justamente agarrando-se a lembrança de um dos melhores anos da história do clube que a diretoria quer retornar à elite do futebol. A partida de estreia do Alecrim está marcada para o dia 15 de setembro, diante do Palmeira-RN, em Goianinha. O clube ainda está ao lado do Cruzeiro de Macaíba na disputa do grupo 2, onde duas equipes se classificam às semifinais do torneio.

“Eu tenho a maior confiança de que o Alecrim vai subir. É por isso que eu estou preparando o sub-19, que dessa equipe eu vou tirar de 10 a 15 jogadores, para profissionalizar e eu acredito na ascensão da gente neste ano”, conclui o presidente.


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