NORDESTE

A força do talento cultural extrapola tempo e idade

Artista plástico Raul Córdula consolida em vida a vanguarda de quem sabe ser Cult, mas também com posição política

 

 

Matéria publicada na edição 212 da revista NORDESTE. Leia abaixo ou acesse pelo APP da NORDESTE aqui

 

 

O mundo cultural brasileiro expõe talentos do Oiapoque ao Chuí, por isso também insere o Nordeste – Olinda, Recife, João Pessoa – como abrigo de um dos mais expressivos artistas plásticos de nome Raul Córdula, que nesta entrevista revela sua trajetória.

 

 

Por Walter Santos

 

 

 

Revista NORDESTE – Há anos, convivemos com sua pessoa, artista plástico denominado e reconhecido de vanguarda convivendo entre a cultura e o mundo ideológico, de nome Raul Córdula. Como conviver com esses contextos distintos e misturados, mas dando ênfase ao valor artístico de vanguarda?

 

RAUL CÓRDULA – Olha só, essa pergunta é recorrente, pois sou sempre questionado por esta razão. Ocorre que tenho duas pinturas diferentes: a geométrica e a figurativa, ambas simbólicas; em síntese, a pintura geométrica, que define minha arte hoje, não serve como descrição dos fatos políticos porque não é narrativa. Então, para minha atuação ideológica, além de meus escritos eu utilizo figuras que são reconhecíveis para o público geral.

 

 

NORDESTE – Se tivéssemos de remontar a história olhando para os anos 1970 em diante com um então menino de 17 anos promovendo uma exposição de artes em João Pessoa, como iríamos lhe definir?

 

RAUL CÓRDULA – Sem dúvidas, fui um artista precoce. Comecei em Campina Grande, minha terra, aos 14 anos. Curioso é que Flávio Tavares começou com esta idade quando foi levado por seu irmão Sérgio, que era pessoa do Teatro e não está mais conosco para a oficina de pintura que eu coordenava no Departamento Cultural da UFPB.

 

 

NORDESTE – Como andam as memórias sobre a formação e valores com a cultura pessoense?

 

O estilo estético de Raul Córdula se impõe ao longo do tempo com diferencial artístico. Foto: Victor Muzzi/ Revista Sim

 

 

RAUL CÓRDULA -No convívio com amigos artistas do Rio de Janeiro, para quem escrevi alguns textos, e na coordenação do Núcleo de Arte Contemporânea da UFPB, onde convivi com o curador Paulo Sérgio Duarte, tive a oportunidade de escrever para os jornais de João Pessoa sobre as exposições que apresentávamos.

Passei a escrever para a imprensa de João Pessoa e depois para revistas especializadas em artes visuais e entrei como sócio da Associação Brasileira de Críticos de Arte – ABCA, que tinha sede no Rio, inclusive fui premido quatro vezes com meus textos com os prêmios anuais desta instituição: Premio SÉRGIO Millet, Premio Gonzaga Duque duas vezes e Destaque do Nordeste.

 

 

NORDESTE – Para os ignorantes da vida, qual seria a forma ideal de você se auto apresentar como Raul Córdula para o mundo?

 

RAUL CÓRDULA – Sou essencialmente um pintor de quadros, porém tive muitas experiências profissionais pela vida, de free lancer em publicidade, cenógrafo de teatro e televisão, e diretor de instituições culturais e coordenador do Núcleo de Arte Contemporânea da UFPB e ajudei a implantar e dirigi o Museu de Arte de Campina Grande Assis Chateaubriand, coordenei a Casa da Cultura de Pernambuco na época em que esta instituição ainda era uma promessa de um centro cultural moderno, antes das articulações políticas para transforma-la no centro comercial que é hoje.

 

 

NORDESTE – O que você na memória como experiências avançadas no tempo?

 

 

 

 

RAUL CÓRDULA – A partir de minha experiência na coordenação do NAC/UFPB me tornei curador, coisa que faço até hoje. Fui curador do Salão Pernambucano de Arte 2000, do Salão dos Jovens Artistas em 1999, Trabalhei como curador na Galeria de Arte Plural, de Recife, entre várias curadorias de exposições de artistas no Recife e em João Pessoa.

 

 

NORDESTE – De forma objetiva, como poderíamos lhe definir dentro das escolas clássicas das artes plásticas incluindo a fase contemporânea?

 

RAUL CÓRDULA – Como já disse, sou um artista geométrico, isto é, tenho um alfabeto visual baseado no triângulo, no quadrado e no círculo. Assim foram vários artistas da modernidade das artes visuais no mundo, inclusive, com suas devidas variações, Picasso, Mondrian, Sérvulo Esmeraldo, Paul Klee, Hélio Oiticica, Juan Gris, Lygia Clarck, George Braque, Ascanio MMM, Ivan Serpa, Emanuel Araujo, Franz Weissmann, entre outros.

 

 

NORDESTE – Há registro de que vc chegou a assinar o Manifesto Tropicalista famoso liderado pelos baianos Caetano e Gilberto Gil. Qual o significado desse movimento de vanguarda na sua vida e do País?

 

RAUL CÓRDULA  – Assinei o tropicalismo nordestino seguindo Jomard Muniz de Brito, importante agitador cultural nos anos a partir dos anos 60 até onde ele pode chegar. Com ele estavam Carlos Aranha, o maestro e compositor, grande amigo Marcus Vinícius de Andrade, entre outros da época.

 

 

NORDESTE – Na vida real, o que significou esse movimento?

 

 

RAUL CÓRDULA – O tropicalismo foi uma mirada para dentro de nós mesmos, brasileiros e sul-americanos, uma revisada em conteúdo e forma de nossas crenças culturais. Se colocou na rua, mais do que já se fazia no Rio de Janeiro, onde nasceu o movimento através do samba, inclusive das Escolas de Samba, e na música popular. Foi um grito dos esquecidos e das coisas que esconderam para não se pensar no Brasil verdadeiro.

 

 

NORDESTE – Sua história é múltipla artisticamente, ideologicamente…do que você se orgulha ou lamenta?

 

RAUL CÓRDULA – Sou um artista cuja cabeça se encaminhou por questões política – não apenas a política ideológica, mas a política de cultura em todas suas faces e perfis que se conduzem para a liberdade criativa e conteudista, mas também rigoroso com a estética que assumi desde cedo.

Não me arrependo de nada, tive, como qualquer outro artista, altos e baixos, isto para exemplificar meu papel de artista moderno. Não sou artista contemporâneo – que se expressa com signos, filosofias e metáforas.

 


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