PERNAMBUCO

A maturidade musical do pernambucano Zeh Rocha

Show Linhagens vai percorrer o Brasil e além das fronteiras nacionais

 

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Por Luciana Leão

 

Ao completar os 50 anos de carreira, o compositor, cantor, poeta e jornalista recifense se encontra em sua melhor fase musical e também na escrita, com o recente livro lançado de poema, Circunavegasons, e outro em produção. E mais, repercute muito seu show “Linhagens” para celebrar  o cinquentenário de sua carreira.

 

A NORDESTE conversou com o músico, parceiro de longas datas do também pernambucano Lenine, dos paraibanos Bráulio Tavares e  Jessier Quirino, enfim, uma lista diversa que expressa sua longevidade com uma linguagem multicultural de suas composições.

 

REVISTA NORDESTE – Como expressar seus 50 anos de carreira, neste momento? Quais sentimentos fluem de forma mais profunda?

 

ZEH ROCHA – O tempo é um aliado do artista. Se a gente se permite ter um olhar crítico, uma busca de aprimoramento técnico de nossas ferramentas de criação e trabalho musical, no meu caso, a voz, e o violão,  evoluímos  e podemos manter a qualidade artística de nossas canções, nas  performances e shows musicais.

 

A canção gravada e que fica sendo conhecida, depois, admirada  e executada em rádio, trilha de novela, de peça teatral ;  é um documento, o registro de nossa marca de qualidade musical. As boas canções se eternizam. Recentemente, soube através do meu querido amigo e parceiro musical, Lenine, que a canção Aboio Avoado, na versão gravada por ele, no seu CD No dia em que faremos contato, de 1977,  vai ser incluída, no ano que vem, 2025 na trilha da novela Guerreiros do Sol, da TV Globo.

 

Claro, que existe todo um aprendizado nesse tempo de maturação de um artista, de sua criação na música. Eu tive sorte, ou , foi um presente de Deus, ter nascido, em Recife, no Estado de Pernambuco, um território multicultural. Sou muito grato aos meus pais, Dona Elaine Silva, e José Rocha, por terem me matriculado no Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Pernambuco, na década de 60, exatamente, em 1968, e lá, estudei teoria musical, canto, e comecei a compor.

 

Então, para concluir;  a minha educação musical, o incentivo dos meus professores, dos meus pais, minha família trouxeram incentivo e qualidade ao meu exercício de compor, cantar, e ser um profissional respeitado, admirado por muita gente na minha carreira musical. Eu comemoro, neste ano de 2024, meu cinquentenário musical.

 

NORDESTE – Quando você olha pra trás, o início de sua carreira , qual é o momento que mais te marcou e por quê ?

 

ZEH ROCHA – O momento que mais me marcou no passado, foi o fim do grupo Flor de Cactus . Com os amigos André Lobo Freire, Caca Barreto, Sérgio Campelo, Plinio Santos, Mário Lobo e Lenine, eu vivi uma das mais belas experiências da minha vida. Foi um fato importante, uma vivência harmoniosa entre adolescentes que amavam os Beatles e os Rolling Stones , e também o Milton Nascimento.

 

Com Lenine, na formação do Flor de Cactus. Foto: Arquivo Pessoal

 

A gente tinha muito prazer em se encontrar para compor, uma troca de boas energias, muito gratificante, cada um trazendo tendências musicais diversas,  estivemos juntos realizando shows maravilhosos em Recife, Olinda, dentro do nosso universo , mais muito afetivo, salutar. Então, quando percebi que tínhamos que encerrar as atividades do grupo,  fiquei muito desapontado, por um bom tempo.

 

Mas, com o passar dos meses, eu descobri que poderia seguir minha carreira solo, sentia uma força interior muito forte, uma grande motivação em compor e cantar, estudar e tocar violão. E assim, aconteceram fatos muito gratificantes, como ter a canção Bumba meu boi da boa hora, gravada em 1981, pelo grupo vocal carioca, Céu da Boca. Mesmo com final do Flor , eu mantive a chama acesa , a música me levava adiante, comecei a fazer shows solos, e com Lenine, inclusive, em João Pessoa.

 

Grupo musical Flor de Cactus, o início de sua carreira. Foto: Arquivo Pessoal

 

O flor de cactus encerrou sua jornada, naquele momento, o que me levou a um crescimento como artista, músico, ser humano. Esse foi um dos fatos mais marcantes da minha vida, e na minha carreira artística. Estar sozinho, iniciar uma carreira solo, começar a compor só, me fez crescer como pessoa e artista, mas, foi um grande desafio.

 

EVOLUÇÃO MUSICAL

 

Muita coisa mudou na minha forma de me relacionar com a música, eu sinto que venho evoluindo como profissional na área da música, tendo mais consciência de minha missão espiritual na minha existência, que a música é minha ferramenta de comunicação, minha cura, é labuta.

 

Nesses cinquenta anos de atividades na área da música, percebo nas mensagens, conversas, aplausos, críticas das pessoas que vão conhecendo minha obra musical, assistem meus shows, lives, entrevistas nas plataformas digitais e redes sociais, que elas tecem elogios, palavras de carinho, de incentivo, observações construtivas, que são aproveitadas por mim, para minha evolução artística,  como cidadão, trabalhador , ser espiritual.

 

O que mudou na minha forma de compor e interpretar foi minha visão mais madura de apreciar e direcionar meu trabalho de criação musical.  Venho dedicando horas e horas de estudos, de reflexões, de descobertas interiores, e de experiências acumuladas ao longo de minha vida.

 

Eu tenho a sorte de ter tido, ser acolhido por parceiros musicais maravilhosos, como o André Lobo, Lenine, Vicente Barreto, Jessier Quirino, Xico Bizerra, Wilson Freire, Juliano Holanda, João Lira,  Bráulio Tavares, Maciel Melo, Cláudio Noah, Sandi Maia, Laerson Pessoa, Erickson Luna, entre tantos outros, não tão frequentes, mas, não menos importantes, pois me brindaram com letras de canções , que emocionam as pessoas.

 

NORDESTE – Qual parceria mais te surpreendeu ou te desafiou ?

 

ZEH ROCHA – Todos meus parceiros me surpreendem, não existe um parceiro que tenha me desafiado mais do que o outro. Eu componho de várias maneiras , com motivações  inusitadas. Um parceiro, como por exemplo, o Jessier Quirino, que é um poeta surpreendente , pois me ofereceu textos muito bem elaborados, sempre me toma mais tempo para compor uma melodia, fazer a parceria com ele, por exemplo, quando coloquei música em seus versos estonteantes.

 

Um exemplo : a música Secas de Março. Um outro parceiro que me desafia é o poeta Marcelo Mário, por sua inventividade, me manda textos, ou os encontro em suas mensagens nas redes sociais, que me exige romper com regras da métrica melódica, são bons desafios.

 

PROCESSO DE PARCERIA

 

As parcerias surgem de uma maneira espontânea , para mim.  É um processo de encontros que a vida nos proporciona, com pessoas que temos afinidades estéticas, culturais, valores éticos. Os parceiros musicais se tornam amigos ? Nem sempre. Tenho parceiros com quem convivi, mas, a vida, o trabalho, o destino de cada um, faz com que nos afastemos, percamos a comunicação, até a sintonia. Isso faz parte da vida, infelizmente.

 

Eu me arrependo de não ter feito uma parceria com o Fernando Brant, grande parceiro do Milton Nascimento. Em uma reunião na sede da União Brasileira de Compositores, me encontrei com esse grande letrista, jornalista, um dos melhores que conhecemos, e conversamos muito . Em determinado instante da conversa,  tomei a iniciativa de me oferecer, de falar do meu sonho de ser seu parceiro. Bom, isso nunca aconteceu. Ele era um cara tímido, mineiro por excelência, e eu , um pernambucano tímido.

 

O processo de criação de uma música, em parceria, é muito gratificante. Eu ,particularmente, prefiro o encontro presencial, com um tempo folgado para a gente compor com calma, soltando a inspiração, a alegria de tecer versos e notas musicais, melodia, a levada ou seja o ritmo da canção.

 

Zeh Rocha e Lenine, nos anos 80, durante criação conjunta. Foto: Arquivo Pessoal

 

Esse tipo de parceria, acontecia muito quando os meus parceiros,  André Lobo, Lenine, Fuba, João Lira, Erasto Vasconcelos, nos encontrávamos. Mas, também curto muito compor canções, quando recebo os textos poéticos e vou trabalhar em cima dos versos dos parceiros, em sua maioria, poetas maravilhosos. Particularmente, não existe um parceiro que tenha moldado minha trajetória artística, até porque tive, e venho encontrando diversos parceiros .

 

Todos são importantes, em termos de contribuição com meu trabalho musical. Seria muito poderoso da parte de um parceiro ser o modelador, aquele que define o estilo de um parceiro.Normalmente, o público presta atenção no intérprete da canção, principalmente quando faz sucesso nas mídias, na rádio, nas trilhas das novelas. Ao ponto de associar espontaneamente a autoria da canção ao cantor , esquecendo o letrista, que também é um parceiro.

 

NORDESTE – Como se sente ao ouvir músicas suas, gravadas e interpretadas por outras vozes e estilos?

 

ZEH ROCHA –  Quando eu ouvi a minha primeira canção gravada no disco compacto, em vinil, Festejos, do grupo Flor de Cactus, tive uma sensação muito boa, senti uma alegria profunda. Outro momento gratificante, de contentamento, gratidão, foi quando ouvi a gravação da canção Bumba meu boi da boa hora, interpretada pelo grupo Céu da Boca, composto por onze vozes, um trabalho de altíssima qualidade, com arranjos muito bem elaborados.

 

Foi demais, senti arrepios na minha alma. Até hoje, quando escuto, essa canção me encanta, me emociona. O cantor Geraldo Maia me proporcionou um momento de êxtase,  de muita alegria, quando me enviou a gravação da canção Morena Rara. Recentemente, no final do ano passado, 2023,  tive uma enorme surpresa, me emocionei com a cantora Anastácia Rodrigues. Ela cantou numa sessão solene da Câmara de Vereadores do Recife, a canção Aboio Avoado, que também já foi gravada por Lenine, no seu CD “No dia em que faremos contato”.

 

Tanto a minha querida amiga cantora e Lenine, me trouxeram muita alegria e encantamento. Essa canção, como citei acima, vai entrar numa novela  da Tv Globo, terá uma enorme audiência. Com certeza, vou sentir muita alegria , quando a escutar na voz do Lenine.

 

NORDESTE – Em relação às críticas musicais, como se relaciona ou as percebe?

 

ZEH ROCHA – Acho fundamental que pessoas se especializem na crítica musical, com fundamentação teórica, ou seja, saibam história da música universal, música popular, música étnica . Uma crítica bem fundamentada, seja positiva ou que aponte falhas, aspectos negativos de um artista, devem ter uma função de informar, esclarecer, iluminar os consumidores de música. Até o momento, nessa jornada , não recebi críticas negativas. Ao contrário, tenho recebido boas, ótimas apreciações do meu trabalho musical , e de alguns especialistas, como Maurício Krubusly , Miguel Almeida, Adriano Macena, Gonzaga Leal , Aquiles Reis do MPB4.

 

INSPIRAÇÃO MUSICAL

 

 

NORDESTE – Como se dá seu processo de inspiração para escrever uma composição? Algum ritual ou flui naturalmente…?

 

ZEH ROCHA – No dia a dia, a inspiração chega inesperadamente, por diversos caminhos, em momentos surpreendentes, inusitados. A minha necessidade de compor uma música vem antes da inspiração, ela vem de dentro da minha alma. Uma canção bem tecida me alimenta o corpo de prazer, me faz suar, sofrer , às vezes, e me gratifica , ao estar pronta, sendo cantada por mim, ou por uma outra voz.

 

A sonoridade de uma palavra, como por exemplo Tear, loas , água, pedra, cais , me motiva a cantarolar uma melodia inicial, construir uma imagem poética em versos, numa frase, como também pode sugerir uma frase rítmica, uma levada de ciranda,de maracatu, ou um blues.

 

Eu sinto que tenho parceiros espirituais, que me sopram notas musicais, o discurso melódico, sugerem encadeamentos de acordes harmônicos, que me guiam no sentido da inventividade de buscar não repetir trechos musicais, e me levam a explorar outros universos musicais, como as músicas dos povos africanos, dos indígenas, as vozes e escalas orientais.

 

Eu não tenho uma rotina, planos, regras, tempo marcado, para compor. Compor nunca será um hábito, nem hobby. A vontade de fazer uma canção pode vir também de um impulso, e já tive momentos de uma salutar crise compulsiva de criar. Chegava a compor duas ou três músicas em um dia.

 

A criatividade de um músico, no meu caso, vem de uma necessidade espiritual de evoluir , de autoconhecimento, de me transcender. Gostaria muito de ser criativo em todas as situações da minha vida, mas, nem sempre , podemos usar nossa criatividade.

 

Mas, é importante ser um criador ou creador, transgredir padrões comuns de comportamento, desconstruir estruturas de dominação , da razão cartesiana, dos modelos pré-fabricados com obsolescência programada, dos limites da Matrix.

 

A minha vida não teria sido a mesma, se eu tivesse , lá na minha juventude, aceito permanecer no cargo de auxiliar administrativo, dentro de um departamento de pessoal de uma grande empresa, cargo este,  oferecido por um parente meu. Eu , na verdade, adoeci, após três meses de estágio neste trabalho enfadonho, desconectado com a minha essência espiritual, que com certeza, me sugaria energias criativas direcionadas a música.

 

 

NORDESTE – Como jornalista você teve grandes experiências ao longo de sua vida. Como te ajudaram nesse processo de autoconhecimento e de olhar a vida?

 

ZEH ROCHA –  Minha experiência como jornalista foi muito gratificante. Eu iniciei minha atividade no jornalismo local, na redação do Diário de Pernambuco, tendo como mestre, Raimundo Carreiro.

 

Foi um tempo de muito aprendizado. É evidente, que a linguagem do jornal diário, a necessidade de ser objetivo, preciso, fidelidade ao fato, às suas fontes, a urgência , pressão do tempo de edição, me ensinou lições importantes, que contribuíram para a escrita de um texto poético. Hoje, por exemplo, o Marco Polo, poeta, jornalista, que se dedica a música, é o fundador do grupo musical, Ave Sangria, e continua compondo canções belíssimas.

 

Eu, o Marco Polo, antes de trabalharmos na imprensa escrita, já éramos poetas, cantores. Mas, o jornalismo, a experiência do batente, do dia a dia, nos trouxe muito aprendizado, e estas lições dentro da linguagem jornalística foram aproveitadas em nossa maneira de compor, ou até, mesmo, a crueldade dos fatos, tragédias humanas, violências cotidianas, nos levam para um outro lugar , o da delicadeza, da liberdade ,leveza, poesia, da música.

 

NORDESTE – Quais foram seus maiores desafios pessoais ao longo desses 50 anos? E como os enfrentou?

 

ZEH ROCHA – Os desafios pessoais e profissionais sempre existem para quem exerce a atividade artística, no meu caso particular, na música. No meu início de carreira musical, em 1974, quando eu estava fazendo shows com o Flor de Cactus, gravamos o disco compacto Festejos, encarava os desafios de uma maneira mais amadora, romântica, mas, com muito entusiasmo, amor .

 

A partir de 1983, quando fui morar no Rio de Janeiro, a  minha vida profissional cresceu, comecei a desenvolver senso profissional, consciência do meu papel social como artista, cantautor,  que significa aquele músico que compõe e canta suas próprias canções. Era um momento em que o  mercado fonográfico com suas ofertas e demandas , buscava novos artistas, produzia milhares de  discos de vinis, investia em artistas que traziam retorno financeiro para a indústria .

 

Tudo isso para mim, foi um grande desafio, ou seja, penei para aprender  como lidar, me relacionar com o mercado musical. Em 1985, iniciei um novo desafio, que foi me mudar para São Paulo, a metrópole brasileira, com um número imenso de artistas, músicos, espaços para shows, casas de espetáculo, a meca cultural para mim, naquele momento.

 

Foi difícil me adaptar ao clima, a conviver com os valores do capital, daquela voracidade no consumo, mobilidade intensa de veículos, velocidade na produção cultural. Mas, entrei de uma maneira serena, na roda viva da paulicéia desvairada, e fui trabalhar na empresa Procultura, como redator de um informativo para empresários do ramo têxtil.

 

Mas, não abandonei a música. Montei a banda Capote Valente,  fiz shows em festivais, em praças públicas, teatros, divulgando meu som. Outro desafio, foi meu retorno a Recife, em 1988, pois significou um recomeço.  Passar muito tempo fora de seu território , faz a gente perder o compasso em nossa carreira musical , mas, em alguns meses, tudo fluiu bem, fui recuperando meu espaço antes conquistado com o Flor de Cactus.

 

CONSELHOS AOS MAIS JOVENS

EM INICIAÇÃO MUSICAL

ZEH ROCHA – Dar conselhos é uma atitude de muita responsabilidade, pois, às vezes, damos orientações aos mais jovens, mas, sabemos que podem não ser escutadas, colocadas em prática. Mas, vamos lá.

 

Eu busco encontrar o que é  o mais justo, o caminho mais honesto na vida profissional. Importante, desde o início de minha vida, e carreira musical foi manter a minha dignidade ética, política, profissional, não me vender aos modismos do mercado fonográfico , hoje, seria não buscar copiar padrões oferecidos nas plataformas digitais, ser descartável, uma mercadoria com validade e prazo definido para poucos anos de vida.

 

Estudar música, mesmo que seja de forma autodidata, ou na academia, bons professores, é importante, te dá ferramentas para crescer. Outra coisa, é não se comparar com outros artistas, evidente, que temos influências, mas, imitar, querer ser o outro, o mais incrível, alimentar o narcisismo, estrelismo não tem nada a ver.

 

É fundamental, a humildade para evoluir, querer aprender sempre, recomeçar, ter resiliência, paciência,  diante das dificuldades encontradas, seja falta de grana para investir no seu trabalho, diante da falta de oportunidades para mostrar o seu trabalho musical. Mas, vale a pena persistir, buscar parcerias, participar da vida cultural da sua cidade e do país. Estamos num momento, muito promissor, no governo Lula, com muito recurso financeiro sendo destinado para editais, projetos culturais.

 

PROJETOS NOVOS

 

Show Linhagens. Foto: Surama Negromonte

 

O projeto novo em andamento é o show linhagens, que estreou com muito sucesso, no dia 16 de março deste ano, no Teatro de Santa Isabel. Foi um marco muito relevante na minha vida pessoal e carreira musical. Eu celebrei 50 anos de atividades musicais, e vou continuar nesse ano de 2024, comemorando esse tempo dedicado à música.

 

Depois de ter passado seis anos fora do Estado, morando em Santa Catarina, ter enfrentado o isolamento social da pandemia, dificuldades de ter apoio financeiro através dos editais locais de cultura, conseguimos levar um público considerável a este templo das artes . Foi uma conquista coletiva. Nós, eu e a minha namorada, produtora do show linhagens, Jeanne Duarte, construímos uma rede coletiva de colaboradores, agradeço aos músicos que me acompanharam : Alex Mono, André Eugênio, Carlinhos Lua, Eliano Macedo, Márcio Oliveira, Renato Bandeira, Anastácia Rodrigues, passando por designer de luz, o João Guilherme, arte gráfica, Pedro Atanásio, a dançarina Marina Duarte, também cicerone do espetáculo, o cenógrafo Fernando Kerhle.

 

Contei com o apoio no camarim da Jaci Lima , com os quitutes da Feijoada da Preta, apoio no palco, de Zé Roberto , da Corisco Produções, e Mário Sérgio, o Estudio Malunguin, do Oberdan Hollanda, na engenharia de som, na comunicação, a jornalista Surama Negromonte.  Reunimos pessoas de muita competência e sensibilidade artística.

 

O show Linhagens está pronto para rodar mundo afora. Nos  próximos anos, pretendo circular com esse show pelo Brasil. Estamos em contato com um  produtor em Lisboa, para fazer o show Linhagens, em um festival. Tenho um livro de poesia sendo finalizado , espero o lançar daqui a dois anos.  Outro projeto que vem me motivando muito é o álbum virtual Deixa a Mata  ,  não desmata, com repertório de canções que tratam do desmatamento, queimadas, violências contra os povos originários,  das belezas naturais de Pernambuco.

 

NORDESTE – Como gostaria de ser lembrado, o seu legado para futuras gerações

 

ZEH ROCHA – Gostaria de ser lembrado como um artista que dedicou boa parte da sua vida a despertar nas pessoas a busca por harmonia nos relacionamentos humanos, a paz social,  a garra para enfrentar as lutas contra desigualdades sociais, que deixa um legado de centenas de composições belas, com esmero nos textos poéticos, valorizou os ritmos populares de Pernambuco, lutou pela preservação do meio ambiente, da Floresta Amazônica , da Mata Atlântica, que acreditou no amor e solidariedade entre os seres humanos.

 

NORDESTE – Como se identifica e se insere no futuro da MPB?

 

 

ZEH ROCHA – Vejo na atual cena musical brasileira, e no Estado de Pernambuco, o surgimento de muitos talentos: novos cantores, cantoras, compositores, compositoras, instrumentistas em todos os estilos musicais, vivemos uma grande efervescência musical. Recife é a capital da música.  Não conseguirei enumerar aqui, tantos nomes que estão surgindo, e que vão seguir no futuro, com muito sucesso.

 

Dentro das minhas expectativas, e metas, estão ações que visam construir as bases para uma vida saudável, tranquila, condições melhores para mim, e todos , todas que trabalham na cadeia produtiva da música em Pernambuco.

 

Eu, em particular, desejo manter minha saúde mental e espiritual para seguir compondo, lecionando minhas aulas presenciais e online, de canto, violão e técnica vocal, fazer shows , escrever mais e mais, e contribuir com grupos e movimentos ligados à preservação do meio ambiente.

 

O mais importante, e sou grato a Deus, a meus pais, meus mestres, é que trago em mim, o dom de criar músicas, cantar e tocar o que componho, pra mim, tudo isso, já é , sempre foi , muito gratificante, me motiva a estar vivo, sobrevivendo a esses tempos de ódio, guerras, violências contra o ser humano. Ser artista é um ato revolucionário.


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