ARQUIVO NORDESTE

ABIHV: “A corrida pelo H2V ainda não startou. Mas, estados do Nordeste já estão fazendo seu ‘dever de casa’ “

Por Luciana Leão

Enquanto ainda tramita no Congresso Nacional, sem data definida para votação do Marco Regulatório do Hidrogênio Verde, a Associação Brasileira da Indústria do Hidrogênio Verde (ABIHV) faz sua parte imprimindo a importância da votação PL 2308/2023, ao enxergar a oportunidade de trazer R$ 70 bilhões para a economia nacional até 2030. 

 

De acordo com estudos da ABIHV, a indústria de Hidrogênio Verde para o Brasil tem todo o potencial para se tornar uma solução fiscal para o país.

 

“Serão mais de R$ 70 bilhões até 2030 de superávit para a economia nacional. Recursos nacionais e estrangeiros que vão impactar em diversos setores, desde a indústria, passando pela logística, transportes, pesquisas e tecnologia”, afirma a Associação, em comunicado distribuído para a imprensa.

 

O arcabouço legal é fundamental para dar segurança aos investidores e aos contratos previamente acertados entre as companhias – nacionais e internacionais – e os governos de diversos Estados brasileiros. Eles vão gerar investimentos, arrecadação, emprego e renda em diversos setores relacionados.

 

Na visão dos representantes da ABIHV, a aprovação do Marco legal com incentivos à indústria e segurança regulatória é essencial para tirar do papel os projetos para a produção do Hidrogênio Verde no país já apresentados e ajudar no superávit brasileiro.

 

O portal da Revista Nordeste entrevistou a diretora Executiva da Associação Brasileira da Indústria do Hidrogênio Verde, Fernanda Delgado, que revela os desafios de ordem logística e tecnológica para o real potencial do H2V seja obtido. A executiva assinala que, de fato, os estados nordestinos avançam para atrair projetos e investimentos e concorda que a região apresenta vantagens competitivas e estratégias.

 

Confira a entrevista exclusiva com a executiva Fernanda Delgado:

 

Fernanda Delgado, diretora- Executiva da ABIHV. Foto: Arquivo Pessoal

NORDESTE –  Há uma corrida mundial para acelerar projetos de produção de H2V em todo mundo. No Brasil, o Nordeste sai na frente, pela sua natural abundância de sol e de ventos. Partindo desse contexto como os senhores (as) elencariam, com base em dados, quais Estados despontam como eventuais e principais produtores de H2V?

 

FERNANDA DELGADO – Na avaliação da ABIHV, cada Estado está buscando fazer seu “dever de casa” na “corrida” pela atração de projetos e investimentos em Hidrogênio Verde. Os que estão despontando de forma mais nítida são Pernambuco, Ceará, Bahia, Rio Grande do Norte e Piauí, com projetos mais robustos.

 

Todos eles possuem vantagens competitivas e estratégicas, que devem ser exploradas. Da mesma forma, todos possuem desafios a serem superados, muitas vezes de ordem logística e tecnológica, para que o real potencial do Hidrogênio Verde seja obtido.

 

Na visão da Associação, é muito importante que cada Estado congregue as melhores condições para os investidores, prepare seus acordos, suas intenções, suas vantagens em termos de isenções e concessões e assine contratos de intenção de investimentos, para que quando a regulamentação do setor estiver definitivamente pronta, os resultados sejam mais rápidos. 

 

Ou seja, a corrida efetivamente ainda não começou, mas quando o ‘start’ for dado, quem estiver melhor preparado terá, obviamente, mais vantagens, pois se preparou de forma melhor. O sucesso desses Estados – e da própria indústria do Hidrogênio Verde – dependerá da regulamentação do setor, da efetiva implementação dos projetos, da atração de investimentos e da capacidade de superar os desafios logísticos e tecnológicos.

 

NORDESTE –  Ao mesmo tempo que o Nordeste possui características para ser líder em H2V, a região possui gargalos significativos como a questão da logística de transporte. Qual sua visão sobre esse ponto.

 

FERNANDA DELGADO – De fato, o desenvolvimento da produção de hidrogênio verde no Nordeste enfrenta desafios logísticos consideráveis para o transporte desse vetor energético. Alguns gargalos logísticos exigem soluções eficazes, como aqueles relacionados à infraestrutura (a falta de dutos dedicados e portos inadequados para embarque em larga escala), padronização (ausência de normas unificadas para transporte) e de logística multimodal (o Hidrogênio verde exige uma combinação complexa de modais). Mas o hidrogênio enfrenta e enfrentará desafios logísticos em todos os lugares, não só no nordeste do Brasil.

 

Para superar esses desafios, é necessário um esforço conjunto de governos e empresas para trazer soluções como a construção de dutos e terminais portuários, a criação de normas técnicas e regulamentações claras, o incentivo à pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias, além de treinamento para formar mão de obra especializada. Acredita-se que com investimentos, planejamento e soluções inovadoras, o Nordeste pode superar esses desafios logísticos e se tornar um importante polo de produção e exportação de hidrogênio verde.

 

NORDESTE –  A falta de regulamentação estabelece um outro desafio para o setor. A corrida pela regulamentação não deveria vir em primeiro lugar?

 

FERNANDA DELGADO – Atualmente, este é o desafio maior: o da regulamentação do setor. No final de 2023, foi aprovada no Parlamento brasileiro a primeira versão do Projeto de Lei que regulamenta a cadeia produtiva do Hidrogênio Verde (PL 2308/2023). Atualmente, está em tramitação no Senado Federal. Este é um passo muito importante na construção de um marco regulatório para o desenvolvimento do Hidrogênio no país. Isso abre caminho para se estabelecer o Hidrogênio como vetor energético, colocar o Brasil no processo de uma economia de baixo carbono e da industrialização verde, com processos produtivos menos emissores de gases de efeito estufa.

 

Essa construção de um arcabouço legal viabiliza a competitividade do Hidrogênio Verde no país, é o primeiro passo para sermos líderes da descarbonização, para trazer projetos para o Brasil, projetos sólidos, sustentáveis, de ordem nacional e internacional. 

 

A ABIHV tem acompanhado de perto todas as discussões junto aos parlamentares, e prestado seu apoio para o andamento da regulamentação, trazendo informações, participando de eventos e realizando o trabalho para impulsionar esse setor que possui um potencial enorme de recursos para a economia brasileira.

 

NORDESTE –  Quais setores da economia seriam beneficiados diretamente e em termos de geração de empregos e inserção de investimentos, na região Nordeste como um todo?

 

FERNANDA DELGADO – A cadeia produtiva do Hidrogênio Verde pode ajudar a impulsionar a economia da Região como um todo. A começar pela geração de emprego e renda, a partir do momento em que as plantas industriais começarem a ser construídas, haverá necessidade de uma quantidade considerável de trabalhadores. 

 

Em um segundo momento, quando estiverem em funcionamento, será preciso mão de obra especializada e treinada, para operacionalizar os processos industriais e as diversas etapas do processo produtivo do Hidrogênio Verde. Com isso, projeta-se uma reação em cadeia, impactando positivamente toda a economia.

 

Em nível Brasil, a indústria do Hidrogênio Verde como um todo tem um potencial enorme. Para se ter uma ideia, nos próximos 25 anos, o Brasil pode ter uma injeção de recursos na economia na ordem de trilhões de reais, chegando à arrecadação de R$ 800 bilhões em todos os níveis do governo, devido às contrapartidas e ao desenvolvimento e adensamento da cadeia produtiva. 

 

Esse é o resultado de um estudo feito pela Associação Brasileira da Indústria do Hidrogênio Verde (ABIHV). No curto prazo (até 2030), calcula-se um superávit fiscal em torno de R$ 70 bilhões. É importante destacar que os projetos e programas de hidrogênio verde ainda estão em fase inicial de planejamento e, como tal, podem sofrer alterações à medida em que os arcabouços legais forem se consolidando,  e os acordos forem assinados e os investimentos começarem a ser realizados.


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