PARAÍBA

“Admirável Sertão” de Zé Ramalho: uma viagem surrealista, cheia de enigmas, psicodelismo e até inconformismo com a cena social

De todos os artistas brasileiros, o autor e intérprete paraibano Zé Ramalho é um dos poucos em que sua música não se rotula como engajada na crítica política, mas nem por isso, ao final do extraordinário Musical “Admirável Sertão” escapa o olhar crítico do artista com a cena social brasileira a incomodar em demasia o poeta transcendental no seu “Admirável Gado Novo”.

 

Mas, nem de longe esse contexto social se faz mais profundo do que a trama teatro-musical elaborada de forma densa, realista e visionária do diretor Eduardo Barata narrando ao longo de 90 minutos uma viagem também psicodélica tratando vida e obra de Zé Ramalho.

 

É imperdível, como se conceitua para chamar a atenção que neste domingo, às 19 horas, tem a última apresentação de estreia do espetáculo a partir de João Pessoa. 



Aliás, o diretor Eduardo Barata ao apresentar todo elenco com direito até as presenças de dois filhos de Zé Ramalho, Christian e Antônio mais dois netos, disse que o imenso esforço de conduzir tanta gente até a estreia no Paulo Pontes valeu à pena exatamente  por estar no ambiente do homenageado.

 

UMA HISTÓRIA SINGULAR

 

Somente gente com Spilberg ou Almodóvar teria condições de pinçar de forma esteticamente tão profunda a narrativa, musicalidade, história pura e um universo tão místico quanto o apresentado no Musical.

 

Desde a abertura com o som afinadissimo do acordeon, da famosa sanfona nordestina, o verso rural, o aboio, e a transmutação da feminilidade em Zé Ramalho saudosamente marcado pelo ausência do pai morto no açude para ter abrigo do Ser Tão até chegar no denominado AVOHAI – uma das belas razões – canções do poeta.

 

A narrativa do espetáculo expõe uma vida marcada por traumas sempre com cada fase extremamente bem interpretada pelo elenco do Musical em que desde a rápida passagem por Campina Grande, antes de chegar em João Pessoa, Jackson do Pandeiro e os Beatles mexeram fortemente no psiquê do artista.

 

São muitas fases, inclusive o tempo fortemente marcado pelo

Psicodelismo e as “ viagens “ cósmicas regadas a alucinógenos permeiam muitos sentimentos até passar pela “Vila do Sossego” e na fase seguinte se apaixonar loucamente pela dama das colunas sociais em “Chão de Giz”, um espetáculo a merecer destaque na interpretação da atriz Adriana Lessa.

 

Todo Musical se traduz em versões fortemente afetivas, com força psicológica a afetar também e muito o artista em dificuldades, até se dispor a entregar o corpo como em “Garoto de Aluguel” noutra cena muito forte a marcar a vida do poeta. Seria como traduzir “eu penei/ mas aqui cheguei”.

 

Em síntese, depois de tanto penar eis que a consagração se efetiva no decorrer do tempo onde até um pedaço de unha de Mujica, o maior autor do cinema de Terror do Brasil, se transformou em amuleto para levá-lo definidamente ao lugar TOP da MPB terminando seu Musical com a força rebelde de “Admirável Gado Novo” até celebrar a vida com “Frevo Mulher”.

 

Em tempo, se faz indispensável reconhecer o talento de Ceiça Moreno, Cesar Werneck, Duda Barata, Marcello Melo, Muato, Nizaj, Pássaro e Tiago Herz.

O espetáculo é, de fato, extraordinário e imperdível.

Parabéns a todos do Musical!

 

ÚLTIMA

 

“ É duro tanto ter que caminhar/ e dar/ muito mais do que receber”


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