BRASIL

Agência vê “contínua piora nas contas públicas” e rebaixa rating do Brasil

Um dia depois do governo oficializar a redução da meta de superávit fiscal de 1,1% do PIB (Produto Interno Bruto) para 0,15% em 2015 e enxergando acentuada e contínua piora dos resultados das contas públicas brasileiras, a agência de classificação de risco Austin Rating rebaixou a nota de crédito do país de longo prazo, em escala global, de BBB- para BB+ em moeda estrangeira. A perspectiva dos analistas é estável.

Em relatório assinado por Alex Agostini e Wellington Ramos, a Austin destaca os baixos resultados obtidos pelo governo para a obtenção de superávit primário para o ano como incapaz de reduzir ou neutralizar o avanço do endividamento público, fator que, segundo a casa de análise, demonstram a fragilidade da gestão das contas públicas por parte do governo Dilma Rousseff e mantêm um cenário de grandes incertezas sobre os retornos de negócios no país. A dupla ainda fala sobre o enfraquecimento das contas externas, persistência da inflação em patamares elevados, expectativas de desempenho econômico fraco e deterioração do mercado de trabalho.

"As condições supracitadas têm afetado de forma significativa os fatores de produção, em particular o nível de emprego no setor industrial, bem como o nível de confiança de consumidores e empresários que, por sua vez, têm reduzido fortemente os níveis de investimentos na economia brasileira com efeitos negativos sobre a dinâmica macroeconômica prospectiva", escreveram Agostini e Ramos. Para eles, o ciclo de fortes altas na taxa básica de juros – a Selic, hoje a 13,75% ao ano -, apesar de contribuir na convergência dos preços para o centro da meta de 6,5% anuais pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), pode atrapalhar ainda mais no aquecimento do enfraquecido mercado nacional atualmente.

A condição das contas externas também preocupa os economistas, que apontam para elevados e crescentes déficits em transações correntes, reflexos, segundo eles, de um enfraquecimento do comércio exterior brasileiro. A desvalorização dos preços da maioria das commodities, com destaque para o minério de ferro em meio à desaceleração da demanda chinesa, e a inversão do fluxo de capitais, que tendem a apontar para uma saída de investimentos do Brasil em direção a Europa e Estados Unidos, mostra que o cenário não deve melhorar a curto e médio prazo. Na medida em que as maiores economias do planeta dão novos sinais de recuperação, investidores passam a considerar o retorno seu capital em aplicações nesses mercados – hoje, vistos com uma relação de custo/benefício melhor que os emergentes.

Apesar das projeções negativas, a agência ressalta a importância do processo de concessões posto em prática pelo governo, sobretudo no setor de infraestrutura – apontado como um dos maiores gargalos da economia do país. "Tal ação do governo federal reflete no potencial ganho de competitividade dos setores industrial e exportador, fator que será acompanhado e avaliado seus desdobramentos e contribuições diretas sobre a dinâmica macroeconômica do PIB, bem como desonera o setor público de despesas na prestação desses serviços", argumentaram os analistas.

Por fim, o relatório produzido pela Austin lista sete itens fundamentais para o país preservar sua atual nota de crédito ao longo do tempo: 1) manutenção e ampliação das reservas internacionais; mitigação da parcela da dívida interna pós-fixada; reversão dos recentes resultados primários deficitários; contínua redução da participação do setor público na dívida externa bruta; queda da taxa de inflação e estabilidade monetária; estabilidade da Dívida Bruta do Setor Público; e recuperação do nível de renda e da base de trabalhadores com carteira assinada. Em meio à onda de pessimismo resta saber se a Austin Rating apenas abriu a porteira ou o corte no rating brasileiro se alastrará por outras agências usadas como grandes referências pelo mercado internacional. Vale lembrar que os investidores aguardam o parecer da Moody's sobre a visita que faz ao país.

InfoMoney


Os comentários a seguir são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.

Recomendamos pra você


Receba Notícias no WhatsApp