BAHIA

Baianos conseguem melhores reajustes salariais na crise

Mesmo com a crise, os trabalhadores baianos têm conseguido obter melhores resultados nas negociações salariais que o restante do país. De acordo com levantamento feito pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), das 19 negociações de convenção coletiva realizadas este ano na Bahia, 16 conseguiram firmar acordos para ganhos reais, ou seja, com reajustes acima da inflação – o que representou 84,2% do total. Na média nacional, apenas 69% das categorias obtiveram o feito.

No geral, nas 19 negociações no estado, apenas duas categorias conseguiram zerar as perdas inflacionárias, ficando com reajustes iguais ao da inflação, e apenas uma concordou em receber reajuste abaixo da inflação.
Das 19 categorias, oito foram do setor industrial (com ganho real médio de 1,23%), seis do setor de serviços (ganho médio de 0,68%) e cinco da atividade comercial (0,75% de ganho real).

Por norma interna, as classes profissionais não são divulgadas no estudo do Dieese. O órgão, entretanto, esclarece que o levantamento não considera os reajustes aplicados nos setores rural e público, com exceção das empresas estatais.

 

Piso mínimo

De acordo com a supervisora técnica do Dieese, Ana Georgina Dias, o bom desempenho das negociações no estado, por outro lado, ainda reflete, em parte, o fato de que a maioria das categorias, sobretudo nos setores do comércio e construção civil, mantém pisos salariais atrelados ao salário mínimo, estando na faixa de menor renda.

"Com o aumento real do mínimo em 2,5% – o nominal foi 8,6% – muitas categorias acabaram tendo um reajuste real automático", alertou Ana Georgina Dias.
"Já as categorias com renda acima do salário mínimo encontraram dificuldades para obter maiores reajustes, sobretudo, nas faixas salariais mais altas", completa a técnica do Dieese.

A média do ganho real nas negociações feitas no primeiro semestre deste ano na Bahia foi de 0,93%. Ainda assim, o percentual também superou o resultado nacional, de 0,51% .

O Dieese ainda observa que as categorias com data-base nos primeiros meses do ano conseguiram melhores resultados. "Isto ocorreu porque, na época, a inflação estava mais baixa que os padrões atuais e ainda se tinha esperanças de superação da crise no segundo semestre", frisa Ana Georgina.

 

Vantagem

Foi o caso dos trabalhadores da construção civil, cuja data-base é em janeiro. Em 2015, a inflação no mês era de 6,23%, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), auferido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No mês passado, o mesmo índice apontava inflação de 9,88%. "Foi mais fácil, no início do ano, negociar reajuste superior a 6% do que agora".
O presidente do Sindicato dos Frentistas, Antônio José dos Santos, lembra que foi preciso fazer uma paralisação de três dias, no mês da data-base, em maio, para que a categoria conseguisse obter um ganho real. "Conseguimos um reajuste de 10,26%, com ganho sobre a inflação que, na época, já estava em 8,20%", lembrou.

 

Perda do poder aquisitivo

A crise tem sido o principal argumento usado pelo empresariado para evitar maiores avanços nas negociações salariais realizadas agora no segundo semestre.
Não são raros os casos de promoções suspensas e corte de bônus. O empresariado, por outro lado, acaba transferindo para os preços finais boa parte dos custos gerados com a retração econômica, num ciclo que leva o trabalhador a ter dupla perda do poder aquisitivo.

O alerta é feito pela supervisora técnica do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Ana Georgina Dias. "Quando o empresariado alega não poder conceder reajuste e, por outro lado, pratica aumento de preços, o ônus fica apenas para o trabalhador", diz.
A técnica ainda ressalta o impacto diferenciado por atividade. "É o caso do setor financeiro, um dos que, ao contrário, vem ganhando com a crise, fazendo com que o reajuste solicitado pelos bancários, de 16%, seja compatível de ser atendido", exemplifica.

O presidente em exercício do Fórum Empresarial da Bahia, Antoine Tawil, reconhece que há segmentos que estão sofrendo mais. "Mas, todos estão sendo impactados pela conjuntura econômica e pela incerteza sobre o futuro", ressalta.

Segundo ele, a preocupação do empresário é manter o negócio e superar a crise, evitando, ao máximo, o desemprego.


Joyce de Sousa
Agência Brasil

 


 


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