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Brasileiras participam de desafio contra sexismo no esporte

O sexismo no esporte é o tema do desafio internacional 100 Mulheres, que promove esta semana, no Rio de Janeiro, discussões e propostas para combatê-lo, usando a hashtag #TeamPlay (em tradução livre, Time do Jogo).  A iniciativa mundial, promovida desde 2013 pela empresa de comunicação pública britânica BBC, visa a debater os problemas que atingem as mulheres e promover a igualdade de gênero, além de homenagear mulheres inspiradoras durante aproximadamente um mês. Este ano, pela primeira vez, o desafio busca soluções para a desigualdade.

Participam da lista de homenageadas e das atividades propostas nove brasileiras: a ex-jogadora de vôlei de praia e medalhista olímpica Adriana Behar, a nadadora de 93 anos Nora Ronai, a jogadora de futebol Beatriz Vaz e Silva, a remadora olímpica Fernanda Nunes, a treinadora de futebol Claudiannny Drika, as estudantes Ana Luiza Santos de Andrade e Luiza Travassos e ainda a rapper MC Soffia e a diretora da organização não governamental (ONG) Think Olga, Maira Liguori.

Integrante da equipe da BBC Brasil, a repórter Renata Mendonça explica que está sendo gravado um documentário com as participantes do desafio, além de reportagens para TV, rádio e o site da companhia britânica.

“O Brasil acabou de sediar dois grandes eventos esportivos, é muito conhecido no mundo inteiro por ser o país do futebol e, ao mesmo tempo, dá muito pouca atenção ao futebol feminino e aos esportes de mulheres. Então, vamos com uma equipe inteira da BBC para esses países, para pensar junto com especialistas o que a gente pode fazer para mudar isso. O grande desafio é propor uma solução. Pode ser uma coisa muito pequena, [como] um aplicativo, uma campanha”, explicou Renata.

Ontem (23), a discussão foi em São Januário, o estádio do Vasco, onde Marta começou a jogar aos 14 anos. Hoje (24) foi feito um programa de rádio e, no sábado, o encerramento do desafio será com uma partida de futebol.

Preconceito no esporte

Para Adriana Behar, que lidera a Comissão de Mulher no Esporte dentro do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), as mulheres enfrentam muitas barreiras para iniciar, permanecer e se profissionalizar no esporte. “Dentro do esporte ainda existe discriminação, barreiras que dificultam a entrada à prática esportiva feminina, depois a permanência de mulher no esporte e, consequentemente, o desenvolvimento das competências e habilidades físicas técnicas também de mulher dentro do ambiente de alto rendimento”, afirma.

De acordo com ela, dentro do ambiente esportivo ainda existe muita discriminação e preconceitos, como considerar que esporte é uma atividade para os homens, que força física e competição são atribuídas ao sexo masculino e que o esporte masculiniza o corpo. Adriana relata que a diferença de tratamento entre homens e mulheres é muito comum no mundo esportivo, chegando à misoginia e objetificação do corpo das atletas.

“Dentro do meu ambiente, passei por um processo dentro do voleibol de praia, que era uma modalidade nova, onde a gente teve que questionar. O número de duplas na competição feminina era menor do que o número de duplas na competição masculina, a premiação inicialmente era menor para as mulheres do que para os homens. No crachá da competição a foto do atleta masculino era ele com o uniforme, da atleta feminina era a foto do corpo inteiro, mostrando a bunda dela, uma foto estática do corpo, não era pegando a bola nem nada assim”.

Ela destaca também que as mulheres têm menos investimento em patrocínio e espaço para transmissão de competições. “O investimento de patrocínio e de qualquer tipo de verba [é] mais voltado para homens do que para mulheres. Em estudos feitos somente referentes aos Jogos Olímpicos de Londres, a exposição na mídia para a mulher é muito mais voltada para o seu corpo, para as questões de símbolo sexual, objetificação do corpo, do que de suas competências”.

A ex-jogadora ressalta que, além das iniciativas específicas para o esporte, é preciso mudar a forma como a sociedade como um todo trata as mulheres. “O mundo todo passa por isso, o desafio não está só dentro do esporte, está em todas as áreas”, afirmou.

Desafio 100 Mulheres

O desafio 100 Mulheres 2017 começou no Vale do Silício, nos Estados Unidos, de 2 a 6 de outubro, com o tema da inserção das mulheres na área de tecnologia e a hashtag #TeamLead (Time da Liderança). Do dia 9 a 13, foi a vez de Nova Délhi, na Índia, com o tema analfabetismo feminino e a hashtag #TeamRead (Time da Leitura). Na semana passada, o desafio ocorreu em Londres, na Inglaterra, e em Nairobi, no Quênia, discutindo a segurança no transporte público, com a hashtag #TeamGo (Time que Vai).

A lista inicial montada pela BBC contém 60 nomes de mulheres inspiradoras. Os outros 40 nomes serão escolhidos entre sugestões enviadas durante o mês do desafio. Ao todo, 30 mulheres já foram incluídas, chegando a 90 nomes, que podem ser conferidos no site da BBC.

Entre as homenageadas estão a astronauta norte-americana Peggy Whitson; a presidente do Chile, Michele Bachelet; a presidente da Libéria, Ellen Johnson Sirleaf; a dançarina trans chinesa Jin Xing; a capitã da seleção feminina de futebol inglesa, Steph Houghton; e a psicóloga social de Harvard Amy Cuddy.

O público pode participar dos debates pelas redes sociais, usando os marcadores @BBC100Women e #100Women. Mais informações podem ser obtidas no site da BBC e nas redes sociais.

Agência Brasil


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