BRASIL

Brasília e a agonia do transporte público , em análise por José Natal

As cidades brasileiras, e suas comunidades, ao longo do tempo se acostumaram a viver entre tapas e beijos com suas mazelas e agruras. Aqueles problemas, que cada um administra como pode, e  consegue – a vida tem que ser vivida. O cardápio de cada uma é rico e variado, para alguns sobram tapas, para outros faltam beijos.

 

Pode ser exagero – mas quero pensar que não – mas de repente Brasília se candidata, com todas as honras, para se transformar em uma das cidades com o pior sistema de transporte público do País. E aqui, vale o registro, seria injusto creditar essa culpa, ou pecado, apenas ao Governo local.
Fácil deduzir, simples assim.

 

O GDF, mesmo que as duras penas, faz a sua parte, abre as concessões, estabelece normas, contrata as empresas, ajusta acordos e o serviço passa a existir. Aí começam os problemas, dramas para ser exato. Não se sabe por que, a impressão que se tem é que as empresas, quase todas elas, não se incomodam nem um pouco com o conceito da opinião pública sobre elas.

 

A classe política e a sociedade civil sabem muito bem que não há fiscalização mais eficiente do que aquela que vem da própria comunidade, do usuário. E nos últimos tempos o registro de queixas contra as empresas cresce dia após dia.

 

Dificil a semana em que não se registre dois ou três ônibus quebrados pelas ruas da cidade, reboques acionados e uma fila interminável de passageiros que ficam a espera pelo socorro salvador. Na outra ponta, o superado e problemático sistema que opera o metro com alguma frequência e vai para as páginas dos jornais e canais de TV, escrachando uma série de falhas.

 

Há quem diga que o sistema está com fadiga, e recai sobre os administradores um punhado de criticas pela falta de habilidade e de uma carência de gestão comprovada. Aqui
se confirma a máxima de que toda ocorrência gera consequência, coisa lógica.

 

A falta de um transporte público eficiente e confortável, obriga o cidadão a sempre fazer o uso do carro, seu meio de transporte seguro. Todos
nós, como se fossémos integrantes de uma manada, invadimos as ruas e avenidas, entupimos vias e becos e essa avalanche de veiculos gera um problema paralelo.

 

Os congestionamentos aumentam, a população sofre e o stress é inevitável. Evidente que esse caos não é “privilégio” de Brasília, mas o que a comunidade pede, ou
implora, é que alguém com o poder de decisão se apresente e esboce alguma providência para que esse mal não se transforme numa ferida sem cura.

 

Que se faça junto a essas empresas uma cobrança por mais cuidado na preparação de equipes. Que exija frotas de veículos que atendam o cidadão sem os atropelos, e com maior qualidade técnica e responsabilidade social. Vale também o alerta de que a relação motoristas e passageiros também deve ser ítens apreciados.

 

Fatos como estes, mesmo sem a culpa direta do governo local, mancham de certa forma – ou de forma certa – a imagem da administração que se esforça pra ser correta.

 

Os governantes, todos eles, cumprem seus mandatos e se empenham para deixar legados, registros do que fizeram durante o tempo de vida no cargo. No caso de Brasília, o transporte público pode se transformar na mais pertubadora herança, num legado ruim. Há que se registrar, com justiça, que o Governador destinou a cidade obras importantes, e deve se precaver para evitar ser atropelado pela avalanche de problemas gerados no transporte público, quase que uma chaga negativa. Sem saudosismo, vale lembrar aqui o que fizeram alguns ex-governantes de Brasília, para deixar seus nomes na história da Capital do Pais.

 

O primeiro prefeito da cidade, Israel Pinheiro, nomeado em 1961, deixou como legado o pioneirismo de administrar uma cidade em construção, comendo poeira com muito sol e calor. Depois dele, Wadjo da Costa Gomide, que foi prefeito de março de 67 a outubro de 69, deixou no registro da história, a criação da Companhia de Eletricidade de Brasilia, a construção do Palácio do Buriti e a inauguração da cidade do Guará.

 

O gaúcho Hélio Prates da Silveira construiu a Ponte das Garças, o Ginásio Nilson Nelson, o Hospital de Taguatinga e entregou Ceilândia aos moradores.

 

O baiano Antônio Serejo Farias, engenheiro civil, governou a cidade de abril de 74 a março de 1979, em pleno regime militar. Pesquisas da época indicavam um saldo positivo sobre a atuação de Farias. Terminou a obra da Ponte Costa e Silva, fez o viaduto que hoje liga as avenidas W3 Sul e W3 Norte, duplicou a avenida W3 Norte e inaugurou o Parque da Cidade, com o nome do filho, Rogério Pithon Farias, que morreu vitima de acidente de trânsito.

 

Joaquim Roriz, administrou Brasília de 1991 a 1994, e depois, reeleito, de 1999 a 2002. Populista, polêmico e talvez o mais votado governante de Brasília até os dias de hoje, Roriz ainda teve um terceiro mandato.

Foi em seu Governo a consolidação da obra do metrô, a inauguração de Samambaia e a obra do Park Shopping, hoje referência comercial no Distrito Federal. Roriz, goiano de raiz, também é o responsável pelo surgimento dos condominios, hoje espalhados pelas quatro regiões de Brasília. Milhares de pessoas ocupam essas residências, algumas até hoje sob o fantasma da fiscalização.

Pesa sobre ele a critica de que sob suas gestão Brasília sofreu invasão de áreas públicas, o surgimento de vilas e formação de comunidades sem o amparo legal das instituições.

Sua história política em Brasília o transformou num mito para milhares de seguidores, e a sua passagem pelo Palácio do Buriti ainda nos dias de hoje é relembrada, inclusive pelos adversários de diferentes correntes políticas.

A história registra um intenso mutirão de obras na gestão de José Roberto Arruda, que deixou o governo atropelado por uma devastadora série de denúncias, que a época o levou a prisão, e até hoje o obriga a sucessivas explicações à justiça. Mas seu legado de obras, é fato.

 

Deixou seu DNA politico até hoje lembrado, inclusive por oponentes. Mesmo que apegado a gabinetes, ou na prática saudável de visitar canteiros de obras e sentir de perto o que acontece a seu redor, o governante deve, ou deveria, estreitar e azeitar esse relacionamento com o cidadão.

 

O sistema de transporte coletivo de Brasília, guardadas as devidas proporções, SUGERE para que haja uma série de medidas radicais, para que se evite que o mal cresça, e aumente ainda mais o transtono e angústia da população.

 

Cabe as empresas uma dedicação maior e mais profissional a missão que assumiram perante a comunidade. O legado de um Governo o coloca nos anais da história, deixa patente o que foi feito pelos seus líderes e liderados.
E apenas isso bastaria para os que assumiram esse compromisso, entendam que além de zelar com cuidado e  apreço pelo que fazem no presente também se preocupem como serão avaliados no futuro.

José Natal
Jornalista


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