BRASIL

Ceplan aponta dificuldades na conjuntura econômica nacional

Inflação alta, PIB em queda, Real desvalorizado e uma manobra arrojada por parte do governo federal para reequilibrar as contas públicas e combater a alta dos preços. O cenário, com heranças de 2014, coloca o primeiro semestre de 2015 na expectativa de um ano de sobrevivência. Não será o pior, mas não será fácil. É o que conclui a 19ª Análise Ceplan, um estudo da conjuntura econômica da Ceplan Consultoria Econômica e Planejamento, apresentado em coletiva de imprensa nesta quarta (27.05), na sede da empresa, no Recife.

O estudo, produzido pelos economistas e sócios-diretores da Ceplan, Tania Bacelar, Jorge Jatobá, Valdeci Monteiro, Tarcísio Patrício Araújo, Aldemir do Vale e Leonardo Guimarães, traz uma amostra dos primeiros números da Economia mundial, nacional e de Pernambuco em 2015, e um especial sobre os jovens e o mercado de trabalho comparando dados nacionais, regionais e de Pernambuco.

No cenário mundial o destaque é para a previsão de crescimento de 3,5% da economia mundial em 2015. De acordo com o World Economic Outlook, do FMI, deverá ocorrer uma recuperação ainda não consolidada dos Estados Unidos, com aumento do PIB em 3,1%. Nos países da Zona do Euro a expectativa também é positiva, com aumento do PIB em 1,5%. A China, no entanto, reduz seu ritmo e deve crescer 6,8% este ano. Para o Brasil e a Rússia, as perspectivas são ruins. Nosso país não deve crescer, pelo contrário, terá – segundo o FMI – uma baixa de -1% no seu PIB em 2015.

A taxa prevista pelo FMI é pior do que a de 2014, quando, a preços de mercado, o PIB brasileiro cresceu 0,1%, em relação a 2013. O ano de 2014 foi negativo para a indústria, com taxa de -1,2%; para as exportações (-1,1%) e para as importações (-1%) e mais ainda para a Formação Bruta de Capital Fixo que apresentou queda de -4,4%, mostrando uma clara redução de investimentos.

O IPCA, que mede a inflação e está acima da meta, em abril último atingiu 8,17%, puxada pelo realinhamento de preços administrados, como os dos combustíveis e da energia, promovido pelo governo federal que busca um maior equilíbrio entre as políticas fiscal e monetária para conter a inflação. Para Jorge Jatobá, os resultados deixam evidente a má condução da política fiscal em 2014. “Apesar dos esforços do governo no primeiro trimestre deste ano, a situação fiscal mostra sinais de deterioração com um resultado primário de apenas R$ 19 bilhões”, equivalente a 1,37% do PIB, afirma o economista. O comprometimento com os serviços da dívida interna chegou a 45,3% das despesas do governo federal em 2014, seguido pela obrigação com os benefícios previdenciários (18,1%).

No comércio internacional, a balança comercial brasileira apresentou em 2014 um resultado de – US$ 4 bilhões, diferença entre os US$ 225 bilhões em exportações e os R$ 229 bilhões em importações realizadas. Para 2015 a desvalorização do Real diante do dólar, resultante da sua valorização no mercado internacional, do nosso déficit em transações correntes e da insegurança econômica e política, acena com um efeito positivo para a balança de 2015.

Apesar das adversidades, o Brasil continua atraindo capital externo. O Investimento Estrangeiro Direto (IED) de janeiro e fevereiro deste ano ficou em US$ 6,7 bilhões, abaixo dos US$ 9,1 bilhões do mesmo período de 2014, mas capaz de levar o Banco Central do Brasil a projetar uma entrada de US$ 65 bilhões na nossa Economia em 2015 ano, superando os US$ 62 bilhões do ano passado. “Déficits interno e externo, inflação elevada, baixo crescimento com perda de dinamismo interno e descompasso entre investimento e poupança doméstica resumem o atual quadro da nossa economia”, sentencia Jatobá.

NORDESTE E PERNAMBUCO

O cenário nebuloso da economia nacional não chegou a encobrir a economia nordestina em 2014. De acordo com o Índice de Atividade Econômica do Banco Central, a região cresceu 3,7% em 2014 e Pernambuco, 0,6%. Pelos dados do IPECE, o Ceará teve incremento maior, de 4,4% e a Bahia (SEI-BA), de 1,5%. O desempenho de Pernambuco pode ser justificado pela retração na construção civil e a diminuição do crescimento no comércio e nos serviços. Mas na indústria de transformação, o Estado reagiu no primeiro trimestre de 2015 e cresceu 2,0%, único índice positivo na comparação com o Brasil (-7,9%), o Nordeste (-6,0%), o Ceará (-5,9%) e a Bahia (-13,0%).

No comércio varejista ampliado, as vendas em março passado, comparadas com março de 2014, apresentaram quedas. Sergipe e Rio Grande do Norte foram os únicos Estados do Nordeste que tiveram resultados positivos de 2,1% e 1,2%, respectivamente. Para o Brasil, a redução foi de -5,3% e, para Pernambuco, de -2,8%.

A diminuição no rendimento médio dos trabalhadores pernambucanos chegou a -7,6% – a maior registrada pelos Estados do Nordeste no comparativo entre o primeiro trimestre de 2015 e o primeiro trimestre de 2014. Na região, a renda caiu -2,0%. Houve crescimento na Paraíba (3,9%) e em Alagoas (2,2%). Entre abril do ano passado e abril de 2015, com a retração do estoque de empregos formais Pernambuco também sofreu a maior queda regional: -2,8%, bem acima dos -0,5% do Brasil e dos 0,1% do Nordeste. Ceará e Alagoas registraram aumento de empregos com índices de 1,8% e 1,5%. Detalhando o desempenho pernambucano, a explicação pode estar na queda de -26,2% nos empregos da construção civil. “As desmobilizações de grandes obras em Pernambuco respondem pela queda no estoque de empregos, somadas à crise econômica que estamos vivendo”, afirma o economista Valdeci Monteiro.

PERSPECTIVAS E PROJEÇÕES

Um termômetro para avaliar as perspectivas para 2015 é a sondagem realizada com os empresários industriais. Entre outubro de 2013 e abril de 2015, em relação à demanda por seus produtos, os empresários da indústria de transformação e da indústria extrativa mineral no Nordeste estão mais otimistas que os pernambucanos. No mês passado, houve uma melhora na expectativa dos nordestinos, atingindo 51,8 pontos, seguida pelos 49,9 pontos dos pernambucanos e os 47,9 pontos dos brasileiros.

No setor de Serviços, segundo a Fundação Getúlio Vargas, a expectativa dos empresários do país, que vinha em decadência desde o final do ano passado, melhorou em abril, atingindo 105 pontos. Em Pernambuco, também houve melhora. O sentimento de ‘dias melhores virão’ apareceu ainda, em abril passado, entre os consumidores brasileiros. “As expectativas para a economia nacional em 2015 não são favoráveis, apesar de uma melhora em abril. Em Pernambuco, as previsões, porém, são mais otimistas”, resume a economista Tania Bacelar.

Com base num sistema de previsões econométricas que inclui dados mundiais, nacionais e regionais sobre PIB, preços de commodities como petróleo e alimentos, inflação, câmbio e desempenho fiscal do Estado, entre outros, a 19ª Análise Ceplan aponta previsões para os próximos trimestres de 2015. Para o mundo, o crescimento do PIB será de 2,1%; -0,32% para o Brasil; 0,87% para o Nordeste e 1,13% para Pernambuco.

INFORME ESPECIAL

As populações brasileira e pernambucana estão crescendo em ritmo mais lento, segundo dados do IBGE de 2003 a 2013. O estudo especial realizado pela equipe da Ceplan constatou que a População Economicamente Ativa (PEA) foi declinante na faixa etária que vai dos 15 aos 29 anos, no período analisado. No Brasil, a redução foi de -0,5%; no Nordeste, de -1,2% e em Pernambuco, de -1,7%.

No mercado de trabalho nacional, a taxa de participação dos jovens entre os 15 e 29 anos foi caindo de 68,1% em 2003 para 64,9% em 2013; no Nordeste, saiu de 64,5% para 59,7% e em Pernambuco, de 64,3% para 58,7%, no mesmo período. Em números absolutos, em Pernambuco, em 2003, tínhamos 1,329 milhão de jovens de 15 a 29 anos ocupados no mercado de trabalho. Dez anos depois, eram 1,151 milhão – uma queda de 1,4%.

Seguindo esta diminuição, registramos outra, a da taxa de desocupação do grupo entre 15 e 29 anos no Estado: passou de 16,3% para 14,3% entre 2003 e 2013. No período, foi registrado um aumento significativo da participação de pessoas empregadas no total da ocupação das pessoas entre 15 e 9 anos, que passou de 54,7% para 75,8%, com queda relativa entre os trabalhadores domésticos de 6,2% para 4,1%. Houve redução também na participação dos jovens que trabalham por conta própria, de 16% para 12,8%.

O estudo mostrou ainda um crescimento na participação dos jovens de 15 a 29 anos na rede de proteção social.A contribuição para a previdência social do grupo etário saltou de 27,8% para 51,1%.

Mas a chamada ‘geração nem nem’, os jovens que estão nesta faixa etária, mas que nem estudam e nem trabalham, em 2013, segundo o IBGE, representaram uma parcela significativa nos contextos nacional, regional e estadual. No Brasil, eram 20,3%, no Nordeste, 24,3% e em Pernambuco, 25,8%.

Na síntese da pesquisa, os economistas da Ceplan ainda não conseguem identificar as explicações para os resultados relativos aos que nem estudam nem trabalham, mas arriscam que a busca por educação, consequência em parte do aumento de renda nas famílias, pode ser uma delas. A economista Laís Veloso, responsável técnica pela Análise Ceplan, alerta “que a era da oferta ilimitada da força de trabalho está se exaurindo”.

O impacto da crise econômica deste ano poderá ser menor entre os jovens porque é menor o número deles em busca de emprego e isso irá se refletir no mercado de trabalho.

Assessoria 


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