NORDESTE

Ceplan Consultoria revela grandes perdas no emprego e renda dos trabalhadores aumentando desigualdades no Nordeste

O primeiro estudo de âmbito regional sobre os impactos da pandemia do novo coronavírus no Nordeste foi apresentado nesta terça-feira (15), em coletiva de imprensa on-line, pela Ceplan Consultoria, com sede no Recife. De acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), o país teve um saldo negativo entre contratações e demissões  de -1.547 milhão de empregos formais de janeiro a julho deste ano. Do total, 16,9% foi registrado no Nordeste, percentual superior à participação da economia da região na economia brasileira (14,5%). A maior perda de vagas ocorreu entre março e maio.

Os índices refletem as conjunturas econômicas do país e do mundo, drasticamente afetadas pela pandemia.  A estimativa do Fundo Monetário Internacional (FMI) para a economia global é de uma queda de 4,9% em 2020 – a maior retração registrada desde a crise de 1929. No Brasil, o PIB caiu -5,9% no primeiro semestre deste ano em relação ao mesmo período de 2019. No Nordeste, o índice de atividade econômica (IBC-Br), medido pelo Banco Central, sofreu uma redução de -3,5%. Nas três principais economias da região, a maior perda foi a do Ceará, de -4,9%, seguida por -3,5 da Bahia e -2,6% de Pernambuco.

Os resultados são explicados pela necessidade de isolamento social para evitar o aumento dos casos e mortes pela Covid-19 que levou à suspensão da maior parte das atividades econômicas, até com lockdowns em capitais e centros mais avançados, atingindo segmentos como o turismo e os serviços – particularmente importantes para o Nordeste. O estudo da Ceplan revela que no comparativo entre o primeiro semestre de 2020 e o primeiro semestre do ano passado, a maior queda, ao analisar a composição do PIB brasileiro pelo lado da demanda, ocorreu no volume de impostos (-8,1%), e no consumo das famílias (-7,1%). Pelo lado da produção, a indústria (-6,5%) e os serviços (-5.9%) declinaram substancialmente.

Subutilização maior no Nordeste

Neste cenário todos perderam, mas os trabalhadores do Norte e do Nordeste perderam ainda mais. A Taxa de Participação da Força de Trabalho (TPFT) que mede a proporção de pessoas ocupadas ou à procura por trabalho em relação à população com 14 anos ou mais, apresentou, em média, uma redução de 8 pontos percentuais na comparação entre o quarto trimestre de 2019 e o segundo trimestre de 2020. Os resultados mostram que no Brasil apenas 55,3% dos trabalhadores com 14 anos ou mais de idade estavam ocupados ou ainda procurando trabalho no segundo trimestre de 2019.  No Nordeste, a TPFT ficou em 46,9%; em Pernambuco 45,3%; na Bahia 50,1% e no Ceará em 47,7%.

Estes números trazem à tona a alta subutilização dos trabalhadores e revela o fraco desempenho da economia que já vinha operando sem aproveitar bem o potencial da sua população economicamente ativa.

 Os dados mostram que a desocupação tem sido mais forte na Bahia onde a taxa de desemprego chegou a 19,9% no segundo trimestre deste ano. No mesmo período, a taxa foi de 16,1% no Nordeste, 15% em Pernambuco e 12,1% no Ceará, todas acima da média brasileira (13,3%).

 Os desocupados, os desalentados – que desistiram de procurar emprego porque não acreditam que estejam disponíveis; os não desalentados, que desejam trabalhar, mas não buscam por várias razões; e os subocupados, aqueles que trabalham menos horas do que gostariam, formam a taxa composta de subutilização da força de trabalho. Essa taxa cresceu no segundo trimestre de 2020 em relação ao último trimestre de 2019, atingindo os seguintes percentuais: Brasil (29,1%), Nordeste (41,8%), Pernambuco (36,2%), Bahia (44,7%) e Ceará (35,9%), evidenciando uma forte ociosidade no uso dos   recursos humanos.

Para homens e mulheres, a taxa de subutilização aumentou entre os trimestres de referência. Foi maior entre as mulheres do que entre os homens tanto no Brasil quanto na região e nos estados citados. Nestes mesmos territórios, a subutilização cresceu em todas as faixas etárias, mas foi maior entre os jovens de 14 a 24 anos. No Nordeste chegou a 82,5% no intervalo de 14 a 17 anos e a 63,7% entre os de 18 a 24 anos, no segundo trimestre de 2020. Quando a análise foca a escolaridade, as taxas de subutilização também foram ampliadas no último trimestre e se mostraram mais altas nos grupos com menos anos de estudo no Brasil, no Nordeste, em Pernambuco, na Bahia e no Ceará. O crescimento da subutilização também alcançou pessoas de todas as cores e raças, mas predominou entre os pretos e pardos, chegando a 43,9% no Nordeste, entre abril e junho deste ano.

Em relação aos rendimentos, os nordestinos também tiveram perdas acima dos brasileiros. No país, na comparação entre o primeiro semestre de 2020 com o mesmo período de 2019, a queda foi de -1,5%, e de -3,9% no Nordeste. Entre os maiores Estados da região, Pernambuco sofreu a maior redução: -9,1%; na sequência o Ceará, com -2,9% e a Bahia, com -0,5%. Isso reduziu o consumo das famílias, contribuindo significativamente para a queda do PIB.

Emprego formal

No mercado formal de trabalho os resultados do Caged apresentam quedas líquidas (admissões-demissões) nos níveis de emprego formal na maior parte dos setores da atividade econômica, de janeiro a julho de 2020, em todo o país. As exceções foram na agropecuária que criou 86.217 empregos; no segmento de saúde humana e serviços sociais onde foram gerados 57 mil empregos; na administração pública, defesa e segurança social, com 13.623 novos postos de trabalho, estes últimos elevados pela necessidades de se aumentar a prestação de serviços públicos para enfrentar a pandemia do novo coronavírus; e ainda na construção civil que contratou 8.742 trabalhadores.

O comércio liderou as demissões deixando um saldo de 453.503 empregados entre admitidos e demitidos. Logo atrás, vieram o segmento de alojamento e alimentação com saldo de 329.713 e a indústria de transformação com 194 mil pessoas. No universo dos demitidos, os mais atingidos foram as mulheres; adultos entre 25 e 59 anos; pretos e pardos e trabalhadores com ensino médio completo e superior incompleto.

Dos nove Estados do Nordeste, apenas o Maranhão registrou saldo positivo entre demissões e admissões de janeiro a julho, com saldo de 2.327 empregados formais. Entre os demais, Pernambuco liderou o saldo negativo regional com 63.101 demissões e a Bahia com 58.987. No Ceará, o saldo foi de 37.474 vagas fechadas.

Desafios e Perspectivas

Os impactos da pandemia foram significativos em todo o mundo, mudando hábitos, conceitos urbanos e a vida das pessoas. Mas a forma de trabalhar nunca mais será a mesma. Mudanças foram aceleradas e chegaram para ficar como o trabalho remoto, embora ainda que para uma minoria mais qualificada. Neste primeiro momento, rumo ao pós-pandemia, observam-se perdas consideráveis em empregos e renda atingindo, no Brasil, com maior intensidade os mais pobres, os de menor escolaridade, as mulheres, e os pretos e pardos.

O auxílio emergencial distribuído pelo governo federal ajudou os informais e os sem renda alguma a sobreviver e, como foi de ampla distribuição, trouxe efeitos positivos nas vendas de alimentos, material de construção e de eletrodomésticos. Trouxe também à tona o debate sobre a instituição de uma renda mínima, cujo financiamento é controverso em meio a uma crise fiscal e aos limites orçamentários definidos pela emenda constitucional do teto de gastos.

O novo mundo do trabalho traz muitos desafios para as empresas, instituições de ensino e de qualificação profissional. Algumas ocupações e profissões se tornarão obsoletas enquanto outras deverão surgir porque teremos novas formas de produzir, de vender e de fazer circular a riqueza.

Quanto à retomada, a equipe da Ceplan aponta como principal desafio reestruturar o mercado de trabalho em tempos de maior flexibilização associada aos novos paradigmas técnicos, às mudanças no marco regulatório e na organização dos trabalhadores. Investimentos na capacidade humana para desenvolver as habilidades e competências do mundo do trabalho que emerge no ambiente disruptivo, apresentam-se como um dos desafios.

No Brasil, a urgência em recuperar a atividade econômica e o nível de emprego – que já estavam lentos no período pré-pandemia – passa por investimentos públicos que não são fáceis de viabilizar num governo dividido sob quais rumos tomar. Novas formas de financiamento como PPPs e concessões aparecem como o caminho natural para criar infraestrutura econômica e social com impactos diretos e indiretos para a demanda por trabalho. O governo precisa definir os rumos da economia e evitar tropeços políticos que gerem insegurança a investidores internos e externos, atores importantes para retomar o nível de atividade econômica e para dinamizar o mercado de trabalho via geração de novos empregos.

 


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