BRASIL

Cerco a Lula tende a radicalizar mais debate político

De imediato, as investigações sobre o ex-presidente Lula tendem a provocar maior radicalização do debate político entre governo e oposição. Lula é o maior líder do campo governista. Tem mais peso do que a presidente Dilma Rousseff.

Esse clima de radicalização deverá ser visto no reinício dos trabalhos do Congresso já nesta semana, mas provavelmente com maior intensidade após o Carnaval.

Outro efeito imediato das investigações é um dano ao cacife eleitoral do ex-presidente. Para medir com maior exatidão esse prejuízo, será preciso ver ao longo das próximas semanas e meses a consistência das investigações e das respostas do ex-presidente.

Mesmo que esteja sob fogo cerrado, Lula ainda é o nome petista mais forte para concorrer em 2018. No fim de semana, Lula apresentou documentos para mostrar que não é proprietário de um apartamento no Guarujá.

A suspeita dos investigadores do Ministério Público paulista e da força-tarefa em Curitiba é de que o imóvel poderia ter sido usado para repasse de propina pela OAS ao ex-presidente. Lula nega.

Tem renda para adquirir o bem, afirmou que chegou a visitar o apartamento e desistiu de comprá-lo, incluindo na negociação o preço de uma reforma, depois que a imprensa quebrou a privacidade da família ao falar do imóvel. Os investigadores estão empenhados em demonstrar o contrário.

Em relação a um sítio usado por Lula em Atibaia (SP), a “Folha de S.Paulo” noticiou a compra de um barco de 4 mil reais pela esposa do ex-presidente, Marisa Letícia, que foi entregue no imóvel. Será preciso mais do que isso para acusar o ex-presidente de ser o dono do sítio.

Os investigadores apontam troca de favores com empreiteiras envolvidas na Lava Jato e lembram que ninguém está acima da lei numa democracia. Não faz sentido pedir tratamento especial para Lula. E os direitos dele e de seus familiares devem ser respeitados, como o de todos os acusados na Lava Jato.

No entanto, a simples existência das investigações já diminui a chance de Lula ser candidato e de vitória caso entre na disputa. Já há um dano no eleitorado. Mas, se o ex-presidente sobreviver às investigações, poderá ser um nome relevante em 2018.

É cedo para julgar Lula carta fora do baralho. Ele ressurgiu politicamente algumas vezes quando foi dado por vencido.

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Destinos ligados

Com seu principal aliado sob fogo cerrado, a presidente Dilma Rousseff também fica mais exposta, sobretudo por causa do clima de radicalização política. Isso pode travar discussões importantes no Congresso numa hora em que é preciso enfrentar a crise econômica e na qual o governo lançou algumas propostas (CPMF e reforma da Previdência, por exemplo).

Também já havia no entorno da presidente a ideia de que o governo deveria criticar a Lava Jato com mais ênfase. A presidente deu algumas declarações sobre as delações, afirmando que seria preciso mais do que ouvir dizer antes de inquirir alguém sobre algo e aquilo ser vazado para a imprensa.

Valeria à pena subir ainda mais o tom? É algo arriscado, porque há amplo apoio da opinião pública à Lava Jato. As decisões do juiz Sérgio Moro e dos investigadores têm sido validadas pelos tribunais superiores, inclusive pelo Supremo Tribunal Federal.

O fato é que o debate interno sobre criticar com mais contundência a Lava Jato está sendo feito, sim, por Dilma e seus principais ministros.

No Palácio do Planalto, considera-se que foi um sinal de provocação chamar a última fase da Operação Lava Jato de Triplo X e sustentar que não há investigação sobre Lula. De acordo com outra leitura, a Lava Jato não admite investigar Lula oficialmente porque ainda não teria material suficiente para apontar eventual conduta ilícita.

A Lava Jato seria mais cuidadosa do que a investigação já oficializada pelo Ministério Público paulista. Antes de ouvir Lula, o promotor do caso, Cassio Conserino, precipitou-se e disse que denunciaria o ex-presidente.

Em resumo, a relação pessoal entre Lula e Dilma já foi melhor, mas os dois sabem que a sobrevivência política de ambos está interligada. Quanto mais fraco Lula, pior para Dilma. Quanto mais fraca Dilma, pior para Lula.
 

Blog do Kennedy

IG


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