BRASIL

Coordenador da Comissão Nacional da Verdade diz que ainda há muita tortura

O coordenador da Comissão Nacional da Verdade (CNV), Pedro Dallari, disse ontem (9), que um dos principais trabalhos da comissão é desnaturalizar a tortura, que ainda é praticada no Brasil. Dallari cita o desaparecimento do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza para exemplificar a continuidade dessa prática ainda hoje no país.

“Temos que perseguir o legado da tortura [deixado pelo regime militar], ainda se tortura muito no Brasil. Veja o caso Amarildo. Ele foi levado a uma unidade de segurança pública, torturado e assassinado. É como o caso Rubens Paiva, Stuart Angel e vários outros. O fato de não combater a tortura é tido por muitos como algo aceitável”, disse Dallari.

O coordenador da CNV participou do programa Espaço Público, da TV Brasil, na noite de ontem (9). Durante o programa, Dallari também disse acreditar que, um dia, as Forças Armadas reconhecerão as violações praticadas por elas naquele período. “É um absurdo que as Forças Armadas continuem a não reconhecer que houve um quadro de violação de direitos humanos”. Para Dallari, os militares de hoje pagam pela falta de colaboração daqueles que já estão na reserva e poderiam contribuir mais com a comissão revelando detalhes sobre a ditadura militar.

Dallari revelou ter notado certo constrangimento dos militares da Base Aérea do Galeão (RJ), quando a comissão visitou o local. “Fomos à Base Aérea do Galeão e fomos muito bem recebidos pelas Forças Armadas. Lá, as vítimas [do período da ditadura] que nos acompanham mostravam os locais onde foram torturados, onde levaram choque e o constrangimento dos jovens militares era notório”.

Convidada do programa, a jornalista Hildegard Angel, filha da estilista Zuzu Angel , elogiou o trabalho da Comissão Nacional da Verdade, mesmo não tendo poder de julgar ou punir. “Estou muito satisfeita. Não é questão da comissão ter ou não poder, é ela querer”. Hildegard lembrou que uma comissão havia sido instalada nos anos 1970, aberta pelo presidente, general Emílio Garrastazu Médici.

“Minha mãe foi assistir a primeira sessão, quando foi discutido o caso do Rubens Paiva, e nessa ocasião queriam abrir uma sindicância, nem era um inquérito. Uma sindicância é aberta se sumir um sabre nas Forças Armadas. Esse era o apreço que se tinha pela pessoa humana. Quando minha mãe morreu, eu fui a várias comissões, vários grandes jornalistas, vários órgãos importantes. Foi o Dallari, anos depois, que foi atrás”.

 

(Da Agência Brasil)


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