BRASIL

Couro de peixe é alternativa lucrativa e sustentável para comunidade

Há quem diga que a cura para tudo é sempre a água salgada. As lágrimas, o suor ou o mar são formas líquidas de uma sublime panaceia de superação. Porém, Célia Silva de Lima dos Santos, não curou sua dor com lágrimas, que escorreram por quase dois anos de depressão, uma perda de paz e 15 quilos. O pranto, que transborda desde o assassinato de sua filha e netinha, que ainda estava presa no ventre da mãe, está sendo tratado com mar e suor. Da água salgada do oceano, ela utiliza couro de pele de peixes para fabricar artesanato e com o suor do trabalho, a cada martelada para pregar tachinhas e botões, a dona de casa se esquece do mundo enquanto transforma o ócio em criatividade. “Isso é uma terapia para mim”, comenta a moradora da Praia da Penha de João Pessoa, olhando para baixo, em uma copenetração firme, durante a capacitação desse tipo de artefato promovida pelo SEBRAE e SENAI da Paraíba.

A devota de Nossa Senhora da Penha vai sempre à igreja, mas confessa que por instantes perdeu a fé. Quando sucumbiu à dor, pensou em se matar. Porém, a esperança por justiça a fez querer viver, e com uma promessa, feita à padroeira do local onde mora, conseguiu uma graça: o genro, o mesmo que tirou a vida de sua menina, foi preso. Por isso, cansou e calejou os pés na procissão da Romaria da Penha, uma jura de 14 km de extensão. Mesmo assim, a angústia da perda ainda é constante e para não ficar em casa só com os pontos do crochê, Dona Célia procura outras atividades. A iniciativa da capacitação está ajudando ela e mais 12 pessoas da comunidade praieira a buscarem alternativas de vida. 

Em uma pequena sala no fim de um labirinto de corredores, os alunos aprenderam práticas de modelagem, corte e costura. Foi nesse cômodo, onde funciona o jardim de infância da escola municipal Antônio Santos Coelho Neto, colégio da comunidade da Penha, que aconteceu o curso de confecção de pequenos artefatos em couro de peixe, ministrado pelo Centro de Tecnologia do Couro e Calçado (CTCC) do SENAI-PB, durante 40 horas do mês de abril. A capacitação fez parte das iniciativas de sustentabilidade social da Feira do Empreendedor da Paraíba, que se realiza este mês, no Centro de Convenções de João Pessoa. 

Letícia Gadelha, gestora da Feira do Empreendedor do SEBRAE/PB, explica que ajudar a comunidade da Penha é um dos objetivos do evento. A intenção é estimular o microempreendedorismo e impulsionar iniciativas de economia criativa nas comunidades próximas de onde vai acontecer a feira. “Dentro desse projeto, atendemos uma comunidade do entorno que é impactado pelo evento. A comunidade da Penha foi escolhida pela aproximação da instalação do Centro de Convenções. Estamos também capacitando a população local na área da construção civil”, comenta. 

Todas as peças confeccionadas serão expostas no evento. Logo após a feira, os pescadores serão capacitados também para o beneficiamento das peles, aprendendo o processo de curtição do couro. O curso será outra oferta do SENAI. Em Petrolina, cidade ribeirinha do Rio São Francisco, um projeto similar foi implantado, beneficiando as mulheres dos pescadores. Hoje, elas produzem, fazem exposições e negociam o artesanato em todo o Brasil.

Na Praia da Penha, toda a comunidade e autoridades do local se mobilizaram para o projeto. “O SEBRAE conta com o apoio da prefeitura municipal, associação dos moradores, pescadores e barraqueiros da praia, o posto médico e até o diretor do cemitério. Todos estão engajados a preparar a área para os novos investimentos que virão”, conta Letícia. Ela acrescenta também que a região praieira já está se desenvolvendo muito na área turística e que os artefatos produzidos nas oficinas vão ajudar a impulsionar a economia dos moradores da região contribuindo para a produção de um artesanato com a marca do lugar. “Essa região já está crescendo e esse equipamento (Centro de Convenções) vai trazer um desenvolvimento para o local. Hoje, os turistas já estão vindo naturalmente. E um dos projetos futuros de capacitação é um curso na área de condutor de turismo”, completa.

 

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