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Da venda de TVs a cerveja: veja como a Copa do Mundo vai impactar a economia

Se na hora que a seleção brasileira entrar em campo você pretende estar vestido de verde e amarelo, na frente da TV, tomando uma cerveja e comendo um petisco, saiba que esse deve ser o comportamento padrão durante a Copa do Mundo. E esses seus “mimos” de torcedor vão impactar a economia brasileira. Pelo menos é o que indicam especialistas ouvidos pelo G1.

As projeções dos valores variam, mas todos concordam que os jogos vão movimentar alguns setores – especialmente pela venda de televisores, artigos temáticos, bebidas e comidas.

“Tem, claro, uma demanda por carne, churrasco, itens de decoração, tudo que envolve evento [durante o Mundial]. E também movimenta o setor de eletroeletrônicos, principalmente de televisão. O impacto vai ser maior ou menor dependendo do desempenho do Brasil na Copa. Quanto mais longe o Brasil for, maiores os efeitos na economia”, diz Fabio Pina, assessor econômico da Fecomercio-SP.

Segundo levantamento do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), cerca de 60 milhões de pessoas pretendem fazer compras para o mundial de futebol, o que deve injetar R$ 20,3 bilhões no comércio e no setor de serviços.

Já a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços, e Turismo (CNC) espera que, somente no varejo, as vendas aumentem em R$ 1,5 bilhão por conta dos jogos. Se a previsão se confirmar, representará um crescimento nominal de 7,9% em relação ao faturamento de 2014, quando o país sediou o campeonato. Quando considerada a inflação do período, porém, o número representa uma queda de 17%.

“O evento é indissociável da crise. O faturamento mensal do varejo caiu 20% do fim de 2014 para fim de 2016. E até agora o setor só conseguiu recompor 6% a 7% [dessa receita]”, diz Fabio Bentes, chefe da divisão econômica da CNC.

Veja abaixo 6 consequências positivas da Copa para a economia:

1 – Venda maior de TVs

A CNC estima que praticamente metade (49,4%) do faturamento “extra” de R$ 1,5 bilhão esperado para o varejo brasileiro por conta da Copa venha da venda de TVs.

“A indústria [de televisão] acaba tendo um produto sazonal de Copa. Ela mantém uma média de produção equilibrada durante todos os anos, mas quando tem Copa do Mundo inverte a produção, geralmente mais concentrada no segundo semestre por causa das compras de Natal, para o primeiro semestre. O mercado se prepara com bastante antecedência para que quando chegue a Copa [em junho] a TV esteja na casa do consumidor”, explica José Jorge do Nascimento Junior, presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros).

A entidade espera que sejam vendidos 12,5 milhões de aparelhos de TV em 2018, 10% mais que no ano passado. No primeiro trimestre, houve aumento de 46,46% em relação a igual período de 2017.

Já segundo dados da consultoria alemã GFK, as vendas de TV aumentaram 27% e 21% em número de unidades de janeiro a abril deste ano, em comparação com igual período de 2017. A expectativa da consultoria é de que os índices de crescimento se mantenham no ano fechado.

O estudo destaca, porém, que não só a Copa, mas também o desligamento do sinal analógico de televisão em algumas regiões do país afetará o comércio de aparelhos em 2018.

Só a fabricante Sony projeta um aumento de 65% a 70% nas vendas de televisores entre maio, junho e julho, quando comparado ao mesmo período do ano passado. A Samsung disse que, por políticas, não divulga projeções.

“O carro chefe da Copa são os televisores. Embora a frequência de compra seja menor, o ticket é mais alto [do que o de outras áreas do varejo, como de alimentos]”, diz Fabio Bentes, economista-chefe da CNC.

2 – Mais cerveja, carne e petiscos

Entre os pesquisados pelo SPC e pela CNDL que pretendem gastar com a Copa, 91% dizem que vão consumir alimentos e bebidas na casa de amigos ou parentes e 87% vão tomar bebidas na comemoração dos jogos.

Entre as bebidas, a preferência é para a cerveja (74%), refrigerantes (72%) e água (69%). Já entre as comidas ganham destaque tira-gostos (56%), itens para churrasco (49%), pipocas (37%) e salgados (31%).

“Alimentos de um modo geral, algumas bebidas e carnes são os itens mais procurados”, diz Fabio Bentes, da CNC.

Em nota, o diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria da Cerveja (CervBrasil), Paulo Petroni, diz que a entidade não faz projeções, mas que está otimista quanto às vendas na Copa.

“A Copa do Mundo movimenta o país e historicamente impacta na chamada curva de sazonalidade. É um momento de celebração, de reunir os amigos e, mesmo que os horários dos jogos não sejam muito favoráveis para os brasileiros, nossas expectativas estão positivas para o evento e projetamos um crescimento no consumo, principalmente no segmento do autosserviço [para beber em casa]”, afirma.

A Ambev, maior fabricante de bebidas do país, não divulga números.

3 – Remédios para curar os excessos

Se por um lado vai vender mais cerveja e petisco durante a Copa, por outro, também deve crescer a demanda por remédios que ajudam a contornar os excessos.

“Já que a maioria dos torcedores assiste às partidas em casa, acompanhados de família e amigos, os salgadinhos, as pipocas, as carnes para churrasco, os refrigerantes e as cervejas estão entre os produtos com maior intenção de compra. Antiácidos e remédios para ressaca também. Já cosméticos como maquiagens, ficam entre os menos vendidos”, diz o diretor da consultoria de ciência do consumidor dunnhumby no Brasil, Fabio Viegas.

4 – Roupas temáticas e artigos de decoração

Para Fabio Pina, assessor econômico da FecomercioSP, a Copa vai impulsionar a venda de itens de decoração temáticos, principalmente no comércio popular, e também a venda de roupas verdes e amarelas. “A [rua] 25 de março está torcendo para o Brasil ir à final”, diz.

Fabio Bentes, da CNC, acredita que aumentará também o comércio de produtos ligados ao esporte.

A Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce) aposta que o incremento de serviços oferecidos nos centros de compras, como gastronomia e entretenimento, servirá de chamariz para as vendas nas lojas durante o evento.

“Em períodos como o de Copa do Mundo, há uma amplificação nas opções já oferecidas pelos empreendimentos, por exemplo, os cinemas transmitem os jogos, os restaurantes aderem ao happy hour e as lojas oferecem benefícios, que revertem o fluxo intenso em vendas”, diz a associação em nota.

Segundo dados de comportamento do consumidor colhidos pela dunnhuumby durante a Copa de 2014, as 24 horas que antecedem os horários das partidas do Brasil são as com maior fluxo de clientes no varejo.

5 – Bares e restaurantes bombando

Estudo da CNC aponta que o Mundial de Futebol vai movimentar R$ 252 milhões nos bares e restaurantes do Brasil. A cifra representa uma queda nominal de 36% ante os R$ 399 milhões faturados durante a Copa de 2014. Considerada a inflação, o recuo é ainda maior: de 51,4%.

“Ainda tentando se reerguer após a recente crise econômica, os serviços de alimentação fora do domicílio não contarão com o fluxo turístico nacional e, principalmente, internacional de quatro anos atrás, quando o Brasil sediou o Mundial”, afirma Fabio Bentes, chefe da Divisão Econômica da CNC.

Mesmo assim, a alta do movimento de clientes nesses estabelecimentos entre junho e julho corresponderá a mais de 3% do faturamento médio mensal normal do setor, de acordo com a CNC.

6 – Importações em alta

Levantamento da empresa de transportes marítimos Maersk Line mostra que, puxadas pela Copa, as importações no país cresceram 19% em volume no primeiro trimestre deste ano, em comparação com o mesmo período do ano passado.

Só na região Norte do Brasil, a compra de itens de outros países saltou 59%, principalmente porque varejistas online encomendaram para o Mundial produtos eletrônicos montados em Manaus (como TVs), segundo estudo.

“Os varejistas estão trabalhando duro para aproveitar ao máximo a Copa do Mundo, o crédito está barato”, disse em nota Antonio Dominguez, diretor principal da Maersk Line para a Costa Leste da América do Sul.

Uma outra pesquisa da Confederação Nacional do Comércio de Bens Serviços e Turismo (CNC) mostra que a importação de televisores entre outubro de 2017 e março de 2018 cresceu 59% na comparação com um ano antes, saltando de 3,4 milhões para 5,5 milhões de aparelhos.

“Além das importações, a indústria nacional também acelerou a produção de eletrônicos para fazer frente ao aumento sazonal de demanda. De acordo com o IBGE, no primeiro bimestre de 2018 a fabricação de produtos eletrônicos, de informática e óticos avançou 31,5% em relação aos dois primeiros meses do passado”, explica Fabio Bentes, chefe da divisão econômica da CNC e autor do estudo.

Segundo José Jorge do Nascimento Junior, presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), “99% das TVs vendidas no Brasil são fabricadas aqui, principalmente na Zona Franca de Manaus”.

Mas na hora dos jogos…

Na hora dos jogos do Brasil, porém, a concentração será mesmo na frente das TVs e o movimento no comércio deve diminuir, segundo os especialistas. Além disso, a liberação dos funcionários para assistirem às partidas deve provocar perdas pontuais de produtividade na indústria, alertam.

“Nesses dias [de competição] há uma ‘paradeira’. O varejo não diretamente ligado à decoração, a uniformes para Copa, roupa verde amarela, o centro comercial que não vende isso vai ficar deserto e ter algum prejuízo”, pondera Fabio Pina, da FecomercioSP.

Para o economista e professor do Insper Otto Nogami, a liberação de funcionários para ver os jogos paralisa a atividade produtiva do país como um todo.

“Principalmente essas partidas que ocorrerão durante a semana na parte da tarde terão impacto negativo na economia, sim. Muitas vezes a parada não acontece só na hora do jogo, mas no período todo. A tendência é liberar já no horário do almoço [quando os jogos são à tarde]”, diz.

Já para Fabio Pina, da FecomercioSP, o impacto na produtividade vai depender da flexibilidade da política de cada empresa. “Quanto mais flexível for o regime de trabalho, mais maximiza o efeito de um evento festivo e mais minimiza o efeito da paralisação. Vai liberar [o funcionário] e vai colocar no banco de horas? Vai parar só na hora do jogo?”, questiona.

O G1 procurou a Confederação Nacional da Indústria (CNI) sobre o assunto, mas a entidade não tem projeções.

Nogami, do Insper, ressalta também que impacto da Copa na economia vai variar conforme o desempenho da Seleção Brasileira.

“Se o Brasil não se apresentar de maneira adequada, isso pode mexer com a autoestima do brasileiro e aí ele tende a consumir menos. Por outro lado, se ganhar [o Mundial] pode ter um aumento de demanda além do normal, porque as pessoas vão comemorar, vão sair, se dar ao direito de comprar alguma coisa.”

G1


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