BRASIL

Damião Cavalcanti lembra do Carro de Boi ao veículo elétrico apontando a força da nova alternativa de locomoção

O professor doutor Damião Ramos Cavalcanti, ex-secretário de Cultura e ex-presidente da Funesc, tem ocupado a produzir textos instigantes, tanto que ultimamente ele produziu análise contextual com elementos culturais para tema muito forte e impactante que é o futuro do carro elétrico como forte perspectiva do mundo diante das primeiras memórias do carro de boi.



Eis o texto na íntegra: 

 

 De duas rodas e um eixo, veio o carro de boi

Quando se inventou a roda, de duas e um eixo, derivou-se o carro, puxado pelo homem, depois substituído pelo boi, daí o carro de boi, gemendo quando secava o sebo no seu eixo. Carro de boi, ainda sobrevivente, primeiramente conhecido por mim, na fazenda do meu avô Ramos, e por Zezita Matos, na da sua tia Dorinha. É como se diz, tudo tem seu início e continua nas coisas sucedâneas, como da pata de caranguejo, surgiu o alicate ou a tesoura  et cetera… Fenômeno que ninguém pode parar.  E nos entornos de Pilar, em engenhos, apareceu a charrete, com um ou dois cavalos, transportando donos e senhoras de engenho para irem à cidade.
     

 

Um dos primeiros presentes foi um caminhão de madeira, que tio Didi comprou na feira de Itabaiana, inspiradora para Sivuca compor a Feira de Mangaio. Mas nesse tempo da minha infância, meu padrinho Severino Barbosa trouxe  a Pilar um caminhão de verdade, dirigido por seu filho Nelson, para transportar coisas do campo e do comércio às feiras da vizinhança. Tota, jovem e bom marceneiro, imitou-o, fazendo um caminhão de madeira, de três metros, com freio, gaita, faróis e volante, para carregar frete a quem não pudesse pagar o frete no caminhão de Nelson. 

 

Acompanhei muito meu pai à feira de São Miguel de Taipú, em cima das mercadorias, nesse carro de Tota, movido a muque. A gasolina, além do Ford do meu padrinho, existia, para orgulho da cidade, um Ford 38 de praça, de seu Salvador, que servia também para nos levar a médico em Itabaiana, para pagar promessa em São Severino dos Ramos e para pegar a sopa no Café do Vento, com destino a João Pessoa. Para outras viagens, tomava-se o trem, puxado pela “maria fumaça”, movida à lenha…   

 

 

Também Domício Pontes e Frutuoso Chaves testemunham esses poucos carros naquela cidade e a motocicleta de Antônio, filho do seu Oscar, comerciante vizinho à mercearia do seu Raimundo, onde  se vendiam até bacalhau, em barricas de madeira, e vinho portugueses… 

 

Antônio com sua gigantesca moto roubava o silêncio da pacata cidade, e como se fosse um circense, equilibrava-se com a moto, no muro da 1ª Igreja Batista, depois proibido pelo Pastor, em respeito e silêncio àquele recinto de orações. Fora os carros de boi e o de Tota, esses outros eram movidos a gasolina. Assim, na nossa infância, descobrimos o carro na pequena Pilar. 

      

 

Hoje, passadas dezenas de anos, mesmo com a ainda supremacia do diesel e da gasolina, vê-se, em Pilar, turista ostentando seu carro elétrico, e como o carro de boi não polui, move-se sem necessidade das poluentes energias fósseis. 

 

Brabas intempéries da natureza e anomalias climáticas, constantes no nosso país, são noticiadas como consequências dos milhões e milhões de carros, soltando pelo escape a fumaça venenosa ao meio ambiente e ao efeito estufa. 

 

Sente-se na pele o vertiginoso aquecimento global. Há países que facilitam o uso do carro elétrico, a exemplo, a Noruega e a China, primeiros no ranking, através de apoio e isenções tributárias, dispensando a taxa de emplacamento e a de circulação nos pedágios, também incluindo outros benefícios.
   

Contudo, é enervante a propaganda negativa, financiada pelos donos de poços de petróleo e de fábricas de carros, contra o carro elétrico. 

 

Para quem colabora com a proteção do meio ambiente e quer economizar gastos com os caríssimos combustíveis, não discute, torna o carro a gasolina ou a diesel um veículo obsoleto e desprestigiado no mercado. As locadoras estão perdendo tempo em não oferecer os desejados carros elétricos… 

 

Há governantes municipais e estaduais que, inteligentemente, estão a trocar sua frota de carros por carros elétricos, livrando-se do alto e custoso gasto de combustível, no serviço público, cada mês. 
     

 

A defesa dos carros de então, já já máquinas obsoletas, é respondível pelo sucesso do carro elétrico: silencioso, confortável, totalmente com tecnologia de ponta no sistema de audio-video, com outros automatismos, é sobretudo muito econômico, também saudável à população. 

 

Mas é assim, só quem enfrenta tais mudanças tecnológicas é o poder econômico para o bel-prazer dos seus lucros e interesses. 

 

Os ajustes a essas mudanças serão preocupação do bom senso e do nosso bem. De duas rodas e um eixo, vieram o carro e progressivamente seu aperfeiçoamento em suas transformações.
 

Damião Ramos Cavalcanti

 


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