NORDESTE

Desigualdade econômica no Nordeste: Paulo Galvão faz análise do baixo rendimento dos nordestinos em 2023

 

A disparidade econômica no Nordeste do Brasil foi destaque em 2023, revelando uma realidade preocupante em relação aos baixos rendimentos domiciliares per capita na região. Artigo de Paulo Galvão Junior  publicado na última edição da Revista NORDESTE oferece uma análise  das causas e efeitos dessa desigualdade, destacando a necessidade  de ações coordenadas para enfrentar esses desafios estruturais.

 

Leia aqui ou abaixo:

 

 

‘O Baixo Rendimento dos Nordestinos em 2023

 

Análise especializado traduz causas e efeitos das desigualdades

 

 

Por Paulo Galvão Júnior

 

 

 

O presente artigo se propõe a analisar a situação do rendimento mensal domiciliar per capita dos nove estados nordestinos no ano de 2023. Destaca-se, fundamentalmente, a preocupante desigualdade econômica na região Nordeste, evidenciada pelos baixos rendimentos da maioria dos habitantes.

 

 

Nesse contexto, esse relevante artigo na renomada Revista NORDESTE ressalta a necessidade urgente de ações concretas e coordenadas para enfrentar os desafios estruturais que perpetuam a desigualdade econômica no Nordeste:

 

 

 

 

 

 

O rendimento mensal domiciliar per capita é baixo nos nove estados nordestinos, sendo sete estados entre R$ 940 a R$ 1.320, apenas dois estados entre R$ 1.321 a R$ 1.700. O Maranhão tem o menor rendimento mensal do Nordeste, com R$ 945, seguido por Alagoas (R$ 1.110), na terceira posição ficou Pernambuco, com R$ 1.113, seguido por Bahia (R$ 1.139), Ceará (R$ 1.166), Sergipe (R$ 1.218), Paraíba (R$ 1.320), Piauí (R$ 1.342) e Rio Grande do Norte (R$ 1.373), conforme a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

 

Para o IBGE o rendimento mensal domiciliar per capita representa a razão entre o rendimento domiciliar total e o número de moradores de cada local. Em termos do ranking brasileiro, o Maranhão com R$ 945 por mês ocupa a primeira posição, enquanto, Alagoas, Pernambuco, Bahia e Ceará ocupam, respectivamente, o terceiro, quarto, quinto e sexto lugares entre os menores rendimentos do Brasil.

 

O cálculo feito anualmente pelo IBGE considera todos os tipos de rendimento, incluindo aqueles obtidos com o trabalho formal e os que vêm de outras fontes, como aposentadorias, pensões e programas de transferência de renda como o Bolsa Família, além de programas sociais como o Benefício de Prestação Continuada (BPC).

 

Observa-se que a maioria dos estados nordestinos está entre os 10 com menor rendimento mensal no país. Os estados do Maranhão, Alagoas, Pernambuco, Bahia, Ceará e Sergipe têm rendimentos menores do que o salário mínimo (SM) vigente no ano de 2023, que era de R$ 1.320.

 

Vale ressaltar que na região Nordeste, apenas três estados com rendimento mensal domiciliar per capita igual ou superior ao SM de 2023, os estados da Paraíba (R$ 1.320), Piauí (R$ 1.342) e Rio Grande do Norte (R$ 1.373), de acordo com o IBGE.

 

Em ano de eleições em 1.794 municípios nordestinos, a solução para reduzir as gritantes disparidades econômicas ainda está longe de ter sido encontrada, mas, o melhor caminho em plena Quarta Revolução Industrial é combater a alta taxa de desemprego (aproximadamente 3,2 milhões de pessoas desempregadas) e a elevada taxa de informalidade (aproximadamente 10,2 milhões de trabalhadores informais) no populoso Nordeste (aproximadamente 57 milhões de habitantes). Outro caminho eficaz é promover a interiorização do desenvolvimento da região Nordeste, possibilitando uma economia mais robusta, inclusiva e sustentável.

 

É verdade que estamos muito longe dos rendimentos de Distrito Federal, com R$ 3.357, o maior rendimento do Brasil, em pleno processo de desindustrialização da economia brasileira. A salutar discussão sobre como aumentar os rendimentos dos nordestinos passará pelo agronegócio, pela indústria de transformação e pelo turismo, setores que poderão gerar empregos e renda na economia nordestina.

 

E passará também pelo aumento da produtividade, o principal motor do crescimento econômico de longo prazo. Aumentar a produtividade geralmente leva a um crescimento econômico mais rápido, pois permite que a economia nordestina produza mais bens e serviços com os mesmos recursos. Isso poderá resultar em salários mais altos, maiores lucros para as empresas e um aumento no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), cinco estados do Nordeste estão entre os dez piores IDH do Brasil.

 

Estamos diante de uma inaceitável concentração de renda no Nordeste, onde os ricos estão cada vez mais ricos (os 1% mais ricos têm uma renda mensal bruta igual ou acima de R$ 27 mil), enquanto, os pobres estão cada vez mais pobres, sendo mensurado pelo Índice de Gini (0,567). O baixo rendimento dos nordestinos reflete desafios estruturais profundos, como falta de oportunidades de emprego, educação precária (o Nordeste tem a maior taxa de analfabetismo por região do Brasil, 11,7% das pessoas maiores de 15 anos são analfabetas), infraestrutura inadequada, elevada inadimplência e acesso limitado a serviços básicos de saúde e saneamento básico.

 

A concentração de renda no Nordeste é um problema sério e de longa data, amplamente debatida em livros, artigos e entrevistas pelo economista paraibano Celso Furtado (1920-2004), um dos principais pensadores do desenvolvimento econômico do Brasil. O Professor Celso Furtado lutou contra a elevada disparidade entre os mais ricos e os mais pobres e ao longo de sua profícua carreira argumentou que a concentração de renda no Nordeste é um obstáculo para o crescimento econômico e o desenvolvimento social da secular região.

 

A desigualdade econômica provoca consequências socioeconômicas negativas, como exclusão social, falta de mobilidade econômica, elevada informalidade e aumento da criminalidade. É urgente abordar esses problemas econômicos nas universidades públicas e privadas, nas empresas e nas cooperativas e implementar medidas concretas para melhorar as condições de vida da população nordestina. Adiamentos só prolongarão o sofrimento das comunidades mais pobres.

 

É crucial agir rapidamente e envolver a sociedade civil, o setor privado, os governos federal, estadual e municipal e as cooperativas em esforços conjuntos para enfrentar esses enormes desafios com propostas que possam melhorar a situação socioeconômica no longo prazo, reduzir as disparidades socioeconômicas e garantir que os programas implementados atendam às verdadeiras necessidades das pessoas mais vulneráveis.

 

Além de buscar o aumento do rendimento dos nordestinos, é essencial promover um desenvolvimento sustentável a longo prazo. Isso inclui mais investimentos em energias renováveis como energia solar, energia eólica e energia da biomassa para reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE) e contribuindo para mitigar as mudanças climáticas.

 

Os governos têm um papel fundamental na criação e implementação de políticas públicas eficazes que promovam a inclusão social. Isso pode incluir programas de transferência de renda, educação de qualidade, incentivos fiscais para empresas que gerem empregos verdes e investimentos em infraestrutura logística.

 

Em resumo, os dados apresentados no Quadro 1 revelam que a maioria dos estados nordestinos possui rendimentos mensais per capita abaixo de R$ 1.320, sendo que alguns estados da região sequer alcançam o valor do SM vigente no ano passado. E revelam também os baixos rendimentos dos nove estados nordestinos em 2023, sete estão entre os 10 piores do Brasil, e o Maranhão tem o menor rendimento do Nordeste e o pior do país, com apenas R$ 945.

 

Finalizando, precisamos de múltiplos esforços para superar os desafios socioeconômicos vigentes, pensar na economia verde, na economia criativa e criar um futuro mais próspero, justo e sustentável para todos os nordestinos.

 

 

Paulo Galvão Júnior é Economista paraibano, professor de Economia do UNIESP, conselheiro suplente do CORECON-PB e sócio efetivo do Fórum Celso Furtado de Desenvolvimento da Paraíba.’

 

 


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