MARANHÃO

Eleições em São Luís: continuísmo à vista I Por Arleth Santos Borges

(*) Arleth Santos Borges

 

 

Oito candidatos disputam a eleição para prefeito de São Luís, capital do Maranhão. No conjunto e considerando marcadores sociodemográficos mais comuns, constata-se que todos têm ensino superior; sete são homens e apenas uma é mulher; três se autodeclararam pardos; três, brancos; e dois, pretos.

 

 

São candidatos: Duarte Júnior (PSB), advogado e deputado federal. É apoiado pelas federações Brasil da Esperança (PT/PCdoB/PV) e Federação PSDB CIDADANIA, além do AVANTE, PRD, PODEMOS, PP, UNIÃO BRASIL, PL e PSB. Já foi deputado estadual.

 

 

Eduardo Braide (PSD), é advogado e atual prefeito de São Luís. Apoiado pelo MDB e Republicanos, já foi deputado estadual e federal.

 

Fábio Câmara (PDT), empresário;

 

Flávia Alves (Solidariedade), advogada;

 

Franklin Douglas (PSOL), professor universitário, apoiado pela Federação PSOL/REDE;

 

Saulo Arcangeli (PSTU), servidor público federal;

 

Wellington do Curso (NOVO), empresário e deputado estadual;

 

Ygsio Moisés (PRTB), médico e deputado estadual.

 

 

Pelas pesquisas de intenção de voto, bases de apoio e porte ou volume das campanhas, os principais competidores são Braide e Duarte que, aliás, repetem neste ano a disputa que travaram no segundo turno de 2020, quando Braide venceu Duarte por 55% a 45%.

 

 

Os trunfos com que um e outro se lançaram na campanha encorajaram a expectativa de forte competitividade e incerteza eleitoral. Braide, embora contando com apenas três partidos de médio porte, tem a vantagem da liderança em todas as pesquisas de intenção de voto, taxa de rejeição relativamente baixas (8,9%) e, sobretudo, elevada aprovação ao seu governo (cerca de 70%), impulsionada pela conhecida estratégia de realizar muitas e visíveis obras no último ano de governo.

 

 

Por sua vez, Duarte conta com ampla coligação de 12 partidos, incluindo os de maior porte, orquestrada ainda nos tempos em que Flávio Dino liderava a política estadual; além de muitos partidos, tem o apoio do governador do estado, Carlos Brandão (PSB) e da maioria de deputados estaduais e federais e a quase totalidade dos vereadores de São Luís.

 

 

A distribuição do tempo de propaganda no rádio e TV totalmente favorável a Duarte (seis minutos contra dois de Braide) tem sido mitigada pelo fato do prefeito competir no exercício do cargo, com todos os benefícios favorecidos por esta condição, ainda mais quando se trata de um governo bem avaliado.

 

 

Pesquisas estimuladas do Instituto Datailha apontam que Braide vem mantendo praticamente o dobro das intenções de Duarte: 49,8% contra 24,5% em agosto de 2024; 56,1% a 23,6%, em julho de 2024 e 47,7% a 22,7% em fevereiro de 2024, configurando um quadro de consistente favoritismo.

 

 

Registre-se, porém, no levantamento mais recente, queda de 6% no apoio à reeleição de Braide, fato que certamente está ligado à denúncia doescândalo do Clio vermelho”, episódio de descoberta e apreensão de um carro de familiares do prefeito, abandonado, em 30/07, por um ex-assessor de Braide com mais de um milhão de reais em dinheiro, sendo o veículo de propriedade de familiares do prefeito.

 

 

A insistente divulgação deste episódio, inclusive com inserções em programas nacionais da Rede Globo, como Jornal Nacional e Fantástico, e sua intensa veiculação em noticiários locais e no horário eleitoral de Duarte ampliaram a repercussão negativa do caso. Os impactos, porém, parecem ter batido no teto, pois recente pesquisa do Instituto Quaest, realizada entre 6 e 8 de setembro, apresenta Braide com 60% das intenções de voto e Duarte com apenas 21%, sinalizandouma finalização da disputa já no primeiro turno.

 

 

A disputa tem girado, da parte de Braide, em torno da sua gestão à frente da prefeitura, notadamente obras de pavimentação e urbanização, organização do trânsito, obras na área da saúde, e saneamento das finanças municipais.

 

 

Da parte de Duarte, sobressai o destaque ao seu perfil pessoal, mostrado como de um vencedor, que passou de vendedor a gestor bemsucedido do PROCONMA e deputado federal; também investe em denúncias de corrupção contra Braide e sua família, fala da precariedade dos serviços públicos municipais, notadamente na área da saúde e transporte e destaca benefícios dirigidos a São Luís através de suasemendas parlamentares.

 

 

Polarização ideológica parece estar longe do horizonte de ambos: Braide tem sua coligação de partidos de direita, todos vinculados ao Centrão, mas não faz disso uma bandeira. Muito menos Duarte, cuja heterogênea frente de apoio vai do PT ao PL; é fato que aciona bastante a imagem e discursos de Lula, mas o faz enfatizando possibilidades de parcerias entre governos municipal e federal.

 

 

Polarização extrema direita versus esquerda adentrou na campanha através de Yglésio (PRTB), que repercute vídeo recebendo apoio de Bolsonaro, na expectativa de ser a opção para o eleitorado de direita, como se deu com a adesão da deputada estadual Mical Damasceno, devotada bolsonarista na política estadual que, mesmo sendo do partido de Braide, apoia Yglésio, cuja candidatura, entretanto, nunca ultrapassou2,5% de intenção de voto (Datailha).

 

 

Franklin (PSOL) e Saulo (PSTU) têm cumprido um papel mais ideológico e programático, colocando em debate problemas cruciais da cidade, como o novo plano diretor e a degradação ambiental, denunciando o descaso de gestores municipais e estaduais em relação a esses problemas.

 

 

Além disso, usam suas campanhas para incentivar a participação no plebiscito sobre gratuidade dos transportes coletivos para estudantes, que acontecerá junto às eleições. As demais candidaturas, Fábio Câmara (PDT), Flávia Alves (Solidariedade) e Wellington (NOVO), plausivelmente, cumprem o papel de se projetarem na cena política e se apresentarem como agentes estratégicos em eventual segundo turno da disputa.

 

 

Há menos de um mês das eleições, o persistente favoritismo do prefeito pode ser explicado por vários fatores, entre os quais a avaliação positiva de seu governo e a relativamente elevada taxa de rejeição (14,7%) de seu principal adversário, Duarte, cuja campanha parece modesta em relação ao tamanho e peso dos seus apoiadores.

 

 

Acrescente-se que o apoio do governador a Duarte precisa ser relativizado em pelo menos dois sentidos: a aprovação ao próprio governo estadual não é das melhores (48,2%, segundo o Datailha) e São Luís não tem um histórico de seguir o comando do governador nas eleições, ao contrário, seu histórico é de rebeldia nesse sentido.

 

 

Braide é filho de família tradicional na política maranhense, palaciana desde os tempos dos Sarney. Duarte se fez um político bemsucedido por si mesmo e com notável velocidade, mas não se fez sem o decisivo apoio de agentes bem estabelecidos, que passam por Flávio Dino e desaguam nessa ampla coligação que o apoia. Nestas condições,independentemente do desfecho eleitoral, o cenário que se descortina para a eleição ludovicense tem fortes doses decontinuísmo político.

 

 

(* )Arleth Santos Borges é cientista política e professora da UFMA (Universidade Federal do Maranhão). Ela é coordenadora do LEGAL (Laboratório de Estudos Geopolíticos da Amazônia Legal) no Maranhão. Este artigo é parte das análises produzidas pelo Observatório das Eleições 2024, iniciativa do Instituto da Democracia e da Democratização da Comunicação (INCT IDDC).Equipe coordenada pela professora e pesquisadora Luciana Santana.


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